Metalúrgicos em greve: Quando Niterói
cruzou os braços
Por Israel Dutra, de Niterói(RJ)
No último dia 30 de Maio, numa controversa assembléia, a
categoria metalúrgica de Niterói e região deflagrou sua greve. Apesar das
manobras sujas do sindicato, o conjunto dos trabalhadores rejeitou a proposta
de aumento de 7,5 % que o Sinaval[Sindicato patronal] oferecia.
A indústria naval foi uma das que mais cresceu no último
período. Na contramão da maior parte do setor industrial, que apresentou
retração no último período, o setor
naval apontou expressivo crescimento. Isso está ilustrado pela expansão
nacional, pela criação de novos estaleiros e pelo aumento e incremento da frota
de navios de grande porte. Tanta prosperidade, porém, passa longe do bolso do
trabalhador.
O sindicato, acostumado com negociações fechadas e acordos
rebaixados, tentou fazer com que a história se repetisse. Os trabalhadores, por
sua parte, perderam a paciência, furiosos, quase invadiram a sede do sindicato,
a fim de restituir a democracia e pressionar por negociações transparentes e
com melhores resultados.
O dia seguinte à assembléia surpreendeu a todos. Nem o ativista mais otimista esperava que a maior parte dos estaleiros parasse naturalmente. Uma passeata de cerca de 2 mil trabalhadores tomou às ruas de Niterói. Novamente, conflito e confusão causadas pelo sindicato, que sequer apareceu nos piquetes, nas portas das empresas.
A greve seguiu forte na sexta feira, mobilizando, segundo a
imprensa quase 4 mil operários, das fábricas Mauá, STX, Renavi, Enaval,
Aliança, UTC, entre outras, espalhadas nas três regiões fabris da cidade[
Contorno, Ponta D’areia e Ilha da Conceição]. Já se comenta que é a maior greve em duas
décadas.
Na segunda, dia 4 de junho, apesar do assédio moral, os
piquetes se mantiveram firme, parando cerca de 85 % da produção nos diferentes
estaleiros. A pauta de reivindicações segue firme, com o pedido de 16% de
aumento, vale refeição de 350 reais, plano de saúde, auxílio-creche, melhores
condições e segurança no trabalho, além do aumento da Participação nos Lucros e
Resultados (PLR)
Brasil, um país de ...greves
Brasil, um país de ...greves
Ao contrário da falsa estabilidade que os meios de
comunicação tentam transmitir, a realidade é que a crise social se agrava. Além
dos escândalos políticos, da corrupção de Cachoeira e Cabral, o país tem assistido
a uma onda de greves. Se no ano passado, foram as rebeliões nas obras do PAC,
especialmente Jirau e Santo Antonio, e a
luta dos bombeiros do Rio que marcaram o caminho, este ano outros setores
cruzaram os braços e saíram às ruas.
Apesar da derrota da greve unificada da segurança pública, os operários
do Comperj(Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) fizeram uma greve de longa
duração; rodoviários de várias cidades, aqui no Rio, Niterói; metroviários de
São Paulo que arrancaram conquistas com a greve de um dia que paralisou a
principal cidade do Brasil; Agora temos a forte greve das universidades
federais, que unifica docentes, servidores e estudantes. Várias greves tem
lugar entre os educadores.
A rotina de greves é um fato no Brasil. Os metalúrgicos de Niterói
abrem mais um capítulo nesta dinâmica. Sua vitória significará um sinal claro
para várias categorias no país, ampliando as condições de conquista e dando
mais confiança à classe. Por isso é uma greve tão importante.
Está surgindo uma
nova direção
A greve está sendo acompanhada por uma nova vanguarda. Quem
tem se posicionado e garantido os piquetes são companheiros da Oposição Metalúrgica-
SOS Metalurgicos, chapa formada pela vanguarda que luta nos estaleiros, com
cipeiros e lideranças representativas. A greve tem sido apoiada pela Unidos Para
Lutar, Intersindical e Conlutas, além do papel exemplar que cumpre o
SINTUFF(Sindicato dos trabalhadores da UFF).
O sentimento na base é de democracia real dentro do
movimento operário. Ao contrário do que fez o sindicato nos últimos 15 anos,
onde sua burocratização levou a posições de colaboração direta com os patrões.
A CUT está sem qualquer apoio naquela categoria que foi pioneira na filiação a
Central- foi o primeiro sindicato fluminense a se filiar a CUT.
A nova geração de lutadores está expressa nas falas do
companheiro Júnior da STX [um dos cipeiros mais votados, diretor de base do
sindicato e um dos líderes da oposição] que afirmou hoje na assembléia “ temos
que nos unir para enfrentar os patrões. Com apenas dez dias de trabalho para a
restauração e produção de um tipo de navio, poderíamos pagar quase o dobro da
PLR para a companheirada: está greve é histórica, depois de muitos anos a
classe levanta a cabeça. A gente não sabia a força que tem”.
A greve está sendo apoiada também por delegações da Intersindical
e da Unidos Pra Lutar- Químicos de São José; Radiologistas do Estado de SP;
Bancários de Santos; Químicos de Campinas e região. Surgem novas lideranças no
movimento operário.
A greve está em curso. Com muitas dificuldades, os patrões
fazem de tudo para evitar uma vitória da categoria. Nos próximos dias, teremos
negociações e uma audiência de conciliação na justiça. A vitória desta dura batalha
é fundamental. Os metalúrgicos de Niterói sabem que podem contar apenas com a
sua força e a da solidariedade de classe. E sabem que sua arma mais poderosa é
a greve. Lições de braços cruzados.
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