quinta-feira, 25 de abril de 2013

O mundo dos indignos parindo a luta dos indignados
Por Bernardo Corrêa, militante do MES-PSOL (Presidente do PSOL-Porto Alegre)

A burguesia, porém, não forjou somente as armas que lhe darão morte; produziu também os homens que manejarão essas armas – os operários modernos, os proletários.
Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e que só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital.

- K. Marx e F. Engels

O mais recente impulso à reprodução ampliada de capital dos últimos trinta anos, que é a descoberta da microeletrônica e a utilização da internet para além de âmbitos militares, se converte, no presente, em uma arma na mão de novas gerações “indignadas” com suas condições de vida. A alta capacidade de comunicação que estas novas tecnologias poduziram, trouxeram dois fenômenos novos (contraditórios e marcados objetivamente por condições distintas) para o conjunto da sociedade que merecem ser observados.

Por um lado, do ponto de vista do capital e das próprias relações sociais que se desenvolvem a partir de sua reprodução, a internet foi importante para novas formas de distribuição das mercadorias (p.ex: a distribuição just-in-time de automóveis), um “inchaço” de oferta de serviços, associado a um impulso tecnológico brutal no âmbito da produção, produto da utilização da microeletrônica. Os ganhos que a burguesia obteve a partir deste impulso residem, ao mesmo tempo em terrenos políticos – veja-se o alcance da hegemonia neoliberal e a crise pela qual passam as organizações operárias e mesmo a ideia de socialismo no movimento de massas –, como também em terreno material, econômico. A partir da conjunção entre a derrota do trabalho (na política e no chão-de fábrica, a partir de acumulação intensiva), o reimpulso das forças produtivas, a financeirização do capital e sua mundialização através dos oligopólios, o tempo de giro do capital acelerou-se e garantiu desde o início do anos 1980 até 2007 níveis de acumulaçã

o de capital fenomenais. Este cenário objetivo, foi a base material para o florescer de ideologias que reatualizaram prática e teoricamente os tempos áureos do liberalismo. Em tempos de crescimento isso reproduz uma consciência individualista inevitavelmente. Com a crise, tudo se desacomodou.

Do ponto de vista do trabalho, também estas inovações tecnológicas aumentaram a produtividade do trabalho (que é sempre produtiva a quem domina, portanto em disputa) e as condições para a comunicação entre os povos. Em certa medida, aproximaram-se as fronteiras do mundo, assim como a velocidade de circulação das informações. Contraditoriamente durante todo um período nestes últimos trinta anos foi marcante a atomização dos sujeitos, sendo a própria internet o instrumento que viabilizou um certo isolamento coletivo, uma solidão em redes. Muitos intelectuais de plantão morderam a isca e logo bombaredearam as livrarias com tomos infindáveis sobe o quanto a sociedade “pós...” funciona em redes, é líquida, que acabaram as classes, que a comunicação deveria ser vista de forma ontológica etc. De pronto, alguns passaram a bradar que o Estado já não teria preponderância na dominação das corporações e que já não se deveria mais lutar pelo poder.

O fato é que quando as forças produtivas entram em contradição com as relações de produção, tudo que é sólido desmancha-se no ar. O que não é sólido, como essas teorias líquidas, perde qualquer potência heurística, a história é implacável com os modismos pequeno-burgueses. Com a crise, Karl Marx bateu recordes nas livrarias inglesas e venceu o Barão de Münchausen e seus vendedores de ilusões.

O novo período inaugurado com a crise de 2008, abriu um processo importante de retomada dos referenciais coletivos e as próprias redes sociais, a partir das revoluções do mundo árabe, deram canal a uma indignação encapsulada. A crise econômica que agravou a situação de miséria do norte da África iniciou um processo de rebeliões que se estende pela Europa, chegou a Israel e que influencia a consciência de milhões de jovens e trabalhadores epalhados por todo o planeta. Ou seja, a crise e seus desdobramentos econômicos, sociais e ecológicos expõem o fracasso do modelo vigente, mas só a luta de classes em seu desenvolvimento político e revolucionário poderá construir uma superação substantiva.

O novo período inaugurado com a crise não se explica na estagnação do desenvolvimento das forças produtivas somente, mas também coloca em um novo patamar as lutas democráticas, econômicas e entre as classes. Os de cima tem mais dificuldades em sua dominação, os debaixo começam a não querer mais as representações dos de cima, uma parte do povo age independentemente de seus governos, mas, todavia, ainda não chegamos a um grau de consciência e organização que permita superar a ausência de um programa que unifique as dimensões democráticas e econômicas no movimento de massas. Ainda não superamos a crise do socialismo e o trauma de sua degeneração estalinista.

Como consequência, é decisivo que da luta se produza uma direção política postulada à disputa do poder. Ser parte ativa das mobilizações, buscar organizar a indignação e construir esse horizonte são as tarefas mais importantes do presente. Oa grandes oligopólios e seus governos terão de dar espostas concretas à sua própria demanda de acumulação, passar o custo da crise para a classe trabalhadora, reformular sua política econômica e a radiografia do mercado mundial, mas, para isso, certamente terão que diminuir as margens de manobra das históricas conquistas democráticas e do próprio regime democrático burguês. Isso está expresso no anúncio do governo britãnico em intervir nas redes sociais e na repressão a la Pinochet do governo Piñera no Chile. Enquanto o povo das praças exige uma Democracia Real, nossos inimigos tentam apagar o incêndio com mais gasolina.

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