Juventude e eleições: é hora de ocupar a política
Por Naiady Piva*, PSOL Curitiba
Manifesto de contribuição à pré-candidatura a vereador de Wagner, da juventude do PSOL Curitiba
Velhos
senhores engravatados, sentados em uma bancada. Com uma associação de
moradores, uma rádio comunitária ou uma igreja embaixo do braço. É este o
retrato da política exercida por quem tem o monopólio de exercê-la.
Como existem as exceções que confirmam a regra, a própria
institucionalidade permite a inclusão de elementos que fogem a ela. É o
caso de mulheres, jovens e figuras que rompem com o protocolo de maneira
não necessariamente politizado. Todos incluídos, figurando ao lado dos
senhores donos da casa.
É
esta a política cujo futuro está em jogo no próximo 7 de outubro, quando
todas as brasileiras e brasileiros serão obrigados a comparecer à sua
sessão eleitoral para as eleições municipais. Esta imagem coloca àqueles
que buscam transformar a realidade social um primeiro desafio, o de
mostrar que não passa de uma cortina de fumaça a ideia de que a política
se dá exclusivamente no espaço da institucionalidade. E é esta ilusão
enraizada na sociedade que permite que os aspectos cotidianos da luta
cotidiana passem sem ser percebidos como tais.
Aos jovens,
cabe o papel de espectadores do mundo. Consumidores de cultura,
transeuntes das ruas movimentadas dos grandes centros, a caminho de suas
44h semanais de empregos informais ou precarizados; nunca agentes de
transformação social. São cidadãos de uma geração em que, mais do que
nunca, o valor de individualismo (marca constante do capitalismo) ganha
força. Se considerar-se jovem a faixa até 29 anos, dentre os votantes
para o pleito deste ano tem-se os nascidos entre 1983 e 1996. Pode
parecer uma grande amplitude, mas são todos filhos de um mesmo tempo
histórico, de uma geração que não viu o nascimento do Partido dos
Trabalhadores ou a queda da ditadura civil-militar brasileira e que
cresceu sob o consenso de que Margareth Tatcher estava correta e “não há
alternativa”: não há alternativa para gerenciar o capital que não o
neoliberalismo; e não há alternativa de ordem social que não o
capitalismo. Os mais velhos desta geração tinham lá seus seis anos de
idade quando Collor de Mello, o símbolo do início do neoliberalismo
brasileiro foi eleito. Os mais jovens nasceriam apenas sete anos depois.
A
política na juventude por anos cumpriu o papel de ser, entre outras
coisas, um espaço de socialização e sociabilidade. Hoje é vista como
nada mais que a política tradicional sendo exercida por representantes
jovens. A sociabilidade e organização desta geração, por sua vez,
deslocou-se para o polo “apolítico“ da sociedade, seja ele religioso,
esportivo ou cultural.
Resumindo,
ganhar a juventude para a política cumpre o duplo papel: o de convencer
que aquilo que já mobiliza milhões de jovens de ponta a ponta no país
pode cumprir um papel transformador da sociedade, papel que deve estar
articulado a um projeto de mudança; e o de ocupar por si só o espaço da
política tradicional, ressaltando-se que não há espaços vazios na
política, portanto todo vácuo que não for ocupado por uma movimento
organizado, será ocupado por oportunistas de plantão que se constroem
politicamente alicerçados exatamente na despolitização.
E quem deve
liderar este processo? Quem deve convencer a juventude da necessidade de
que ela se incorpore e dispute este processo se não ela própria? A quem
cabe o papel de estabelecer a relação intrínseca entre a chamada
“micro” política e o desenvolvimento da sociedade como um todo se não
àquela parcela da juventude que orienta sua militância a partir de uma
compreensão totalizante da sociedade?
Parecem
ponderações óbvias, mas elas surgem aqui por um simples motivo: será
que a juventude socialista está convencida dessa sua necessidade? Talvez
abstratamente sim. Mas o tempo histórico impõe uma questão cuja
resposta é um tanto quanto complicada: como materializar isto? É uma
dificuldade oriunda não apenas da falta de experiência individual, mas
da necessidade do conjunto da esquerda ressignificar a relação entre a
militância social e a participação nas eleições após a experiência de
sucesso eleitoral e fracasso organizativo do PT pós 2002. E a solução só
pode ser encontrada na prática: fazendo campanha.
Este receio
tem um sentido histórico: com a teoria da pinça, de que o movimento
social e a disputa da institucionalidade caminhariam juntas com o mesmo
peso, o Partido dos Trabalhadores não levou em conta (ou não se importou
com) o peso e a capacidade de cooptação da institucionalidade. A
política não é um jogo de xadrez, em que as peças possuem um equilíbrio
simétrico e dependem apenas do jogador. Por duas décadas a esquerda
brasileira convenceu-se e convenceu boa parte da sociedade brasileira
que, com o poder do voto, viria a transformação radical em prol de uma
sociedade justa. Ela não veio, e disso segue-se a frustração. E é em
parte isso, e em parte a vitória conservadora da ideologia neoliberal
que constroem as bases de uma não aceitação à instituição partidos
políticos (e, por consequência, a tudo que é considerado a política
“tradicional”).
Os
desafios são muitos: como aceitar aquilo que é progressista nesta
negação e rejeitar seu lado conservador? Como levantar a bandeira de
ocupar a política e não ser por ela ocupado? O que responder a um
movimento que cobra que a militância não se incorpore à agenda do debate
eleitoral?
Dois
exemplos no cenário internacional são singulares neste sentido. O
primeiro é o caso da Espanha, país em que milhares de jovens indignados
ocuparam as praças em 2011 em defesa de “democracia real já”. Descrentes
(com razão) do sistema democrático burguês, o movimento não quis se
“sujar” com o processo eleitoral e assistiu a uma vitória histórica nas
urnas da direita chefiada por Mariano Rajoy, que tem implementado cortes
drásticos na economia sob o argumento de “reconstruir a Espanha”.
Derrota do movimento.
De
maneira oposta, o recente exemplo grego mostra um Syriza no qual temos
que nos inspirar. As repercussões das grandes mobilizações de estudantes
gregas já eram anunciadas no Brasil em época de luta contra o Reuni, há
mais de quatro anos atrás. Desde então o povo grego não saiu das ruas,
das praças e universidades. Movimento que colocou o partido Syriza em
destaque internacional ao alcançar 16% nas eleições parlamentares em
maio deste ano, impediu que as elites locais conseguissem formar um
governo e colocou os olhos e garras da burguesia mundial em cima da
Grécia. Nas eleições de junho, o partido conservador Nova Democracia
levou com 29% contra 26% do Syriza. Derrota nas urnas, mas vitória do
movimento: a pressão nas ruas foi para as urnas, sem que a esperança
institucional substituísse a luta popular.
A
partir da reflexão destes dois exemplos atuais e da experiência passada
do PT, fica para a esquerda socialista brasileira a necessidade latente
de se relocalizar. Nesta última década em que a crítica à
institucionalidade do PTismo ganhou alguma força (ainda que fraca), a
melhor resposta dada pelo movimento é de que a participação eleitoral
não pode inviabilizar a construção do movimento. É uma resposta correta
em sentimento, mas insuficiente na prática. Porque na hora de esta ideia
materializar-se, a verdade é que a campanha é deixada de lado.
Mas
se o sentimento é correto, a questão é refinar a resposta. Como
construir uma campanha sem que ela se sobreponha ao movimento? Na
prática, isso talvez consista em deixar tarefas do movimento de lado,
mas a campanha fortalece o movimento na medida em que ambos se
complementam na construção de uma militância que faz questão de não
acreditar que o voto é que transforma a sociedade, mas entende que a
mobilização eleitoral é fundamental.
Outro
debate que é necessário para conseguirmos escapar da sedutora dicotomia
“ajudar/atrapalhar o movimento” é a compreensão de que a tarefa dos
socialistas é a de fazer uma disputa massiva da sociedade, atuando por
várias frentes. A eleição é, para muitos jovens, o único espaço em que o
debate político ocorre. É um espaço que existe e, infelizmente, não
depende de nossa vontade. Se não for ocupado pela esquerda socialista,
sem dúvidas o será por Derossos, Ratinhos, Bolsonaros e Malufs.
Passou da hora: da juventude ocupar a política e fazer uma opção. E esta opção é o PSOL.
*Naiady Piva é membro do Diretório Estadual do PSOL/PR
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo comentário.