Universidades federais entram no 3º mês de greve com recorde de adesão
Para Andes, expansão 'irresponsável' do governo provocou a insatisfação.
'Sinto que eles não entenderam bem a proposta', diz secretário do MEC.
A greve de professores das universidades e institutos federais completa
dois meses nesta terça-feira (17) com a maior adesão já registrada pelo
Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
(Andes). Até a segunda-feira (16), 57 das 59 universidades estavam
paradas, além dos 37 institutos e centros de educação tecnológica, que
incluem o Colégio Pedro II.
De acordo com a primeira-secretária da entidade, Marina Barbosa, a
categoria já esteve paralisada por mais tempo no passado, mas nunca com
esse alcance. "É o maior número de adesões tanto de instituições quanto
de professores", afirmou.
Os servidores das instituições deflagraram uma greve em 11 de junho,
como parte do movimento nacional de paralisação dos servidores federais.
Em algumas universidades, estudantes já estavam em greve, como é o caso
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ou decidiram parar as
atividades em apoio aos funcionários das duas categorias. A adesão varia
em cada instituição, e algumas, como as federais na Paraíba,
já admitem mudanças no calendário acadêmico e a possibilidade de que o
ano letivo de 2012 só termine nos primeiros meses de 2013.
Na Federal do ABC (UFABC), o calendário é dividido em três quadrimestres e, portanto, os estudantes deveriam estar em aulas neste mês.
A greve de professores, porém, começou em 5 de junho e paralisou todas
as aulas de graduação, apesar de alunos reclamarem que alguns
professores estão pedindo listas de presença e de exercícios.
As últimas instituições a aderirem à greve
foram a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e
Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), no dia 10 de julho.
Apenas a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a
Universidade Federal de Itajubá (Unifei) não tiveram votação em
assembleias favorável à paralisação (veja tabela ao final da matéria).
Dois
meses de greve: em 15/05, professores da UFPB aprovaram a adesão à
greve a partir de 17/05; em 28/06, docentes da UFMT foram às ruas em
protesto; em 13/07, a ministra Miriam Belchior e o ministro Aloizio
Mercadante apresentaram nova proposta às entidades; na segunda (16), a
UFABC seguia sem aulas
(Foto: Adufpb/G1/Valter Campanato/ABr)
(Foto: Adufpb/G1/Valter Campanato/ABr)
Negociação
O movimento teve início em 17 de maio com a adesão de 20 universidades, como forma de pressionar o governo a definir as mudanças na carreira e no salário antes do envio do Orçamento 2013 ao Congresso Nacional, em 31 de agosto.
O movimento teve início em 17 de maio com a adesão de 20 universidades, como forma de pressionar o governo a definir as mudanças na carreira e no salário antes do envio do Orçamento 2013 ao Congresso Nacional, em 31 de agosto.
Um mês depois, uma negociação marcada para 19 de junho com o governo
federal foi adiada sem nova data. Após 57 dias de protestos e a adesão
de quase 100% das instituições, os ministérios do Planejamento e da
Educação se reuniram com diversas entidades sindicais na sexta-feira
(13) para propor um novo plano de carreira (leia mais na tabela abaixo).
Os professores realizam, até a sexta-feira (20), assembleias em suas
instituições para avaliarem a proposta antes da próxima negociação,
agendada para a segunda (23).
Reação dos sindicatos
Na noite de domingo (15), o Comando Nacional de Greve do Andes enviou uma análise técnica e política da proposta do governo aos sindicatos locais ligados à entidade. A indicação do comando é que os docentes rejeitem a proposta e 'radicalizem' as ações de greve.
Na noite de domingo (15), o Comando Nacional de Greve do Andes enviou uma análise técnica e política da proposta do governo aos sindicatos locais ligados à entidade. A indicação do comando é que os docentes rejeitem a proposta e 'radicalizem' as ações de greve.
Nem todos os sindicatos locais, porém, devem seguir a mesma indicação.
De acordo com Eduardo Rolim, presidente da Federação de Sindicatos de
Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), que
também participou da negociação na sexta, a posição da entidade é que
alguns pontos da proposta dialogam com as reivindicações defendidas por
ela e que, nos pontos divergentes, ainda há espaço para a negociação.
"Nossa orientação é que esta semana é para intensificar processo de
negociação em Brasília, mas cada sindicato tem autonomia para realizar
assembleia", afirmou Rolim.
Ele afirmou que 13 universidades e institutos de oito estados têm
professores ligados a sindicatos filiados ao Proifes, e que a federação
tem ainda o Proifes-Sindicato, com núcleos em instituições em todos os
estados do Brasil. De acordo com Rolim, os professores ligados ao Profis
só aderiram à greve após a realização de plebiscitos que consultaram
milhares de docentes da base sindical.
Reação ao Reuni
Para Marina, do Andes, a bandeira da reestruturação da carreira é antiga. Mas, segundo a professora, que trabalha no curso de serviço social na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e presidiu o sindicato nacional entre 2010 e o dia 21 de junho deste ano, a mobilização se tornou mais intensa depois da implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) do Ministério da Educação.
Para Marina, do Andes, a bandeira da reestruturação da carreira é antiga. Mas, segundo a professora, que trabalha no curso de serviço social na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e presidiu o sindicato nacional entre 2010 e o dia 21 de junho deste ano, a mobilização se tornou mais intensa depois da implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) do Ministério da Educação.
Entre 2002 e 2010, de acordo com dados do MEC, o número de campi das
universidades e institutos pulou de 288 em 234 municípios para 628 campi
em 551 cidades. A previsão até 2014 é de criar 255 novos campi --208
deles de institutos federais-- em 247 cidades.
A expansão, segundo Marina, foi feita "de modo irresponsável sem
qualidade" e o resultado foi "uma condição insuportável da situação"
dentro das instituições. "A força dessa greve é que chegamos num limite
dentro das instituições, a carreira desestruturada gerou insatisfação e
não foi possível mais segurar uma reação."
Otimismo pelo fim da greve
Amaro Lins, da Secretaria de Educação Superior (Sesu), afirmou, em entrevista ao G1, que os elementos principais da proposta do plano de carreira são a formação docente, a dedicação exclusiva e a avaliação do desempenho. “Quando leio o comunicado do Andes sinto que eles não entenderam bem a proposta. Nem o MEC nem a comunidade acadêmica abrem mão da qualidade na universidade.” Para o secretário, não tem como haver progressão da carreira apenas pelo tempo de atuação nas instituições.
Amaro Lins, da Secretaria de Educação Superior (Sesu), afirmou, em entrevista ao G1, que os elementos principais da proposta do plano de carreira são a formação docente, a dedicação exclusiva e a avaliação do desempenho. “Quando leio o comunicado do Andes sinto que eles não entenderam bem a proposta. Nem o MEC nem a comunidade acadêmica abrem mão da qualidade na universidade.” Para o secretário, não tem como haver progressão da carreira apenas pelo tempo de atuação nas instituições.
De acordo com o secretário, o objetivo do plano de carreira apresentado
na sexta-feira (13) é tornar a carreira mais atraente para novos
estudantes e reconhecer o trabalho desenvolvido pelos mais experientes,
valorizando o doutorado. "A mensagem é para o professor investir na
formação. Queremos dizer: 'vale a pena investir na carreira a longo
prazo'."
Lins afirmou que tem recebido retornos positivos de professores e
reitores e está "otimista" para que haja uma breve resolução do impasse.
"Precisamos retomar as atividades nas universidades e minimizar os
prejuízos. Cada universidade fará seu calendário de reposição, mas com
tranquilidade. Estamos otimistas."
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