quinta-feira, 16 de junho de 2011

Os novos passos da primavera egípcia
Por Frederico Henriques, militante do PSOL, sociólogo esteve 12 dias no Egito durante as manifestações de março de 2011.

Apesar da insistência da mídia em tirar de foco os avanços das revoluções democráticas no Oriente Médio e os seus reflexos na Europa, levantes e contradições se acentuam no último período. Estes fatos podem ser vistos no aprofundamento da revolução democrática tunisiana, com a assembléia constituinte, na juventude e nos trabalhadores da Síria, que continuam a onda de protestos por todo o país, e mesmo no Egito, que começa a dar uma nova dinâmica para a geopolítica regional. 
Embora no Egito o referendo constitucional de março tenha consolidado uma grande vitória de setores reformistas sobre os setores radicalizados no processo, fazendo com que a revolução caminhe de forma mais lenta que o caso tunisiano, a Primavera Egípcia começa a dar seus primeiros grandes passos após a queda de Mubarak.
Na geopolítica internacional, o Egito passa ater uma posição mais independente do imperialismo europeu e norte americano, que pode ser vista na abertura do Canal de Suez para navios persas, especialmente iranianos. Porém, o passo mais importante foi na mediação Palestina, pois após a revolução de 25 de Janeiro vários setores palestinos passam a ver o Egito como um mediador importante de sua causa. Essa movimentação faz com que o grupo dirigente da Faixa de Gaza, Hamas e o principal partido da Cisjordânia, Fatah, iniciem um processo de acordo, especialmente com o aumento das manifestações massivas em suas regiões pedindo a união destas duas facções. A assinatura de reaproximação destes dois grupos foi feita no Cairo, demonstrando a importância da independência egípcia para a vitória da causa Palestina. A solidariedade pela libertação deste povo foi gritada por centenas de milhares de egípcios no dia 15 de Maio.
Internamente no país as contradições e embates também prosseguem. Semanalmente a Praça Tahrir continua a ser ocupada por manifestantes, sempre com a pauta da punição a Mubarak e seus comparsas. A dificuldade em avançar na pauta política dificultou a unificação dos grupos de juventude, especialmente porque a pauta das eleições do segundo semestre passaram a tomar conta da pauta política. Enquanto os setores conservadores, ligados a antigos aliados e partidos de Mubarak, articulam a candidatura de Amr Moussa à presidência do Egito, ElBaradei se postula como porta voz da revolução e se aproxima dos principais grupos de juventude.
O grande avanço no processo revolucionário está acontecendo no seio da classe trabalhadora. Apesar dela não ter anunciado a primavera, é exatamente este setor que se tornou o mais dinâmico e mantém paralisações e greves de maneira constante desde o início do processo, além de reivindicações por melhores condições de trabalho e o aumento do salário mínimo de 70 para 200 dólares, como exemplos de algumas pautas mais concretas. Porém, foi no 1º de Maio deste ano, com dezenas de milhares de jovens e trabalhadores nas ruas, que se pode dar um salto qualitativo com a criação de uma Central Sindical Independente, algo nunca alcançado pelos trabalhadores deste país.
Apesar da falta de organizações políticas que tenham capacidade de acelerar este processo, a revolução democrática não pára. Dificuldades e superações estão no centro do país mais populoso do mundo árabe.

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