quarta-feira, 24 de agosto de 2011

América Insurrecta: o Chile está preparando uma das maiores mobilizações de sua America Insurrecta
Por Thalie Drumond
Patria, naciste de los leñadores, de hijos sin bautizar, de carpinteros, de los que dieron como un ave extraña una gota de sangre voladora, y hoy nacerás de nuevo duramente desde donde el traidor y el carcelero te creen para siempre sumergida. Hoy nacerás del pueblo como entonces.
Pablo Neruda
A segunda-feira, após a marcha que reuniu quase um milhão em Santiago, foi marcada por atividades preparativas para a paralisação dos dias 24 e 25. Pela manhã pude acompanhar parte desses preparativos na Universidade Alberto Hurtado, uma das principais e maiores universidades particulares em Santiago. Por lá ocorriam ao mesmo tempo as eleições para os centros acadêmicos, um ato em defesa dos alunos expulsos pela Reitoria por conta da greve e uma reunião de coletivos estudantis para debater as atividades dos dias 24 e 25. Para vocês verem o grau de atividade política entre os estudantes chilenos.

Pouco antes de partir da UAH rumo a uma escola ocupada, os estudantes que ali manifestavam souberam que havia um ato parecido numa universidade poucas quadras abaixo. Assim decidiram juntar as duas colunas e tomar a rua que ligava ambas as universidades. Os dois blocos caminhavam um em direção ao outro, cantando palavras de ordem de solidariedade. Era bonito de se ver cerca de 300 estudantes protestando em plena manhã de segunda-feira. Rapidamente chegaram os Carabineros, a polícia chilena, mais conhecida como pacos. Os pacos lançavam a maldita água tóxica contra os estudantes e muito gás lacrimogênio, em pouco tempo a manifestação dispersou e os alunos voltaram para as atividades em suas universidades. Com certeza, com ainda mais ânimo para construir uma das maiores mobilizações da história recente do Chile. E não há água tóxica que destrua tal disposição.
Caminhei em direção ao metrô para ir encontrar outros companheiros que estavam reunidos numa escola ocupada em Puente Alto. Mas é óbvio que antes de chegar me deparei com outra atividade política. Centenas de trabalhadores estavam reunidos em assembléia em frente ao Banco do Chile, segundo maior banco deste país. Os bancários também estão em greve por melhores salários. E sobre o enorme prédio público caia uma faixa com os dizeres: os banqueiros não pagam nossos direitos e extorquem nosso pequeno salário nas escolas de nossos filhos. O fato é que no Chile os grandes banqueiros também são os maiores acionistas dos grupos que administram as escolas privadas chilenas. Efetivamente a educação é um grande negócio por aqui. Como alguns adorariam poder dizer no Brasil, viva a luta dos trabalhadores e estudantes!
Bom, na escola ocupada, antes de entrar tive que responder algumas perguntas a uma patrulha de niños. Sim, queriam saber se não estava ali a serviço dos pacos. Como alguns companheiros lá dentro me conheciam, não foi tão difícil entrar. Lá dentro estava armado um verdadeiro operativo de guerrilha. As carteiras haviam sido colocadas nas grades que cercavam a escola de modo que as pernas de metal ficavam expostas para fora como lanças. Dentro erguiam um grande paredão de madeira. Era tudo bastante organizado, rotas de fuga, barricadas nas principais entradas, etc. Tudo para que polícia tivesse mais dificuldade para entrar e desocupar a escola, o que não era impossível, nem incomum. Os tiquitos estavam reunidos – eram uns 80 – juntos com alguns pais, moradores de Puente Alto e representantes de algumas organizações (sindicatos, juntas de vizinhos, grupos políticos) para organizar o 24 e 25. Daquela reunião foram organiizados festivais de cultura, um panelaço e uma grande marcha no dia 24, dia no qual estão previstas atividades por comunas. No dia 25, a população se concentrará para ir em bloco à marcha unificada no centro da cidade. Espera-se para este bloco 20 mil pessoas!
Bom, toda a discussão foi apimentada por falas emocionadas em defesa da educação, da luta em unidade entre trabalhadores e estudantes e em defesa do poder popular. Em ato simbólico em uma destas noites, claro que não posso contar qual, serão erguidas barricadas entorno de toda a comuna, com isso pretende-se sinalizar a Piñera e à polícia que Puente Alto está sob controle do povo.
E como o poder popular neste momento no Chile não é apenas uma questão de retórica e simbologismos, antes de terminar a reunião decidiu-se retomar três escolas desocupadas recentemente pela polícia. Sob o comando de jovens de 14 e 15 anos marchamos todos juntos em direção aos colégios. Se em algum momento passou pela minha cabeça imagens de uma possível revolução democrática no século XXI em nosso continente, com certeza não era nada diferente daquilo que pude vivenciar ontem. O Chile está em ebulição, o povo está nas ruas. Ao passo em que se tenta derrubar a política pinochetista que dirige o país pelas mãos de Piñera, com certeza se forjam novas formas de se fazer política, um tipo diferente que emana dos bairros, das escolas, das universidades, dos locais de trabalho e tem contaminado a todos. Aqui em Santiago os de baixo estão em intensa atividade, espero que os de cima não possam se manter por muito tempo.
Saudações revolucionárias, porque a mudança radical de nossa sociedade hoje é mais que uma necessidade, está se tornando uma possibilidade.
Thalie

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