sexta-feira, 20 de maio de 2011

Bin Laden: Homem Morto
Por Felipe Martins
O Canal Discovery Channel acabou de transmitir (19/05, 22h) "Bin Laden: Homem Morto". O documentário detalha a chamada "Operação Gerônimo", realizada pelo governo americano para assassinar Bin Laden, que foi executada pela Navy Seals Team 6, a unidade de elite altamente treinada da marinha.
A seguir faço um breve resumo do documentário, e, ao final, uma crítica.
- A casa é localizada seguindo um dos integrantes da Al-Qaeda. Após a suspeita, ela passa a ser monitorada permanentemente para confirmar se realmente se trata da casa de Bin Laden. São utilizados diversos recursos de alta tecnologia, como utilização de satélite espião, e de laser que capta as vibrações dos vidros das janelas da casa, para escutar os sons internos.
- A decisão de execução da operação é decidida quando os assessores da Casa Branca calculam em 60% as chances de se tratar de Bin Laden (e se não fosse ele?). São consideradas 3 opções: ação conjunta com os militares paquistaneses, bombardeio, e invasão. A última foi a escolhida por Obama.
- Decidida a invasão, o próximo passo é adentrar no território paquistanês com 4 helicópteros e chegar até a casa de Bin Laden sem serem percebidos pelos militares locais. Os entrevistados dão a entender que se fossem detectados, e o governo do Paquistão enviasse caças, estes teriam que ser derrubados. Voando baixo e em rota fora do alcance dos radares, essa etapa foi superada sem maiores dificuldades.
- A invasão da casa será realizada por 2 equipes (uma em cada helicóptero), de 12 homens cada: uma entraria pelo teto, e a outra por terra. Os outros 2 helicópteros continham as equipes reservas e aparelhos de inteligência.
- A invasão à casa começa desastrosamente. O helicóptero da equipe que invadiria por terra perde sustentação, bate no muro (que tem até 3 metros) e cai no quintal da casa, mas ninguém se fere. Isso obriga a outra equipe a abortar a invasão pelo teto, e ambas invadem por terra.
- Dentro da casa, a ação parece desenrolar-se rápida, mas tensa. Aposento a aposento, pavimento a pavimento, as pessoas que apareciam na frente e aparentavam algum risco (ainda que desarmadas) são executadas. Há mulheres e crianças na casa. Os que sobrevivem são capturados e imobilizados. A casa lembra um labirinto, e parece ter sido projetada justamente para dificultar uma invasão. Ao subirem as escadas que dão acesso ao 3o pavimento, um dos filhos de Bin Laden que a descia é sumariamente morto. Finalmente aparece Bin Laden, olhando de cima da escada, para ver o que havia acontecido (deu a entender que somente neste momento ele percebeu a invasão). Os soldados americanos atiram, mas Bin Laden corre para um quarto, e é rapidamente encurralado. Está em pé, atrás de uma mulher, e desarmado. Os soldados atiram na perna da mulher, que cai. Em seguida, sumariamente, dão 2 tiros em Bin Laden - um no peito e o outro na cabeça - que já cai morto.
- O corpo é levado de helicóptero. O helicóptero danificado é explodido propositalmente no quintal da casa, quando a equipe já estava a uma distância segura. O motor da aeronave é lançado a centenas de metros do local (não há qualquer menção se essa explosão matou ou poderia matar alguém na vizinhança). Após a confirmação da identidade de Bin Laden, seu corpo é jogado ao mar, "em ritual obedecendo à religião islâmica".
- Um dos entrevistados deixa bem claro que o objetivo da operação, desde o começo, é matar Bin Laden, e não capturá-lo. Um outro diz que “justiça” foi feita.
O tom da narrativa do documentário e dos entrevistados é bem ufanista, exaltando o patriotismo americano, a imagem do presidente Obama (um dos entrevistados diz que foi ação mais corajosa que já viu de um presidente), as ações contra o terrorismo, e esta última ação em si, como um grande favor à humanidade. Tem ainda a cara de pau de falar das recentes revoluções árabes, sem mencionar que o governo dos EUA as sustentavam (as que caíram) e ainda as sustentam (algumas das que ainda não caíram). Parece um filme feito pelo próprio governo.
Não são feitos quaisquer questionamentos sobre origem da liderança de Bin Laden (que já foi aliado dos EUA, que o financiaram, e lhe deram treinamento e armas para lutar contra os soviéticos), prisões arbitrárias de suspeitos mundo afora, as torturas, os mercenários, as mortes de centenas de milhares de civis, a fome, a destruição da guerra (a única imagem de destruição que aparece é do 11 de setembro), a soberania dos países invadidos (no caso específico, do Paquistão), infrações ao direito internacional, e ao direito de contraditório e ampla defesa (ou seja, de justiça). É como se tudo isso, durante esses longos 10 anos, fosse plenamente justificado pela morte de um único homem, já acuado, sem tanta influência, líder de uma organização desarticulada e em franca decadência. Bin Laden e a Al-Qaeda foram supervalorizados para justificar todos esses crimes cometidos pelo Estado americano.
Acho que a intenção desse documentário é deixar bem claro o que acontece para os que tentam se opor à hegemonia e aos interesses estadunidenses. A alta tecnologia e a eficiência de seu poderio militar revelados no filme são realmente intimidadores. Infelizmente, mais intimidadora ainda é a influência (ou controle) que a ideologia do governo dos EUA (e do grande capital) possui sobre as instituições e principalmente sobre os meios de comunicação. As críticas a ações criminosas como essas são completamente marginalizadas e somente alcançam a um pequeno número de pessoas que buscam meios alternativos de se informarem.

20/05/2011

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