quarta-feira, 6 de março de 2013

Viva Chávez, o comandante da Revolução Bolivariana
Por Luciana Genro
Chávez em Porto Alegre, durante o Fórum Social Mundial de 2003.
PT não convidou, Chávez queria vir. Luciana Genro e 
Roberto Robaina organizaram a vinda de Chávez ao Fórum, para uma palestra na Assembléia Legislativa. Foi um dos maiores eventos daquele Fórum. "Fizemos história!", Luciana Genro
Era janeiro de 2003. Estava completando meu segundo mandato de deputado estadual e tinha sido eleita deputada federal pela primeira vez. Articulamos na direção do MES, ainda no PT, uma proposta de convidar Hugo Chavez para vir ao Brasil. Estávamos articulando com a embaixada da Venezuela, eu e Roberto Robaina, tratando de mostrar que no Brasil havia um setor da esquerda organizada que queria saudar e seguir o caminho da revolução bolivariana. A direção do Forum Social Mundial, influenciada pela cúpula do PT, não queria convidar Chavez para vir a Porto Alegre. Mas apesar disso ele decidiu vir e atendeu nosso convite. Fizemos um grande ato na Assembléia Legislativa. Um ato militante, emocionante, com milhares de ativistas dizendo Presente! O discurso de Chavez nao poderia ter sido melhor: indicou o caminho da luta, da libertação, da revolução. Fazia alguns meses que o povo da Venezuela havia derrotado um golpe de estado patrocinado pela burguesia da Venezuela, incentivado pelo governo dos EUA e apoiado pela mídia brasileira, em especial para Rede Globo e pela Veja. Esta atividade que logramos realizar é um dos nossos maiores orgulhos. Estivemos lado a lado com Hugo Chavez, o herdeiro de Simon Bolívar, o libertador. Seguiremos lutando para honrar esta herança.

Agora a morte de Chávez provoca tristeza e apreensão em todos os socialistas. A importância da Venezuela e de Chávez para nossa luta é enorme. Sua figura marcou todo o continente nas últimas décadas. A Venezuela tornou-se um país independente, seu projeto nacionalista e bolivariano foi de enfrentamento com o imperialismo e com os velhos partidos e a direita venezuelana. Seu exemplo foi uma inspiração para todos os lutadores.
Ao saber da morte de Chávez o filósofo esloveno Slavoj Zizek, em Porto Alegre para uma conferência promovida pela Fundação Lauro Campos e pela Boitempo Editora, disse: “ Todos amam as favelas e os marginalizados, mas poucos querem vê-los mobilizados politicamente. Hugo Chávez entendia isso, agiu nesse sentido desde o começo e, por este motivo, deve ser lembrado.”
Sem dúvida, o protagonismo político do povo pobre da Venezuela nunca foi tão grande como nos anos Chávez. Aliás, o próprio surgimento de Chávez já foi resultado deste protagonismo, que explodiu no famoso Caracazo em 1989. Chávez só manteve-se no poder por tanto tempo graças a esta mobilização popular, que inclusive derrotou um golpe das elites empresariais em12 de abril de 2002. Acusado de ditador, nenhum país teve mais processo eleitorais do que a Venezuela de Chávez. Sob permanente cerco da burguesia local e internacional, ao contrário de Cuba que fechou o regime para sobreviver, na Venezuela a oposição sempre teve todos os seus direitos políticos preservados. Esta sim, golpista, tentou derrotar Chávez no tapetão com o golpe e com lock outs, mas não levou, graças a mobilização popular.
Eu mesma estive na Venezuela como observadora internacional das eleições, e ao subir os morros de Caracas pude ver com meus próprios olhos a força de um povo ainda muito pobre mas consciente, politizado, atento aos seus direitos, pronto para lutar por eles e defender suas conquistas com unhas e dentes.
Uma das grandes diferenças entre Chávez e Lula é essa: embora ambos sejam líderes carismáticos, o primeiro usou seu carisma para mobilizar o povo, incitou-o a organizar-se, a lutar , a enfrentar o imperialismo, a protagonizar a Revolução Bolivariana. Já Lula usou seu carisma para aquietar o seu povo, para convencê-lo a aceitar a lógica burguesa da política, a corrupção e até a retirada de direitos sociais, como ocorreu na reforma da previdência comprada com o mensalão.
Este mérito de Chávez é extraordinário. É claro que existem problemas. Os burocratas e pró burgueses estão infiltrados em todos os lados, inclusive na Revolução Bolivariana. Com a morte de Chávez eles tendem a se fortalecer. A corrente política venezuelana Marea Socialista, integrante do PSUV e com a qual mantemos uma estreita relação, tem sido uma importante voz em defesa do processo, sempre apresentando propostas para aprofundá-lo.
Com certeza agora se abre uma nova etapa, muito mais difícil, para garantir que se avance no rumo socialista e se construa uma Venezuela definitivamente independente. Tenho a certeza que o povo venezuelano está apto a ser protagonista desta luta.
Para isso, como disseram os companheiros de Marea Socialista em um recente comunicado: “Estão equivocados os que crêem que os rumores, a especulação, o desabastecimento e a carestia se resolve deixando quieto aos que tem que se mover. Para cumprir o Golpe de Timão que pediu Chávez, é preciso ativar de maneira urgente ao povo bolivariano para que como em abril de 2002 e na luta contra a sabotagem, se faça sentir a fúria da Revolução”.
Luciana Genro

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