quinta-feira, 14 de abril de 2011

Evasão de controladores preocupa
Tarso Veloso, de Valor Econômico

A evasão dos controladores aéreos pode ser um grande problema da aviação brasileira nos próximos anos, além da deficiente infraestrutura dos aeroportos. Cerca de 300 profissionais abandonam seus postos de trabalho todos os anos ou vão para a reserva, segundo a Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA). Esse é praticamente o mesmo número de formados anualmente, calcula a associação, o que leva o país a ter a mesma quantidade de controladores de voo da época do caos aéreo de 2007, cerca de 3.100 profissionais militares. As queixas da época, como de excesso de horas trabalhadas, portanto, não foram sanadas. 
O diretor de mobilização da ABCTA, Edileuzo Cavalcante, disse que quase todos os dias recebe relatos de incidentes aéreos - como um avião que se aproxima mais do que o permitido de outro. "Somente nos últimos dias foram nove, em Brasília, São Paulo e Nordeste. A maioria dos casos acontece nos voos de alta altitude".
Ele foi um dos afastados da Aeronáutica em 2007 por "praticar lideranças negativas" e passou por um processo administrativo que decidiu pela sua expulsão na semana passada. Segundo Cavalcante, há mais de 100 controladores respondendo a processos por causa da mobilização de 2007.
Uma fonte ligada ao controle de segurança de voo revelou ao Valor que, há cerca de três meses, o comissário de uma companhia aérea relatou um grande risco de colisão entre sua aeronave e outra de menor porte enquanto sobrevoavam o Estado de São Paulo, por causa do acúmulo de tráfego aéreo. "O numero de controladores ainda não é o suficiente. O sistema atual dá um ar de normalidade à situação ", comentou Cavalcante.
Os controladores têm migrado para a iniciativa privada. "O pessoal de alto nível, com muitos anos de estudo, não encontrou crescimento na carreira e desistiu, partindo para outros concursos ou indo para a iniciativa privada", disse Cavalcante. Hoje a remuneração líquida para um recém formado é de R$ 2.485,11, o que leva controladores a encontrar oportunidades de trabalho com melhor remuneração, disse o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Proteção ao Voo, Jorge Botelho.
O aumento do volume de tráfego aéreo nos últimos anos, segundo Botelho, foi superior ao número de controladores. Além da falta de profissionais, eles continuam sobrecarregados de trabalho, cumprindo até 170 horas mensais. "Para se ter uma ideia do que isso significa, no auge da crise aérea, a jornada era de 120 a 140 horas por mês. O recomendado são 120 horas mensais, nível que tínhamos em 2006", disse Botelho.
O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) explicou, por meio de nota, que a meta é atingir 3.420 controladores em 2016. "Ressalta-se ainda que o número atual de controladores de tráfego aéreo, superior a 3.100, é adequado para a operação em total segurança das aeronaves que sobrevoam o espaço aéreo brasileiro. Mesmo assim, o Comando da Aeronáutica continua a investir no setor para atender à demanda durante a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016".
A Força Aérea Brasileira (FAB) disse que as inovações em tecnologia são fundamentais para se reduzir o número de controladores. Em 2010, o Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo (SRPV-SP) ampliou em 50% a sua capacidade de controle do espaço aéreo. Em janeiro daquele ano, o órgão podia controlar 30 aeronaves simultaneamente. Em julho, o número subiu para 45 e chegará a 60 tráfegos simultâneos em 2012.
Ainda existe uma divisão dos profissionais em dois regimes: militares na ativa e civis, com salários e demanda de trabalho diferente, gerando conflitos dentro da categoria. Os civis são 20% do contingente total, segundo a ABCTA.
Um profissional bem treinado requer quatro a cinco anos, portanto, não existe tempo hábil para se formar profissionais bem qualificados para a Copa do Mundo. "Para se ter uma ideia, o curso mais rápido tem a duração de 10 meses, jogando uma pressão nessas pessoas que, na maioria das vezes, não tem condições de suportar", disse Botelho. Segundo ele, a FAB reduziu o tempo de treinamento de 300 horas para 90 horas.
O chefe do SRPV, vinculado à Força Aérea Brasileira (FAB), coronel Carlos Minelli de Sá, assegurou que a contratação de novos controladores foi acelerada no último ano e que existe um planejamento bem montado para preencher todas as vagas. "Os novos especialistas são formados em um ritmo que não se baseia somente na evasão, mas também nos militares que vão para a reserva", disse Minelli.
Essa saída de profissionais para trabalhar em outras áreas é considerada normal para o SRPV. "Temos um número de evasão de controladores compatível com outras atividades, como pilotos e soldados", disse Minelli. Os motivos para as saídas são a busca por outros desafios ou por não se enquadrar dentro das regras militares.
A falta de crescimento profissional não pode ser considerada fator responsável pela saída dos controladores, segundo Minelli. Para ele, existem várias formas de ascender na carreira de um profissional que cuida do espaço aéreo. O funcionário pode continuar trabalhando na área de controle durante um bom tempo, mas dentro dela existem várias possibilidades, podendo, no futuro, assumir cargos de chefias ou supervisão. A Aeronáutica abriu concurso para preencher 160 vagas de controlador de tráfego aéreo. Serão aceitos somente os profissionais formados.

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