quinta-feira, 12 de julho de 2012

Impressões do primeiro debate
Por ROBERTO ROBAINA, candidato do PSOL 50 para Prefeito de Porto Alegre/RS

A Rádio Gaúcha e a TV COM realizaram o primeiro debate das eleições. Ocorreu no primeiro dia de campanha, na sexta-feira pela manhã. Foi um mérito em si mesmo ter organizado este momento democrático, já que nesta oportunidade todos tiveram
exatamente o mesmo espaço na disputa. Estes momentos de debates, aliás, são os únicos em que as condições de disputa são realmente iguais para todos.



No dia seguinte, à noite, já vi com meus próprios olhos o peso dos recursos econômicos desequilibrando a disputa a favor de máquinas partidárias que aceitaram virar gerentes dos negócios capitalistas. Passando de carro pela Praia de Belas vi uma família pintando um enorme muro com o nome do vereador Comasseto e Villaverde, ambos do PT. Era uma família bem pobre, incluindo na pintura os filhos, o casal e todos visivelmente castigados por uma vida dura, evidentemente sem vínculos políticos de identidade com o partido do governo federal e estadual.

E é claro que a cobertura democrática da RBS limitou-se ao momento do debate. Depois seguiu sua linha levada adiante até o momento: privilegiando os candidatos do campo governista, Fortunati, Manuela e Villaverde.

Durante o debate tive a chance de observar e interagir com os candidatos que, como eu, trabalharão para conquistar o voto dos cidadãos de Porto Alegre. Não vou neste espaço fazer um balanço global deste evento. Me chamou a atenção, mas não me surpreendeu, que Manuela estivesse com seu discurso pronto. Tinha preparado cada fala. Não havia improviso nem mesmo em seus gestos. Não estou aqui criticando nada, mas constatando um determinado movimento político. Quando lhe perguntei como ela se considerava de esquerda se tinha ficado durante meses buscando a aliança com o PP, o partido herdeiro da ditadura militar e cuja experiência administrativa mais recente foi o comando na fraude milionária do Detran durante o governo de Yeda Crusius, ela respondeu quase que no automático, não ficou vermelha, nem aparentou nervosismo, cunhando a profunda frase de que a ideologia não contamina. Tive que escutar quieto, sem poder dizer: então tá. Sua candidatura foge do imprevisto, da improvisação, como se a política estivesse mais para a representação e para o teatro do que para as dificuldades do dia a dia, os conflitos da história, a luta, o imprevisível. O sucesso de Manuela tem que ser diretamente proporcional à passividade da ação política das pessoas. Esta é a única possibilidade de que não exista uma pressão para que esta deputada-candidata não precise ter a mínima coerência e possa se proclamar de esquerda e, ao mesmo tempo, aliada da direita.

Não vou comentar muito sobre a situação de Villaverde. A pressão existente no PT para que ele retire a candidatura ou já declare apoio ao nome de Manuela num eventual segundo turno parecia pesar sobre ele. Creio que sua falta de força é pelo fato do próprio Villaverde não poder resistir de modo autêntico a este tipo de pressão. Sua adesão de muitos anos a ala do PT comandada por José Dirceu lhe retira legitimidade para defender qualquer perspectiva de um PT de luta que não existe mais. A derrota do nome de Raul Pont em detrimento do nome de Villaverde na disputa interna parece ter sido o símbolo do suspiro final da esquerda petista. Manuela tratou Villaverde como um parceiro. Alguns dos meus amigos disseram que foi como um assessor.

Por fim, Fortunati passou o debate defendendo obras que ele acaba de anunciar, como se a hora fosse a da reapresentação de promessas que já deveriam ter sido executadas. A definição simples de um governo deste tipo é: trata-se de um mau governo. Quando o tema saúde se evidenciava, inclusive no momento em que defendi a proposta do PSOL para a saúde (contratação de médicos, de enfermeiros, aumento dos postos de saúde, abertura dos postos no final de semana e a noite, combate à corrupção e a falta de investimento), percebi que Fortunati travava a língua quando tinha que cobrar as medidas que o governo estadual do PT e do PC do B não adotam. Sua língua travava no Secretário da Saúde estadual, também como ele, integrante do PDT. A aliança do PDT com Tarso lhe impediu de cobrar que o governo estadual não tem cumprido sequer sua obrigação constitucional com a saúde. Depois de cobrar que a prefeitura permitiu a corrupção que desviou 10 milhões da saúde municipal, lembrava, enquanto escutava a réplica de Fortunati, que o vice de Manuela, o vereador Nelcir Tessaro, foi quem entrou na justiça contra a CPI da saúde e impediu a investigação desta fraude. Fortunati não lembrou de seu antigo aliado, agora vice de Manuela.

Por tudo isso vou seguir perguntando nos próximos debates: afinal, por que razão Villaverde, Manuela e Fortunati disputam entre si o poder municipal se defendem juntos o mesmo modelo e o mesmo governo no Estado e no país? E vou insistir ainda para que as pessoas não se deixem enganar pela falsa oposição ao governo municipal. Os que já governam o Estado e o país, se ainda não melhoraram a situação de Porto Alegre é porque seus projetos não respondem, de verdade, aos interesses de nosso povo.

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