quarta-feira, 18 de julho de 2012

Universidades federais entram no 3º mês de greve com recorde de adesão

Para Andes, expansão 'irresponsável' do governo provocou a insatisfação.
'Sinto que eles não entenderam bem a proposta', diz secretário do MEC.

Ana Carolina Moreno e Vanessa Fajardo Do G1, em São Paulo
A greve de professores das universidades e institutos federais completa dois meses nesta terça-feira (17) com a maior adesão já registrada pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes). Até a segunda-feira (16), 57 das 59 universidades estavam paradas, além dos 37 institutos e centros de educação tecnológica, que incluem o Colégio Pedro II. 
De acordo com a primeira-secretária da entidade, Marina Barbosa, a categoria já esteve paralisada por mais tempo no passado, mas nunca com esse alcance. "É o maior número de adesões tanto de instituições quanto de professores", afirmou.
 
Os servidores das instituições deflagraram uma greve em 11 de junho, como parte do movimento nacional de paralisação dos servidores federais. Em algumas universidades, estudantes já estavam em greve, como é o caso da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ou decidiram parar as atividades em apoio aos funcionários das duas categorias. A adesão varia em cada instituição, e algumas, como as federais na Paraíba, já admitem mudanças no calendário acadêmico e a possibilidade de que o ano letivo de 2012 só termine nos primeiros meses de 2013.
Na Federal do ABC (UFABC), o calendário é dividido em três quadrimestres e, portanto, os estudantes deveriam estar em aulas neste mês. A greve de professores, porém, começou em 5 de junho e paralisou todas as aulas de graduação, apesar de alunos reclamarem que alguns professores estão pedindo listas de presença e de exercícios.
As últimas instituições a aderirem à greve foram a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), no dia 10 de julho. Apenas a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade Federal de Itajubá (Unifei) não tiveram votação em assembleias favorável à paralisação (veja tabela ao final da matéria).
Dois meses de greve: em 15/05, professores da UFPB aprovaram a adesão à greve a partir de 17/05; em 28/06, docentes da UFMT foram às ruas em protesto; em 13/07, a ministra Miriam Belchior e o ministro Aloizio Mercadante apresentaram nova proposta às entidades; na segunda (16), a UFABC seguia sem aulas (Foto: Adufpb/G1/Valter Campanato/ABr)Dois meses de greve: em 15/05, professores da UFPB aprovaram a adesão à greve a partir de 17/05; em 28/06, docentes da UFMT foram às ruas em protesto; em 13/07, a ministra Miriam Belchior e o ministro Aloizio Mercadante apresentaram nova proposta às entidades; na segunda (16), a UFABC seguia sem aulas
(Foto: Adufpb/G1/Valter Campanato/ABr)
Negociação
O movimento teve início em 17 de maio com a adesão de 20 universidades, como forma de pressionar o governo a definir as mudanças na carreira e no salário antes do envio do Orçamento 2013 ao Congresso Nacional, em 31 de agosto.
Um mês depois, uma negociação marcada para 19 de junho com o governo federal foi adiada sem nova data. Após 57 dias de protestos e a adesão de quase 100% das instituições, os ministérios do Planejamento e da Educação se reuniram com diversas entidades sindicais na sexta-feira (13) para propor um novo plano de carreira (leia mais na tabela abaixo). Os professores realizam, até a sexta-feira (20), assembleias em suas instituições para avaliarem a proposta antes da próxima negociação, agendada para a segunda (23).
Compare a situação atual da carreira docente, a reivindicação dos professores e a proposta do governo (Foto: Editoria de Arte/G1)
Reação dos sindicatos
Na noite de domingo (15), o Comando Nacional de Greve do Andes enviou uma análise técnica e política da proposta do governo aos sindicatos locais ligados à entidade. A indicação do comando é que os docentes rejeitem a proposta e 'radicalizem' as ações de greve.
Nem todos os sindicatos locais, porém, devem seguir a mesma indicação. De acordo com Eduardo Rolim, presidente da Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), que também participou da negociação na sexta, a posição da entidade é que alguns pontos da proposta dialogam com as reivindicações defendidas por ela e que, nos pontos divergentes, ainda há espaço para a negociação.
"Nossa orientação é que esta semana é para intensificar processo de negociação em Brasília, mas cada sindicato tem autonomia para realizar assembleia", afirmou Rolim.
Ele afirmou que 13 universidades e institutos de oito estados têm professores ligados a sindicatos filiados ao Proifes, e que a federação tem ainda o Proifes-Sindicato, com núcleos em instituições em todos os estados do Brasil. De acordo com Rolim, os professores ligados ao Profis só aderiram à greve após a realização de plebiscitos que consultaram milhares de docentes da base sindical.
Reação ao Reuni
Para Marina, do Andes, a bandeira da reestruturação da carreira é antiga. Mas, segundo a professora, que trabalha no curso de serviço social na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e presidiu o sindicato nacional entre 2010 e o dia 21 de junho deste ano, a mobilização se tornou mais intensa depois da implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) do Ministério da Educação.
Entre 2002 e 2010, de acordo com dados do MEC, o número de campi das universidades e institutos pulou de 288 em 234 municípios para 628 campi em 551 cidades. A previsão até 2014 é de criar 255 novos campi --208 deles de institutos federais-- em 247 cidades.
A expansão, segundo Marina, foi feita "de modo irresponsável sem qualidade" e o resultado foi "uma condição insuportável da situação" dentro das instituições. "A força dessa greve é que chegamos num limite dentro das instituições, a carreira desestruturada gerou insatisfação e não foi possível mais segurar uma reação."
Otimismo pelo fim da greve
Amaro Lins, da Secretaria de Educação Superior (Sesu), afirmou, em entrevista ao G1, que os elementos principais da proposta do plano de carreira são a formação docente, a dedicação exclusiva e a avaliação do desempenho. “Quando leio o comunicado do Andes sinto que eles não entenderam bem a proposta. Nem o MEC nem a comunidade acadêmica abrem mão da qualidade na universidade.” Para o secretário, não tem como haver progressão da carreira apenas pelo tempo de atuação nas instituições.
De acordo com o secretário, o objetivo do plano de carreira apresentado na sexta-feira (13) é tornar a carreira mais atraente para novos estudantes e reconhecer o trabalho desenvolvido pelos mais experientes, valorizando o doutorado. "A mensagem é para o professor investir na formação. Queremos dizer: 'vale a pena investir na carreira a longo prazo'."
Lins afirmou que tem recebido retornos positivos de professores e reitores e está "otimista" para que haja uma breve resolução do impasse. "Precisamos retomar as atividades nas universidades e minimizar os prejuízos. Cada universidade fará seu calendário de reposição, mas com tranquilidade. Estamos otimistas."
Lista de instituições federais de ensino em greve em 16 de julho (Foto: Editoria de Arte/G1)
Colaboraram o G1 PB, o G1 RS e o G1 SP

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