Protestos em Atenas são anti-pacote do FMI
A partir de GRÉCIA: "As pessoas estão fartas, é isso", diz manifestante, da FolhaCAROLINA VILA-NOVA, EM BERLIM
O grego Aryiris Panagopoulos desembarcou anteontem na Espanha com um objetivo: combinar com os colegas espanhóis um "protestaço" simultâneo para hoje nas emblemáticas praças do Sol, de Madri, e Syntagma (da Constituição), de Atenas.
Depois de episódios violentos que culminaram na morte de manifestantes há cerca de um ano, os gregos andavam quietos.
Precisaram de um empurrãozinho dos espanhóis e de rumores de novas medidas econômicas no país para retomarem, no último dia 25, os protestos na capital.
Desde então, grupos distintos ficam acampados em tendas na praça. Eles se chamam, como os espanhóis, de "indignados", e são um movimento sem líderes definidos ou ligação com grupos políticos tradicionais.
"São jovens, são estudantes, são aposentados, funcionários públicos. Não tem isso de idade nem de setores. As pessoas estão fartas, é isso", explica o grego de 48 anos.
"Eu diria que três quartos da população estão descontentes com a atual situação no país, especialmente com o acordo com o FMI", afirma o jornalista grego Nick Malkoutzis, editor-adjunto da versão em inglês do jornal "Kathimerini".
Os protestos não têm um tema determinante, mas giram em torno da rejeição ao acordo fechado pelo país com o FMI no ano passado, às medidas de austeridade impostas pelo governo para atender a esse acordo, e a uma classe política considerada corrupta e desvinculada da população.
Como nos demais casos, as redes sociais são um meio importante de convocação da população e de articulação com grupos em outros países. Blogs, comunidades no Facebook e twitteiros tentam quebrar a barreira da língua para os de fora.
"Atenas é muito pequena, todos se conhecem e muito se espalha no boca a boca. Mas, claro, usamos muito a internet. E felizmente a mídia na Grécia tem bastante autonomia", diz Panagopoulos.
Malkoutzis remete à Grécia Antiga para descrever como se organizam os distintos grupos na Syntagma.
"Há a linha de frente, que fica diante do Parlamento e da polícia. Atrás deles, no acampamento, é como uma versão moderna da ágora [praça na Grécia antiga]. Pessoas em grandes ou pequenos grupos, discutindo, tentando trabalhar em temas comuns ou conversando sobre quais deviam ser os rumos do protesto. Um pega o microfone, fala, e passa adiante. Um experimento interessante".
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