Marcelo Freixo e a Primavera Carioca: um olhar sobre a pesquisa Datafolha
Por Israel Dutra - Sociológo e da Direção Nacional do PSOL, em Roberto Robaina 50 PSOL Prefeito
Foi divulgada a primeira pesquisa eleitoral para a prefeitura municipal do Rio de Janeiro. Parte de uma rodada nacional de enquetes, o Instituto Datafolha publicou os números acerca do Rio de Janeiro. Após um estranho silêncio de vários institutos (a última pesquisa tinha sido divulgada em dezembro de 2011), enfim, temos uma primeira sondagem de opinião, passados quinze dias do começo da campanha.
Antes de mais nada, julgo necessário estabelecer um critério objetivo para as análises deste tipo de pesquisa, tão importantes no atual modelo eleitoral brasileiro. Brizola dizia com todas as letras que não confiava em pesquisas, tornando-se um emblema das manipulações escondidas na suposta exatidão dos dados. Por outro lado, seria uma postura casuísta acreditar nas pesquisas favoráveis a nossos candidatos e desmerecer, simplesmente, as que indicam cenários ruins. Dito isso, penso que as pesquisas devem ser encaradas como uma “fotografia”, muito particular do momento eleitoral, que guarda sempre níveis de distorção – a própria distorção é anunciada em critérios de margem de erro e intervalo de confiança, do ponto de vista estatístico. O tamanho da “distorção” também pode ser medido com a tradição e o nível de relação com os interesses das elites locais que o instituto carrega. No caso brasileiro, lamentavelmente, a história de manipulações não é pouca. Para além disso, a presente pesquisa do Datafolha, apresenta um cenário razoável, até certo ponto, crível. Dentro deste espaço, temos que vincular alguns dados, mais expressivos, para sacarmos conclusões sobre a primeira fotografia da disputa eleitoral.
O que diz a pesquisa eleitoral?
A pesquisa apresenta o seguinte cenário do ponto de vista das respostas estimuladas:
Paes 54%; Freixo10%; Rodrigo Maia 6%; Otavio Leite 4; Demais candidatos Aspásia, Cyro, Antonio, Siqueira, tem 1% cada um. As intenções de votos Nulos/Brancos/Nenhum somam 14%; entre os que não sabem definir-se ou não responderam temos 8%.
Os números que mais chamam a atenção, contudo, são os que dizem respeito à rejeição e ao nível de conhecimento dos eleitores sobre os candidatos.
No quesito “rejeição”, Rodrigo lidera com 31%, seguido de Paes (20%) e Otávio Leite [16%]. Isso contrasta com os índices de Freixo: apenas 9% do eleitorado rejeitam seu nome como candidato.
O outro elemento que deve ser destacado é o fato de que, ao contrário de Paes, conhecido por 99% do eleitorado, por óbvio. Marcelo Freixo é conhecido por metade deste número: apenas 50%!
Isto reporta oportunidade e claro, uma imensa responsabilidade, como tarefa adicional. Dos que conhecem Freixo, 20% o apoia diretamente. O fato de que Freixo não seja tão conhecido pode ser explicado por vários aspectos: seu eleitorado ainda tem maior densidade nas regiões mais centrais do ponto de vista sociológico (zona sul, região central e Tijuca, a saber); o controle que setores vinculados à milícia tenta exercer sobre importantes concentrações eleitorais, sobretudo na Zona Oeste; o fato de não ter começado uma maior cobertura de rádio e TV na campanha (tanto no horário eleitoral quanto nos meios de comunicação centrais como O Globo, RJTV e outros); e claro, a utilização indevida que Paes faz da sua imagem como “candidato-prefeito”.
As potencialidades da campanha Freixo, expostas já na suas primeiras semanas, sob o emblema do que está sendo chamada de “Primavera Carioca” estão claras: o sentido participativo e mobilizado do ativismo voluntário e o fato de que parcelas significativas da sociedade civil seguem se engajando. Não apenas artistas consagrados como Caetano, Chico, Wagner Moura, Dira Paes, Gil entre tantos de uma constelação plural, e sim, representações vivas como lideranças comunitárias, setores da cultura e das mídias alternativas, lideranças de sindicatos como o dos engenheiros e dos médicos; centenas de militantes petistas de base, bem como a velha guarda brizolista e setores de vários cores ideológicas e partidárias, de suas bases.
Esta é a tarefa que se desprende da pesquisa: tornar Freixo conhecido, suas propostas, programa e apoiadores para a metade do Rio que ainda não “entrou” na campanha.
O que não diz a pesquisa eleitoral?
A tentativa inicial de Paes de estabelecer uma polarização com Maia, sabendo de sua rejeição se mostrou infundada, nos dados da realidade. Ainda que as cúpulas partidárias que sustentam Paes sigam com esta “armadilha”, ela como hipótese perde força: Freixo é o segundo e o que tem mais viabilidade e potencial de crescimento. Queira Paes ou não.
A pesquisa também não fala das eleições passadas. O fenômeno “Chico” em 1996 é o exemplo mais ilustrativo: saindo com 6%, oscilando até para 4% em algumas pesquisas, Chico Alencar, chegou a 21%, ficando fora do segundo turno por “mínimos detalhes”. Ao contrário dos anos noventa, a unilateralidade da conformação do “humor” do eleitorado é menor. As redes sociais podem e devem dar vazão a sentidos que escapam, muitas vezes, a percepção das grandes mídias. Alguém duvida que se existisse o facebook, o resultado do fenômeno “Chico/96″ poderia ser outro?
Enfim, os dados começam a ser lançados. A campanha de Marcelo Freixo está tomando as ruas, as redes e os corações dos cariocas. Ainda falta muito, e as máquinas são poderosas. O ativismo da primavera carioca deve se multiplicar, organizar e se espalhar por todas as zonas da cidade.
Já começamos. Ainda há muito o que ser feito.
A vida pede coragem. E engajamento.
terça-feira, 24 de julho de 2012
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