quarta-feira, 20 de junho de 2012

Juventude e eleições: é hora de ocupar a política

Por Naiady Piva*, PSOL Curitiba

Manifesto de contribuição à pré-candidatura a vereador de Wagner, da juventude do PSOL Curitiba
Velhos senhores engravatados, sentados em uma bancada. Com uma associação de moradores, uma rádio comunitária ou uma igreja embaixo do braço. É este o retrato da política exercida por quem tem o monopólio de exercê-la. Como existem as exceções que confirmam a regra, a própria institucionalidade permite a inclusão de elementos que fogem a ela. É o caso de mulheres, jovens e figuras que rompem com o protocolo de maneira não necessariamente politizado. Todos incluídos, figurando ao lado dos senhores donos da casa.


É esta a política cujo futuro está em jogo no próximo 7 de outubro, quando todas as brasileiras e brasileiros serão obrigados a comparecer à sua sessão eleitoral para as eleições municipais. Esta imagem coloca àqueles que buscam transformar a realidade social um primeiro desafio, o de mostrar que não passa de uma cortina de fumaça a ideia de que a política se dá exclusivamente no espaço da institucionalidade. E é esta ilusão enraizada na sociedade que permite que os aspectos cotidianos da luta cotidiana passem sem ser percebidos como tais.
Aos jovens, cabe o papel de espectadores do mundo. Consumidores de cultura, transeuntes das ruas movimentadas dos grandes centros, a caminho de suas 44h semanais de empregos informais ou precarizados; nunca agentes de transformação social. São cidadãos de uma geração em que, mais do que nunca, o valor de individualismo (marca constante do capitalismo) ganha força. Se considerar-se jovem a faixa até 29 anos, dentre os votantes para o pleito deste ano tem-se os nascidos entre 1983 e 1996. Pode parecer uma grande amplitude, mas são todos filhos de um mesmo tempo histórico, de uma geração que não viu o nascimento do Partido dos Trabalhadores ou a queda da ditadura civil-militar brasileira e que cresceu sob o consenso de que Margareth Tatcher estava correta e “não há alternativa”: não há alternativa para gerenciar o capital que não o neoliberalismo; e não há alternativa de ordem social que não o capitalismo. Os mais velhos desta geração tinham lá seus seis anos de idade quando Collor de Mello, o símbolo do início do neoliberalismo brasileiro foi eleito. Os mais jovens nasceriam apenas sete anos depois.
A política na juventude por anos cumpriu o papel de ser, entre outras coisas, um espaço de socialização e sociabilidade. Hoje é vista como nada mais que a política tradicional sendo exercida por representantes jovens. A sociabilidade e organização desta geração, por sua vez, deslocou-se para o polo “apolítico“ da sociedade, seja ele religioso, esportivo ou cultural.
Resumindo, ganhar a juventude para a política cumpre o duplo papel: o de convencer que aquilo que já mobiliza milhões de jovens de ponta a ponta no país pode cumprir um papel transformador da sociedade, papel que deve estar articulado a um projeto de mudança; e o de ocupar por si só o espaço da política tradicional, ressaltando-se que não há espaços vazios na política, portanto todo vácuo que não for ocupado por uma movimento organizado, será ocupado por oportunistas de plantão que se constroem politicamente alicerçados exatamente na despolitização.
E quem deve liderar este processo? Quem deve convencer a juventude da necessidade de que ela se incorpore e dispute este processo se não ela própria? A quem cabe o papel de estabelecer a relação intrínseca entre a chamada “micro” política e o desenvolvimento da sociedade como um todo se não àquela parcela da juventude que orienta sua militância a partir de uma compreensão totalizante da sociedade?
Parecem ponderações óbvias, mas elas surgem aqui por um simples motivo: será que a juventude socialista está convencida dessa sua necessidade? Talvez abstratamente sim. Mas o tempo histórico impõe uma questão cuja resposta é um tanto quanto complicada: como materializar isto? É uma dificuldade oriunda não apenas da falta de experiência individual, mas da necessidade do conjunto da esquerda ressignificar a relação entre a militância social e a participação nas eleições após a experiência de sucesso eleitoral e fracasso organizativo do PT pós 2002. E a solução só pode ser encontrada na prática: fazendo campanha.
Este receio tem um sentido histórico: com a teoria da pinça, de que o movimento social e a disputa da institucionalidade caminhariam juntas com o mesmo peso, o Partido dos Trabalhadores não levou em conta (ou não se importou com) o peso e a capacidade de cooptação da institucionalidade. A política não é um jogo de xadrez, em que as peças possuem um equilíbrio simétrico e dependem apenas do jogador. Por duas décadas a esquerda brasileira convenceu-se e convenceu boa parte da sociedade brasileira que, com o poder do voto, viria a transformação radical em prol de uma sociedade justa. Ela não veio, e disso segue-se a frustração. E é em parte isso, e em parte a vitória conservadora da ideologia neoliberal que constroem as bases de uma não aceitação à instituição partidos políticos (e, por consequência, a tudo que é considerado a política “tradicional”).
Os desafios são muitos: como aceitar aquilo que é progressista nesta negação e rejeitar seu lado conservador? Como levantar a bandeira de ocupar a política e não ser por ela ocupado? O que responder a um movimento que cobra que a militância não se incorpore à agenda do debate eleitoral?
Dois exemplos no cenário internacional são singulares neste sentido. O primeiro é o caso da Espanha, país em que milhares de jovens indignados ocuparam as praças em 2011 em defesa de “democracia real já”. Descrentes (com razão) do sistema democrático burguês, o movimento não quis se “sujar” com o processo eleitoral e assistiu a uma vitória histórica nas urnas da direita chefiada por Mariano Rajoy, que tem implementado cortes drásticos na economia sob o argumento de “reconstruir a Espanha”. Derrota do movimento.
De maneira oposta, o recente exemplo grego mostra um Syriza no qual temos que nos inspirar. As repercussões das grandes mobilizações de estudantes gregas já eram anunciadas no Brasil em época de luta contra o Reuni, há mais de quatro anos atrás. Desde então o povo grego não saiu das ruas, das praças e universidades. Movimento que colocou o partido Syriza em destaque internacional ao alcançar 16% nas eleições parlamentares em maio deste ano, impediu que as elites locais conseguissem formar um governo e colocou os olhos e garras da burguesia mundial em cima da Grécia. Nas eleições de junho, o partido conservador Nova Democracia levou com 29% contra 26% do Syriza. Derrota nas urnas, mas vitória do movimento: a pressão nas ruas foi para as urnas, sem que a esperança institucional substituísse a luta popular.
A partir da reflexão destes dois exemplos atuais e da experiência passada do PT, fica para a esquerda socialista brasileira a necessidade latente de se relocalizar. Nesta última década em que a crítica à institucionalidade do PTismo ganhou alguma força (ainda que fraca), a melhor resposta dada pelo movimento é de que a participação eleitoral não pode inviabilizar a construção do movimento. É uma resposta correta em sentimento, mas insuficiente na prática. Porque na hora de esta ideia materializar-se, a verdade é que a campanha é deixada de lado.
Mas se o sentimento é correto, a questão é refinar a resposta. Como construir uma campanha sem que ela se sobreponha ao movimento? Na prática, isso talvez consista em deixar tarefas do movimento de lado, mas a campanha fortalece o movimento na medida em que ambos se complementam na construção de uma militância que faz questão de não acreditar que o voto é que transforma a sociedade, mas entende que a mobilização eleitoral é fundamental.
Outro debate que é necessário para conseguirmos escapar da sedutora dicotomia “ajudar/atrapalhar o movimento” é a compreensão de que a tarefa dos socialistas é a de fazer uma disputa massiva da sociedade, atuando por várias frentes. A eleição é, para muitos jovens, o único espaço em que o debate político ocorre. É um espaço que existe e, infelizmente, não depende de nossa vontade. Se não for ocupado pela esquerda socialista, sem dúvidas o será por Derossos, Ratinhos, Bolsonaros e Malufs.
Passou da hora: da juventude ocupar a política e fazer uma opção. E esta opção é o PSOL.
*Naiady Piva é membro do Diretório Estadual do PSOL/PR

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.