A República dos Rentistas: mais um aumento dos juros
Os jornais divulgam que o COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central) mais uma vez atendeu às expectativas do “mercado” e elevou a taxa de juros Selic pela quarta vez no ano, para 12,25% ao ano, a maior taxa de juros do mundo, que beneficia diretamente os rentistas da dívida pública.
O Banco Central e os rentistas alegam, mais uma vez, que seria necessário subir os juros para desestimular a economia, de modo a reduzir a demanda por produtos e serviços, reduzindo assim os preços e garantindo o cumprimento da meta de inflação.
Porém, ao contrário do que alegam o governo e os rentistas, a inflação atual não é causada por uma suposta demanda exageradamente aquecida, e portanto, não pode ser atacada por meio de altas taxas de juros. Analisando-se os dados do IBGE sobre a inflação (IPCA) de janeiro a abril de 2011, verifica-se que nada menos que 73% desta inflação é causada por problemas de oferta de alimentos ou por preços administrados pelo próprio governo. Nestes 73%, se incluem: Alimentação; Taxa de água e esgoto; Transporte Público; Combustíveis de veículos; Educação; Plano de Saúde; Energia Elétrica; Telefonia; Serviço bancário. Interessante observar que até mesmo os banqueiros - que reivindicam mais alta de juros para controlar a inflação - aumentaram o preço de seus serviços (5,46%) muito acima da média geral da inflação do período (3,23%). É a total contradição a serviço de si próprio, pois além de ganharem com as altas tarifas, os bancos ganham também com a alta dos juros.
No que se refere à inflação de alimentos, a taxa de juros também é inútil. A alta dos preços ocorre no contexto da crise alimentar global, e também devido à ação de especuladores que compram papéis vinculados às chamadas “commoditties” agrícolas nas Bolsas de Valores, fazendo crescer os preços. Ao invés de aumentar juros, a melhor saída para isto seria estimular a agricultura familiar, que apesar de deter a minoria das terras e dos financiamentos agrícolas, é a responsável pela maior parte dos alimentos consumidos internamente.
Ou seja: o sistema agrícola brasileiro deveria ser transformado, de um modelo primário-exportador – que não garante a segurança alimentar – para um sistema mais justo e sustentável, de propriedades familiares, por meio de uma ampla reforma agrária.
Evidentemente, esta política precisaria de recursos suficientes para a infra-estrutura rural, política de estoques públicos, sistemas de beneficiamento e comercialização e a ligação direta ao consumidor, o que poderia quebrar o poderio dos atravessadores, especuladores e dos cartéis do varejo. Mas isto também não é possível com a atual política de ajuste fiscal, que prioriza os gastos com a dívida.
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