terça-feira, 5 de junho de 2012

Metalúrgicos em greve: Quando Niterói cruzou os braços

Por Israel Dutra, de Niterói(RJ)

No último dia 30 de Maio, numa controversa assembléia, a categoria metalúrgica de Niterói e região deflagrou sua greve. Apesar das manobras sujas do sindicato, o conjunto dos trabalhadores rejeitou a proposta de aumento de 7,5 % que o Sinaval[Sindicato patronal] oferecia.
A indústria naval foi uma das que mais cresceu no último período. Na contramão da maior parte do setor industrial, que apresentou retração no último período,  o setor naval apontou expressivo crescimento. Isso está ilustrado pela expansão nacional, pela criação de novos estaleiros e pelo aumento e incremento da frota de navios de grande porte. Tanta prosperidade, porém, passa longe do bolso do trabalhador.
O sindicato, acostumado com negociações fechadas e acordos rebaixados, tentou fazer com que a história se repetisse. Os trabalhadores, por sua parte, perderam a paciência, furiosos, quase invadiram a sede do sindicato, a fim de restituir a democracia e pressionar por negociações transparentes e com melhores resultados.


O dia seguinte à assembléia surpreendeu a todos. Nem o ativista mais otimista esperava que a maior parte dos estaleiros parasse naturalmente.  Uma passeata de cerca de 2 mil trabalhadores tomou às ruas de Niterói. Novamente, conflito e confusão causadas pelo sindicato, que sequer apareceu nos piquetes, nas portas das empresas.
A greve seguiu forte na sexta feira, mobilizando, segundo a imprensa quase 4 mil operários, das fábricas Mauá, STX, Renavi, Enaval, Aliança, UTC, entre outras, espalhadas nas três regiões fabris da cidade[ Contorno, Ponta D’areia e Ilha da Conceição].  Já se comenta que é a maior greve em duas décadas.
Na segunda, dia 4 de junho, apesar do assédio moral, os piquetes se mantiveram firme, parando cerca de 85 % da produção nos diferentes estaleiros. A pauta de reivindicações segue firme, com o pedido de 16% de aumento, vale refeição de 350 reais, plano de saúde, auxílio-creche, melhores condições e segurança no trabalho, além do aumento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR)

Brasil, um país de ...greves
Ao contrário da falsa estabilidade que os meios de comunicação tentam transmitir, a realidade é que a crise social se agrava. Além dos escândalos políticos, da corrupção de Cachoeira e Cabral, o país tem assistido a uma onda de greves. Se no ano passado, foram as rebeliões nas obras do PAC, especialmente Jirau e Santo Antonio,  e a luta dos bombeiros do Rio que marcaram o caminho, este ano outros setores cruzaram os braços e saíram às ruas.  Apesar da derrota da greve unificada da segurança pública, os operários do Comperj(Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) fizeram uma greve de longa duração; rodoviários de várias cidades, aqui no Rio, Niterói; metroviários de São Paulo que arrancaram conquistas com a greve de um dia que paralisou a principal cidade do Brasil; Agora temos a forte greve das universidades federais, que unifica docentes, servidores e estudantes. Várias greves tem lugar entre os educadores.
A rotina de greves é um fato no Brasil. Os metalúrgicos de Niterói abrem mais um capítulo nesta dinâmica. Sua vitória significará um sinal claro para várias categorias no país, ampliando as condições de conquista e dando mais confiança à classe. Por isso é uma greve tão importante.

Está surgindo uma nova direção
A greve está sendo acompanhada por uma nova vanguarda. Quem tem se posicionado e garantido os piquetes são companheiros da Oposição Metalúrgica- SOS Metalurgicos, chapa formada pela vanguarda que luta nos estaleiros, com cipeiros e lideranças representativas. A greve tem sido apoiada pela Unidos Para Lutar, Intersindical e Conlutas, além do papel exemplar que cumpre o SINTUFF(Sindicato dos trabalhadores da UFF).
O sentimento na base é de democracia real dentro do movimento operário. Ao contrário do que fez o sindicato nos últimos 15 anos, onde sua burocratização levou a posições de colaboração direta com os patrões. A CUT está sem qualquer apoio naquela categoria que foi pioneira na filiação a Central- foi o primeiro sindicato fluminense a se filiar a CUT.
A nova geração de lutadores está expressa nas falas do companheiro Júnior da STX [um dos cipeiros mais votados, diretor de base do sindicato e um dos líderes da oposição] que afirmou hoje na assembléia “ temos que nos unir para enfrentar os patrões. Com apenas dez dias de trabalho para a restauração e produção de um tipo de navio, poderíamos pagar quase o dobro da PLR para a companheirada: está greve é histórica, depois de muitos anos a classe levanta a cabeça. A gente não sabia a força que tem”.
A greve está sendo apoiada também por delegações da Intersindical e da Unidos Pra Lutar- Químicos de São José; Radiologistas do Estado de SP; Bancários de Santos; Químicos de Campinas e região. Surgem novas lideranças no movimento operário.
A greve está em curso. Com muitas dificuldades, os patrões fazem de tudo para evitar uma vitória da categoria. Nos próximos dias, teremos negociações e uma audiência de conciliação na justiça. A vitória desta dura batalha é fundamental. Os metalúrgicos de Niterói sabem que podem contar apenas com a sua força e a da solidariedade de classe. E sabem que sua arma mais poderosa é a greve. Lições de braços cruzados.

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