segunda-feira, 23 de maio de 2011

Jornalista confirma: Palocci passou ‘dossiê caseiro’ 
Por Rudolfo Lago, Congresso em foco
Em seu blog, o ex-diretor editorial da Editora Globo afirma que foi o próprio ex-ministro da Fazenda quem passou para a revista Época os dados da conta bancária do caseiro Francenildo dos Santos
Em seu blog, jornalista que foi da revista Época confirma que foi Palocci quem passou diretamente as informações da conta bancária do caseiro Francenildo
Então ministro da Fazenda, Antonio Palocci passou pessoalmente para a revista Época os dados das contas bancárias do caseiro Francenildo dos Santos que mostravam que ele recebera uma quantia, R$ 30 mil, depois da denúncia que fizera, dizendo que Palocci frequentava uma casa onde se fazia lobby e se recebiam garotas de programa. A informação, que confirma que foi o próprio ministro a fonte da matéria, foi dada pelo jornalista Paulo Nogueira, em seu blog Diário do Centro do Mundo. Na ocasião da publicação da matéria, Paulo Nogueira, que hoje vive em Londres, na Inglaterra, era o diretor editorial da Editora Globo, responsável pela publicação de Época e outras revistas. Segundo ele conta em seu blog, Palocci procurou diretamente a cúpula da editora e entregou os dados bancários de Francenildo.”Foi Palocci, sim, quem passou o ‘Dossiê Caseiro’”, escreve Paulo Nogueira em seu blog. 
Francenildo era caseiro numa casa que ficou conhecida como “República de Ribeirão Preto”. Nessa casa, reuniam-se pessoas ligadas a Palocci, que já foi prefeito dessa cidade do interior de São Paulo. Segundo Francenildo, tratava-se de uma casa destinada a encontros com garotas de programa e ações de lobby. Depois da denúncia de Francenildo, a reportagem da revista da Editora Globo procurava relacionar o recebimento do dinheiro pelo caseiro à denúncia que fizera, dando a entender que Francenildo ganhara a quantia em troca de prejudicar o ministro. Logo em seguida, Francenildo provou que o dinheiro era resultado de um acordo que fizera com seu pai, um empresário piauiense. O caseiro queria que o pai reconhecesse a sua paternidade, e o pagamento foi a solução que os dois acordaram. O dinheiro nada tinha a ver, portanto, com a denúncia.
Já na ocasião, ficou claro que as informações referentes à entrada do dinheiro na conta de Francenildo só seriam possíveis se alguém tivesse quebrado o seu sigilo bancário. Francenildo tinha conta na Caixa Econômica Federal, um banco estatal. O episódio acabou por afastar Palocci do Ministério da Fazenda. De volta à Câmara dos Deputados, o ex-ministro amargou um período de ostracismo. O caso ensejou uma ação na Justiça contra ele. Palocci só saiu dos bastidores depois que o Supremo Tribunal Federal o absolveu em agosto de 2009. Depois da absolvição, ele tornou-se o coordenador da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República e, com a sua eleição, virou ministro da Casa Civil.
Na nota, postada na terça-feira (17), Paulo Nogueira diz: “No mundo perfeito, Palocci já estaria longe da política há algum tempo.Palocci foi quem fez chegar a nós, na redação da Época, informações que supostamente desqualificariam um caseiro de Brasília que dissera que ele frequentava uma mansão pouco recomendável quando ele era ministro da Fazenda”. E emenda: “Foi um dos episódios mais desagradáveis de minha carreira”.
“Numa inversão patética dos princípios sob os quais nasceu o seu PT, Palocci ali era o poderoso querendo esmagar de qualquer forma o humilde”, escreve ainda Paulo Nogueira. Segundo o jornalista, as informações da conta bancária de Francenildo foram passadas por Palocci não diretamente para a redação da revista, mas para a cúpula da Editora Globo. “Foi um momento particularmente penoso em minha carreira de editor, por motivos óbvios. Ninguém vai fazer jornalismo para depois ajudar um ministro a desmoralizar um caseiro de forma fraudulenta. Nossos sonhos e ilusões são bem mais elevados”, comenta Paulo Nogueira.
Segundo o jornalista, a revista inicialmente acreditava que realmente tinham sido feitos depósitos na conta do caseiro para que ele prejudicasse Palocci. “Quando você trabalha numa revista semanal de informações, a pressão para que você consiga furos é imensa. O risco de um erro é grande – você quer muito dar o furo e em geral o tempo para checagens mais elaboradas é escasso. Você pode cometer uma barbaridade. Foi o caso nosso”, diz ele.

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