segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Saúde do DF na UTI 

De Pertubando o #status quo- Blog da Leili


Ontem, tive que levar o meu filho à emergência do Hospital Regional da Asa Norte - HRAN pois, o menino estava com febre alta e vomitando. Graças a Deus era apenas um caso de inflamação na garganta e ele tomou uma Bezetacil e fomos para casa. Porém, quando eu estava aguardando atendimento no HRAN constatei que nada mudou desde o ano passado... Pra ter idéia, tinha apenas um atendente na recepção e o Pronto Socorro lotado e chegando mais pessoas!

Quem lê o meu blog ou me segue no ´há muito tempo, pode acompanhar a luta da minha família durante a doença do meu pai, falecido em Março desse ano. Meu pai fazia tratamento contra o Câncer ( na garganta ) há 5 anos, no Hospital de Base de Brasília. Durante esse tempo ele fez 3 cirurgias: uma traqueostomia e outras duas para a retirada de tumores que teimavam em reaparecer.


A última vez que surgiu um tumor, o quarto, ficamos à espera de cirurgia quase um ano! E meu pai só conseguiu retornar aos médicos depois que praticamente tive que apelar ao governador, que apelou ao secretário de saúde , que encaminhou para o Diretor do Hospital, que o encaminhou para o seu médico e que só o atendeu depois que minha mãe idosa insistiu muito e praticamente fez plantão na porta deles até ser atendida. Mas, já era tarde... o câncer já havia se espalhado pelo corpo do meu pai, fora para o pulmão e depois para a cabeça. Não havia mais como fazer uma cirurgia e a quimioterapia e radioterapia só aumentaria seu sofrimento e fragilizaria seu corpo idoso ainda mais.

Ficamos nove meses cuidando do meu pai em estado terminal. Nos últimos 5 meses de sua vida ele teve diversas internações no HRAN para tratar de pneumonias seguidas, embolia pulmonar e outros problemas ocasionados pela doença. A cada internação sofríamos com os problemas do hospital. Mesmo idoso e com câncer ele nunca teve um leito disponível , foi tratado no Pronto Socorro junto com os demais pacientes; geralmente esperávamos quase que uma manhã e uma tarde inteira até que aparecesse uma maca vaga para que ele pudesse ser internado, na triagem cansei de ver pacientes deitados pelo chão do hospital...


Sentia como se estivesse num hospital de campanha em plena guerra, como via nos filmes de TV. Faltava material como gaze , esparadrapo, fralda geriátrica... A disputa por um lençol limpo era grande , pela manhã. A ponto de que entre as coisas pessoais do paciente, levávamos também esse material para curativos. E por falta de pessoal , cansamos de nós mesmos fazermos os curativos do meu pai no hospital, dar banho, trocar a fralda... dele e de outros pacientes também.

Vimos naquele PS o descaso com os pacientes moradores de rua. Cheguei a ver um paciente se jogar no chão de tanta dor no meio da madrugada e não ter nenhum enfermeiro lá para ajudar! a limpeza não era das melhores, cheguei a ver baratinhas e outros insetos andando pelas paredes em plena enfermaria... E por incrível que pareça, silêncio para que os pacientes pudessem dormir durante a noite não existia por falta de isolamento acústico com a entrada do PS.

Eu sabia que meu pai não estava tendo o atendimento digno que merecia nos seus últimos dias de vida e sai em busca de alternativa , procurei ajuda. Até que fui informada sobre o Hospital de Apoio ( Hospital do Câncer) e batalhei para conseguir uma vaga para meu pai seguindo todos os trâmites. Graças a Deus, consegui levá-lo para outro Hospital e a sensação quando chegamos no Hospital de Apoio era como se tivéssemos saído do inferno para o céu. Quanta diferença! Um hospital limpíssimo, atendimento humanizado, leitos com banheiro particular para os pacientes do quarto, sofás para os acompanhantes dormirem e nunca mais fizemos o trabalho dos enfermeiros... Era muito melhor que qualquer hospital particular! E o incrível: Era um hospital público!

Meu pai ficou 15 dias internado no Hospital de Apoio e faleceu . Mas, ao menos , nos últimos dias de vida teve um atendimento digno que todo ser humano merece receber do Estado após uma vida inteira como cidadão e contribuinte e especialmente por ter ajudado a construir a capital do país com o suor do seu rosto, pioneiro que foi.

Soube mais tarde, que um dos Diretores do Hospital é um paciente que está internado lá ( coisa rara no Brasil, onde mesmo os servidores do SUS tem convênios particulares para não serem atendidos em hospitais públicos). Fico até hoje questionando, por que todos os outros hospitais do DF não podem ser como o Hospital de Apoio? Não é um sonho impossível.


Hoje, tenho uma amiga do "Adote Um Distrital," numa situação grave e que teve que ir à justiça para poder fazer uma cirurgia e ainda está à espera de um relatório pedido pela Defensoria Pública à junta médica do Hospital de Base! A desculpa deles para a demora na cirurgia dela é que seu caso não é de morte iminente! Vejam que absurdo! Deve ser porque não é a mãe deles que tá com reincidência de um câncer necessitando de um aparelho que não tem na rede pública para fazer a cirurgia. E o que a gente faz numa hora dessas? E o pior que nossa amiga não é a única...
Deixo um questionamento: Por que com tanto descaso na saúde o povo de Brasília ainda continua calado?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.