terça-feira, 12 de abril de 2011

Onde está a responsabilidade do reitor?
Problemas na rede de drenagem pluvial perto da UnB já eram conhecidos
Naira Trindade e Noelle Oliveira, do Correio

Os estragos no Instituto Central de Ciências (ICC) Norte, o Minhocão, provocados pela intensa chuva que caiu na tarde de domingo, poderiam ter sido evitados. Estudos do Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU), de 2009, identificaram gargalos na rede de drenagem pluvial nas proximidades da Universidade de Brasília (UnB). O levantamento pede a ampliação imediata no sistema, mas o estudo está em fase de consulta pública no site da Agência de Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa). Sem estimativas dos prejuízos provocados pela inundação, o reitor da UnB, José Geraldo Sousa Junior, espera mensurar as perdas até amanhã, quando voltam as aulas no câmpus Darcy Ribeiro. Uma das áreas mais alagadas, a rádio da instituição, tem equipamentos avaliados em R$ 8 milhões.
Antes do retorno das atividades na UnB, funcionários passaram a noite de domingo e ontem a limpar a sujeira deixada pela enxurrada. Após uma hora e meia de temporal, o subsolo do ICC ficou tomado por folhas, água e lama. Sofás acabaram arrastados, mesas boiaram e ficaram atracadas entre cadeiras mais altas em um dos anfiteatros, onde a água atingiu 3m de altura. O servidor do Centro de Processamento de Dados ficou desligado por quase 24 horas para evitar mais danos. Por conta disso, o site ficou fora do ar até as 15h de hoje. Nas dependências da pós-graduação da sociologia, o cano de uma pia do banheiro masculino estourou e estufou uma parede. “O quadro beirou o desastre”, reconheceu o coronel da Vicente Aquino, gerente de Operações da Defesa Civil. Apesar dos danos, ele avaliou que não houve danos à estrutura. Portanto, não há riscos de desabamentos.
Decano de administração da UnB, Pedro Murrieta rebateu as críticas de que o sistema de drenagem pluvial da universidade seja insuficiente. “A quantidade de chuva foi absurda e, pela própria topografia da região, a água corre toda para cá, trazendo muita sujeira e entupindo o sistema”, defendeu o também engenheiro civil. Ele considerou o volume de 43,8mm de chuva de domingo como algo atípico — os ventos alcançaram pelo menos 35km/h.
O prefeito do câmpus Darcy Ribeiro, Paulo César Marques, descreveu a UnB como um “piscinão”. “A água entrou pelas áreas de ventilação do prédio e acabou represada, funcionando como verdadeiras piscinas. Depois, ela saía dali como uma tromba d’água, que provocava estragos por onde passava”, detalhou.
Um inventário dos acervos, dos materiais de pesquisas e dos equipamentos destruídos pela água será elaborado até amanhã. Nele, José Geraldo estima calcular todo o prejuízo da instituição. “Alguns equipamentos foram atingidos, mas ainda é cedo para dizer se eles foram danificados”, considerou o reitor. É certo que os estudos sobre racismo ambiental no Brasil, produzidos desde 2007 pelo professor Rafael Sanzio, acabaram destruídos. “A maioria das pesquisas tinha backup, mas os mapas, infelizmente, não.” Hoje, o ICC será liberado para faxina e planos de reconstrução.
José Geraldo informou que, caso seja necessário, as aulas previstas para o subsolo e o anfiteatro poderão ser remanejadas para o espaço da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), também no câmpus Darcy Ribeiro, ou para o auditório da Reitoria. Enquanto isso, o reitor pediu a ajuda do Ministério de Educação (MEC) para reconstruir as salas e os centros acadêmicos danificados.
Mutirão
Apesar da interdição do prédio do ICC, universitários e curiosos chegaram a todo o instante para pedir informações. Aluno de geologia, Fabrício Pereira, 19 anos, tentou conferir de perto a situação do centro acadêmico do curso dele. “Preciso entrar para estimar os danos”, insistiu. “Ficar sem aula, a essa altura, é muito prejudicial para os estudantes”, rebateu o estudante de relações internacionais Davih Rodrigues, 21, que, por estudar em outro prédio, acreditou que teria aula ontem.
Na cooperação para o retorno às atividades, integrantes do Diretório Central de Estudantes (DCE) decidiram em assembleia, realizada ontem no Teatro de Arena, colaborar com a limpeza e a recuperação dos estragos. “Assim que o prédio for aberto, nós iremos entrar, inventariar tudo e ajudar a consertar o que puder ser arrumado na hora. Também vamos planejar uma arrecadação de fundos para os centros acadêmicos e outros espaços”, disse o coordenador-geral do DCE, Victor de Lima Guimarães.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.