sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

ATENÇÃO, ELEITOR DO DF: OLHE BEM EM QUEM VOCÊ VOTA PARA DEPUTADO E SENADOR !!!

É com alegria que inauguramos a coluna sobre conjuntura econômica do Distrito Federal  com o economista Rodrigo Ávila.


VÁRIOS PARLAMENTARES DO DF VOTAM NÃO AO AUMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO PARA R$ 600
 
DEPUTADOS
VOTAÇÃO DO AUMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO DE R$ 545 PARA R$ 600
(Dia 16/2/2011, Emenda nº 1)
Erika Kokay
PT
NÃO
Policarpo (Suplente de Paulo Tadeu)
PT
NÃO
Reguffe
PDT
NÃO
Izalci
PR
NÃO
Ricardo Quirino (Suplente de Luiz Pitiman)
PRB
NÃO
Ronaldo Fonseca
PR
NÃO
Jaqueline Roriz
PMN
Ausência justificada:     Atendimento a Obrigação Político-Partidária 
Augusto Carvalho
PPS
SIM
















terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Economia e o dinheiro do trabalhador: a Burguesia e o Governo Lula/Dilma

Curso  PSOL – MES/DF
Ministrado no dia 19/2/2011


1 – A LUTA DE CLASSES
 No mundo e no Brasil, a luta de classes – entre a burguesia e os trabalhadores – é a característica do capitalismo. Esta luta de classes existe por um fator muito simples: quanto maior o lucro do empresário, menor é o salário dos trabalhadores.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

NOVA TEMPORADA DA ÓPERA DE RUA

Já estão definidas as datas da Temporada 2011 do Grupo Ópera de Rua de Brasília, com reapresentações do Auto do Pesadelo de Dom Bosco, de Jorge Antunes. Com apoio do FAC-DF, o espetáculo ao ar livre será apresentado em 10 cidades do Distrito Federal, de 30 de abril a 5 de junho, todos os sábados e domingos às 16h00.

A Ópera de Rua Auto do Pesadelo de Dom Bosco faz o público rir, protestar, vaiar e acompanhar a criatividade e a irreverência do compositor e maestro Jorge Antunes. Trata-se de um protesto político-cultural bem-humorado, inspirado na tragicômica situação da política de Brasília. Jorge Antunes, motivado pelos vídeos em que deputados recebem propina, e por fatos como a compra de bezerras de ouro e a doação de panetones, concebeu a ópera em forma de cordel na qual os corruptos são julgados pelo povo.

A música, mistura de linguagens medievais e nordestinas, guia o julgamento entoado por um coro popular após a defesa dos acusados. Ainda não é certo, mas Antunes pensa em acrescentar mais um personagem à ópera. Seria um nobre: H. Siél Maya, Cavaleiro da Ordem dos Sarneyentos.

Eis o roteiro da nova temporada:

30 de abril- Recanto das Emas (Skate Park)
1º de maio- Samambaia (Estacionamento da Feira Permanente)
7 de maio- Ceilândia Sul (Praça do Restaurante Comunitário)
8 de maio- Taguatinga Centro (Praça do Relógio)
14 de maio- Guará (Praça da Administração)
15 de maio- Cruzeiro (Estacionamento da Feira Permanente)
28 de maio- Sobradinho (Feira da Lua)
29 de maio- Planaltina (Praça em frente ao Museu)
4 de junho- Santa Maria (Praça da Administração)
5 de junho- Gama (Praça do Cine Itapoã)

O libreto completo está em:
http://www.americasnet.com.br/antunes/opera-de-rua

Confira a reportagem da TV Globo de março de 2010 no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=E7Jje9VM_VU

Bem Vindos ao Blog PSOL/MES-DF

É com imensa alegria que inauguramos esta nova ferramenta de comunicação entre nós e os leitores que não se contentam apenas com as informações manipuladas da imprensa burguesa.

Neste tempo de traições e  confusão política em que vivemos, onde partidos que se dizem dos trabalhadores votam e defendem, com unhas e dentes,  o salário mínimo que mais convém ao patrão, o PSOL, busca dar um pouco de luz aos debates que realmente interessam à classe trabalhadora e à juventude.

O Movimento Esquerda Socialista, MES, corrente interna do PSOL, defende a inserção dos socialistas que não se venderam aos interesses do governo e das classes dominantes, no processo de luta direta impulsionada pelo povo e a classe trabalhadora em defesa dos seus interesses e necessidades mais imediatas. Portanto esta nova ferramenta que hoje inauguramos, não virá para substituir estes importantes métodos de pressão social, que são a mobilização, as greves, e os levantes populares que reivindicam melhores condições de vida para o povo pobre e esquecido das periferias da nossa cidade, mas para melhor contribuir no desenvolvimento e na unidade dessas lutas.

Em 2010 o PSOL deu o tom nas eleições do Distrito Federal, acumulando cerca de 15% do eleitorado. Significa que, no meio da podridão da corrupção e da traição política, nosso partido desponta como alternativa real de poder. E o nosso papel como militantes e dirigentes é continuar e aprofundar o contato direto com os setores mais sofridos da sociedade, em busca de uma nova forma de fazer política contribuindo, dessa forma, para a construção de uma nova consciência, forjada no dia-a-dia junto ao povo, que ajude a perceber quais são seus verdadeiros aliados na luta pela conquista de melhores condições de vida. 

A nossa diferença com os partidos traidores é que sabemos, e queremos, que estas lutas só serão vitoriosas, se travadas até o fim.

Não é na vitória de um governo comprometido que estas lutas acabam. Pelo contrário, é quando elas começam para valer!

Enrique Morales – Dirigente PSOL/MES-DF

21 de fevereiro 2011: 163 anos da 1ª publicação do Manifesto do Partido Comunista

O Blog PSOL/MES-DF homenageia os fundadores do Socialismo Científico: Karl Marx e Friedrich Engels pelos 163 anos da 1ª publicação do Manifesto do Partido Comunista!

Quatro dias na Tunísia: “Bem-vindo à revolução”

Tive a sorte de poder passar quatro dias em Túnis, a cidade onde se iniciou a revolução árabe, enviado pelo PSOL; sem dúvida uma experiência inesquecível, talvez a mais intensa e rica que vivi, maior que a queda da ditadura na Argentina ou o Cordobazo no mesmo país. Cheguei em domingo, e cedo, na manhã seguinte me encontrei com Jabel, um revolucionário que passou uma década no exílio e várias mais militando na clandestinidade. Ele é dirigente da Liga de Esquerda Operária, integrante do Movimento 14 de Janeiro. Quando apareceu no lobby do hotel, entre tímido e respeitoso eu o estendi a mão; ele a tomou com um gesto emotivo para dar-me um forte abraço e me dizer “camarada, seja bem-vindo a revolução”.

 Desde a minha chegada ao aeroporto já estava sentindo a revolução. Quando saí do setor de imigração me deparei com o setor de desembarque cheio de manifestantes. Não vieram saudar um time de futebol ou algum artista famoso, como seria comum em manifestações nos aeroportos. Estavam lá para receber vários defensores de direitos humanos, entre eles um jornalista que havia sido deportado em 2008 por seu programa de defesa de direitos humanos. Eram várias dezenas de famílias com cartazes e com crianças na primeira fileira, segurando bandeiras, habitantes de uma cidade do interior da Tunísia.  Quando apareceram na porta do hall ele irrompeu de gritos e júbilo. Ali tive a primeira sensação de que era uma revolução que havia sacudido todos os cantos do país. Essa impressão continuou quando peguei um taxi para procurar um hotel. O taxista me perguntou por que eu havia vindo e como me apresentei como jornalista e socialista brasileiro, me disse que me levaria a um hotel bom e barato na Av. Burguiba, o centro das mobilizações, onde eu poderia trabalhar comodamente. Cobraria-me os três euros da viagem se o hotel estivesse em condições para que pudesse fazer meu trabalho, se não, continuaria comigo até que encontrasse um alojamento adequado sem cobrar-me um euro. Fez questão de ir por uma avenida para me mostrar como havia ficado a sede principal do partido de Ben Alí, um prédio monumental localizado no meio de um grande terreno, no estilo dos ministérios de Brasília, que teve uma parede e um grande portão derrubados pelos manifestantes. Assim revolução tunisiana começou a me receber antes de eu me encontrar com Jabel.

A simpatia com a América Latina

O diálogo com Jabel foi imediatamente fluido. Ele estava interessadíssimo em iniciar contato com revolucionários latino americanos. Não só por que admirava Che Guevara; ele havia acompanhado os processos de queda das ditaduras da Argentina e do Brasil nos anos 1980 e, mais recentemente, os processos bolivarianos. Nos dias seguintes entendi melhor seu interesse pela América Latina que é parte de um sentimento generalizado presente na revolução árabe. O povo simpatiza com Evo e Chávez pelas posições assumidas com relação à causa palestina, questão muito presente na revolução. Enquanto também observa o Brasil com simpatia, por que o sentimento de nação que surge com a revolução, de ruptura com o imperialismo europeu e norteamericano, -que os dominaram política e economicamente-, os leva também a observar com uma perspectiva econômica a atual ascensão do Brasil como exemplo do que poderia ser seu próprio desenvolvimento.

Jabel contou que a revolução tinha um caráter nacional e que todo o povo havia participado. Destacou, dentro disso, o papel dos trabalhadores. Explicou como os professores, que possuem um sindicato nacional, haviam cumprido um papel importante nas tarefas e na extensão da revolução.  Ele havia estado no sábado, em uma cidade do interior na qual havia assistido a uma manifestação popular que reuniu mais de 10 mil pessoas. Nela, como em toda Túnisia, existem edifícios públicos ocupados por jovens e trabalhadores, especialmente as sedes confortáveis do partido de Ben Alí.

O povo na ofensiva
Em sua primeira fala foi pouco entusiasta com a frente de partidos do movimento 14 de Janeiro que sua Liga integra. Com razão ele falou que alguns grupos como os nasseristas e os socialistas pan-árabes são somente figuras públicas com um número pequeno de pessoas. Contudo, salienta que o Movimento 14 de Fevereiro é uma perspectiva real, um lugar no qual deve-se estar para ser parte do processo. No sábado anterior a minha chegada havia sido realizado um ato do movimento. O local havia sido previsto para duas mil pessoas, mas se aglomeraram mais de oito mil, mais uma constatação da situação revolucionária em que se vive.

Trocamos opiniões sobre o que a revolução havia conquistado e as perspectivas que a Assembleia Constituinte tinha. É muito fácil perceber que todo o povo se sente orgulhoso e participou da derrubada de Ben Alí e a vê como um grande triunfo. “Tiramos do presidente ladrão que havia roubado meio país”, nos dizia orgulhosa uma tunisiana.“  Agora bem, se  olha só pelas mudanças ocorridas para o regime, poderia se dizer que a mudança foi muito parcial, já que até agora o governo atual de Ganuchi mantém a polícia que foi a coluna vertebral do velho regime, o exercito e muitos personagens do mesmo. Deste ponto de vista, seria necessário mediar o que foi esse triunfo.

Mas, esse novo governo está na defensiva e as mudanças de conquistas democráticas são já irreversíveis.  A situação revolucionária não se fechou. A relação de forças depois da derrubada de Ben Alí é totalmente favorável ao povo. Isso se vive nas ruas, que estão nas mãos do povo. A polícia e o exercito estão em alguns lugares escondidos defendendo ministérios, estão encurralados e protegidos por vales e arame farpado, enquanto o povo se manifesta todos os dias sem nenhum medo ao seu lado. Agora está nas ruas por reivindicações econômicas, há muitas greves operárias e mobilizações permanentes na Av. Burguiba da juventude desempregada. O povo se sente triunfante por ter derrubado Ben Alí e seus quarenta ladrões.

Ghanouchi se mantém por que prometeu eleições em seis meses e começou a dar legalidade aos partidos políticos opositores. 31 partidos já se apresentaram e só são necessárias algumas assinaturas e formalidades para que sejam reconhecidos. Entre eles está o Partido Comunista Operário da Tunísia que também participa do Movimento 14 de Fevereiro e tem origem na tradição albanesa. Diferente do Partido Comunista “oficial”, que não enfrentava a ditadura e que participa, com ministros, desde o primeiro governo formado por Ben Alí, o PCOT tem uma longa trajetória de luta contra a ditadura. O dirigente Mohamed contou para mim com orgulho que durante 20 anos mantiveram sua imprensa clandestina regularmente e que tem grande interesse de manter relações com os socialistas brasileiros.

Tarefas concretas de solidariedade

Das conversas surgiu a proposta de uma grande reunião internacional de solidariedade com a revolução árabe convocada pelo Movimento 14 de Fevereiro; uma reunião ampla para apoiar o programa dessa organização que inclui, entre outros pontos, uma Assembleia Constituinte. Demonstramos nosso interesse em uma ação desse tipo que seguramente convocaria muitas correntes socialistas e democráticas antiimperialistas do mundo.

Na terça-feira participei de uma reunião com a direção da Liga de Esquerda Operária. Além de Jabel, participaram quatro militantes, todos dirigentes sindicais do sindicato de correios e telecomunicações, dos professores e dos trabalhadores da justiça. 

Logo após as apresentações, conversamos sobre a conjuntura e as possibilidades que foram abertas com ela. Uma nova crise revolucionária que acabe com o governo de Ghanouchi e imponha a Assembléia Constituinte ou a realização de novas eleições daqui a seis meses. Evidentemente a Liga está empurrando com todas as forças pela primeira saída mas eles mesmos sabem que a segunda não pode ser descartada. Seja qual forem as perspectivas, a liga está decidida a formar um novo partido amplo com todos os novos ativistas e militantes que conheceram no curso da revolução. Um novo partido anticapitalista no estilo do PSOL. Um dos companheiros colocou as coisas se forma muito precisa no sentido de manter uma colaboração com o PSOL, para que ajude nessa tarefa. Sem pensar duas vezes oferecemos toda nossa colaboração para essa tarefa que apresentaram. A conclusão prática foi a organização de um giro de uma semana de um de seus dirigentes no Brasil para difundir a revolução árabe e para poder obter fundos para abrir sedes e levar adiante a construção de um novo partido.

O povo da Tunísia deu muito de si para fazer essa revolução árabe. Já deixou mais de duzentos mortos. O povo brasileiro tem que reconhecer e apoiar essa grande obra que sem dúvidas vai mudar o mundo em que vivemos.

Pedro Fuentes
Secretaria de Relações Internacionais PSOL

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Elementos da posição do MES sobre a Estratégia da Esquerda

Reivindicado o objetivo da construção de uma sociedade cujo homem não seja o lobo do próprio homem, não há como pensar seriamente na conquista desse objetivo sem a elaboração de uma estratégia. E a estratégia não se realiza sem a combinação de uma série de táticas. São essas questões que ocupam ao longo das décadas o debate entre reformistas e revolucionários.

Sempre tensionado por esse conflito, o PT não conseguiu resolver corretamente essas questões do ponto de vista da revolução. A posição reformista, majoritária no núcleo de direção partidária, acabou se impondo com cada vez mais força. De partido da classe trabalhadora com forte influência política, teórica, cultural e socialista, converteu-se num partido da ordem, defensor do capitalismo. Cada vez mais abertamente reformista, terminou defendendo o reformismo sem reformas. Foi a experiência de um projeto que se converteu em seu contrário.

Pretender esgotar a maneira como se desenvolveu esse processo seria muita pretensão. Há razões que, de qualquer forma, saltam à vista. As bases objetivas dessas transformações podem ser encontradas no longo refluxo dos anos 90, na ascensão do neoliberalismo, com a reestruturação produtiva, debilitamento do movimento operário industrial no Brasil, tudo isso na esteira da queda do muro de Berlim e na quebra das esperanças de milhões de pessoas no mundo todo, na perspectiva de superação do capitalismo. Tudo isso pesou fundo. São razões objetivas, porém não explicam tudo. O PT teve uma base teórica equivocada num ponto pouco discutido, e que deve ser encarado para que se extraiam conclusões de uma experiência que não se pode negar como repleta de lições. Vejamos passo a passo.

O PT partiu de uma definição certa: a importância das eleições no Brasil desde sua fundação até os dias atuais. Em particular, desde 1989 a disputa presidencial tem sido, aos olhos do movimento de massas, o momento mais importante – a rigor, apenas nesses períodos isso ocorreu na história recente do país – de disputa em que a questão do poder está colocada. O PT adotou as eleições como prioridade de sua atuação. Mas dessa decisão resolveu mal um problema determinante: a relação entre as eleições e a insurreição ou a força física das classes em confronto.

Se no início o PT pôde realizar a combinação entre os movimentos sociais e a participação eleitoral, onde então esteve o equívoco político e teórico que permitiu mudanças tão bruscas em relativamente tão pouco tempo? Há alguma relação entre as formulações históricas do PT e sua política após assumir o governo? Seguindo na mesma pista, visualiza-se um elemento de continuidade entre a origem do PT e seu curso atual, mostrando a evolução do partido. Sua ruptura com o seu passado, assim, encontraria uma explicação teórica num ponto de continuidade para que o partido esteja atravessando o rubicão, para usar a mesma expressão de Lênin referindo-se ao dirigente alemão Karl Kautsky. Sua base também está na vacilação acerca da natureza do Estado, vacilação presente desde o início na vida do PT.

Já no manifesto de fundação do PT, de fevereiro de 1980, afirmava-se que “o país só será efetivamente independente quando o Estado for dirigido pelas massas trabalhadoras. É preciso que o Estado se torne a expressão da sociedade, o que só será possível quando se criarem as condições de livre intervenção dos trabalhadores nas decisões de seus rumos. Por isso, o PT pretende chegar ao governo e à direção do Estado para realizar uma política democrática…”

Parece uma questão menor, sem importância, mas não é. Sobre essa definição está a base da confusão, ou melhor, do “desvio” que já embutia uma acomodação do PT no regime político democrático-burguês. Quer dizer, o objetivo do partido foi desde o início a mudança do Estado, não sua destruição, como Marx, Engels e Lênin definiam a tarefa estratégica dos revolucionários. Ficava evidente que o partido adotava uma estratégia que não percebia o Estado como expressão da sociedade na qual a burguesia é a classe dominante, de tal forma que a derrota desse Estado, avalista e garantia do domínio burguês, era necessário para derrotar a dominação de classe. E para mudar o Estado, a utilização da cédula eleitoral pode ser suficiente.

Mesmo no V Encontro Nacional do PT realizado em 1987, momento em que teoricamente as posições partidárias estiveram mais próximas de uma estratégia socialista, a confusão também esteve evidenciada. Na análise da correlação de forças entre as classes, as teses aprovadas sustentavam que não existia nenhuma possibilidade de uma crise revolucionária no país, descartando, portanto, a luta pelo poder dos trabalhadores como tarefa do período. Contraditoriamente, as teses assumiam a possibilidade do PT chegar ao governo pela via eleitoral e, desde o governo, aplicar seu programa de ruptura com o capitalismo. Do ponto de vista político, isso foi a essência do que mais tarde ficou conhecido como programa democrático e popular.

Assim, o partido assumia como possível a aplicação de um programa de ruptura com o capitalismo aplicado por um governo eleito nos limites do regime democrático burguês e descartando, apesar disso, a eclosão de uma crise revolucionária. A hipótese de vitória eleitoral de Lula de fato esteve colocada em 1989, e o programa continha medidas de ruptura com o capitalismo dependente e subdesenvolvido. Mas tal hipótese não implicaria, necessariamente, na tentativa de aplicar tal programa, porque não estava garantido que uma vitória de Lula significaria de fato a aplicação do programa de ruptura. O compromisso de Lula nunca foi seguro. Em segundo lugar, caso Lula tratasse de aplicar o programa petista de 1987, ou mesmo o apresentado na campanha de 1989, as classes dominantes renunciariam o terreno legal, e a arma da disputa entre as classes estaria distante de resumir-se à utilização da cédula eleitoral. Estaríamos diante da realização da hipótese tática da II Internacional, avalizada por Engels, antes do giro do oportunista.

Logo, ou a perspectiva da crise revolucionária e da luta revolucionária pelo poder estaria colocada como tarefa presente, mesmo que fosse logo após as eleições, com a burguesia rompendo sua própria legalidade, ou o programa do V Encontro não sairia do papel, do terreno das intenções declaradas nos debates partidários. Em ambos os casos, estaria confirmada a posição marxista acerca da impossibilidade de uma transformação radical da sociedade sem o enfrentamento violento com as classes dominantes, sem o enfrentamento contra o Estado burguês e, portanto, sem situação ou crise revolucionária, por mais que as eleições pudessem jogar um papel de primeira ordem na tática da disputa. Dessa armação contraditória – impossibilidade de crise revolucionária e a possibilidade de aplicação de um programa de ruptura, anticapitalista, pela via eleitoral -, fortaleceram-se as ilusões constitucionais, a idéia de viabilidade de mudanças profundas com a mera vitória eleitoral.

No caso concreto, a maioria da direção do PT, ao defender a estratégia de mudar o Estado, não de derrotá-lo, acabou mantendo-se nos limites da ordem capitalista. Vendo as questões mais de perto, cabe ver o que Lukács dizia sobre esse tema. “A grande diferença entre marxistas revolucionários e oportunistas pseudomarxistas, é que os primeiros consideram o Estado capitalista exclusivamente como fator de poder contra o qual há que mobilizar a força do proletariado organizado, ao passo que os segundos concebem o Estado como uma instituição acima das classes, cuja conquista é o objetivo da luta de classes do proletariado e da burguesia. Mas ao conceber o Estado como objetivo do combate e não como adversário na luta, estes últimos colocam-se já, em espírito, no terreno da burguesia: têm assim a batalha meio perdida antes mesmo de a terem começado. Com efeito, toda a ordem estatal é jurídica (a ordem capitalista mais que todas), se baseia, em última análise, no fato de que sua existência e a validade de suas regras não levantem nenhum problema e sejam aceitos como tais.” (História e consciência de classe, 1974, p. 243) Ainda segundo Lukács, a transgressão dessas regras, em casos particulares, não acarreta em qualquer perigo especial para a manutenção do Estado.

Vale uma última palavra sobre a relação entre eleições, programa e confronto social. A experiência da América Latina tem demonstrado que se pode ganhar eleições e promover profundas mudanças no Estado de natureza progressista. Em geral, não chegam a destruir o Estado burguês e construir um Estado democrático de novo tipo. Mas mudam questões fundamentais e, pelo menos nas experiências concretas de Venezuela, Equador e Bolívia, conquistam regimes políticos qualitativamente mais avançados. Concretamente, todos esses países se tornaram independentes do imperialismo. Mas se iludem aqueles que acreditam que essas mudanças se deram pela mera utilização da cédula eleitoral. Não há como explicar o fenômeno do chavismo sem o Caracazo, levante popular que produziu um trauma social, com mais de 4 mil mortos. Desde 1989, as massas populares do país caribenho lutaram para dar o troco nas classes dominantes. A vitória eleitoral de Hugo Chávez foi produto direto desse ascenso sustentado ao longo de uma década. No Equador, ocorreram várias insurreições antes da vitória de Rafael Correa. Na Bolívia, também antes de vencer nas urnas, os camponeses, populares e mineiros venceram nas ruas a repressão do regime burguês. Ou seja, nesses países os processos eleitorais foram fundamentais, mas se combinaram com fortes lutas sociais, com ação direta e confrontos. Todos eles atravessaram situações e crises revolucionárias. Para isso que devem se preparar todos os que almejam reais mudanças também no Brasil.

Qualquer outra perspectiva significa desconhecer a natureza das reações contra as mudanças políticas substanciais. Significa atribuir um caráter pacifista e reformista para a chamada tática do desgaste da II Internacional, estruturalmente muito difícil de ser realizada em nosso país, com pouquíssima tradição de democracia burguesa e, sobretudo, com alto grau de violência social e política, esta promovida pelas classes dominantes. A possibilidade aberta em 1989 foi uma exceção, desdobramento do desconcerto burguês diante da crise da superinflação e do desgaste da Nova República. Uma surpresa para todos. Uma situação similar não pode ser descartada no futuro. Mas trabalhar por essa hipótese, para que de fato seja exitosa, significa trabalhar para que o movimento de massas tenha capacidade de resposta e de ofensiva no terreno da força social, política e militar.

O programa democrático e popular no seu aspecto político terminou assumindo uma posição etapista. Seu grave erro foi desconsiderar duas questões determinantes: a) somente poderosas lutas sociais, confrontos de classe e o poder dos trabalhadores podem realizar um plano de emergência popular; b) a burguesia é opositora radical desse programa. Por isso é preciso preparar-se para os confrontos inevitáveis antes, durante e depois da conquista do poder dos trabalhadores.

Tendo essa questão clara, pode-se atuar aplicando todas as táticas, inclusive hierarquizando a disputa eleitoral presidencial como uma prioridade da política partidária. Tal hierarquia, com a compreensão marxista da relação entre as eleições e a necessidade da força social física das classes trabalhadoras como condição indispensável para a vitória e, sobretudo, para a aplicação de um real programa democrático e anticapitalista, reafirma, e não debilita nem desvia da estratégia central e permanente dos marxistas revolucionários, a defesa da mobilização de massas para construir outro regime político. Um regime de natureza democrática, controlado pela população, cujo poder econômico não domine o político e, portanto, sofra uma forte intervenção pública numa transição de uma economia de mercado para uma economia social, a serviço da maioria da população.