Líderes extrativistas são assassinados em emboscada no Pará
Veja depoimento e denúncias de José Claudio Ribeiro, o lutador extrativista assassinado:
Por Brasil de Fato
Apesar de denunciarem as ameaças de morte, Zé da Castanha e sua esposa não receberam proteção e acabaram mortos por pistoleiros
da Redação
Nesta terça-feira (24), dois líderes extrativistas foram assassinados em Nova Ipixuna, no Pará. José Cláudio Ribeiro da Silva, conhecido como Zé Castanha, e sua esposa Maria do Espírito Santo da Silva foram emboscados por pistoleiros em uma estrada.
O casal era líder dos assentados do Projeto Agroextrativista Praia Alta da Piranheira, onde vivem cerca de 500 famílias. Eles vinham sendo ameaçados de morte por madeireiros e carvoeiros há anos. No entanto, mesmo tendo denunciado as ameaças sofridas a autoridades nacionais e internacionais, nunca receberam proteção.
José Cláudio e Maria do Espírito Santo também eram integrantes do Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, e lutavam pela preservação das florestas na Amazônia. Os camponeses viviam e produziam de forma sustentável em um lote de aproximadamente 20 hectares, dos quais 80% eram de floresta preservada.
O casal chegou a informar ao Ministério Público Federal de Marabá nomes de madeireiros de Jacundá e Nova Ipixuna que faziam pressão sobre os assentados e invadiam suas terras para retirar madeira ilegalmente.
As denúncias foram encaminhas à Polícia Federal e ao Ibama. Um inquérito foi aberto para investigar várias madeireiras da região e algumas vistorias chegaram a ser feitas pelo Ibama, que detectou a extração ilegal de madeira e interditou algumas serrarias.
Morte anunciada
Em nota, organizações e movimentos sociais do Pará manifestaram sua tristeza e revolta com a morte dos dois extrativistas. “Não bastasse a ameaça ser um martírio a torturar aos poucos mentes e corações revolucionários, ainda temos de presenciar sua concretude brutal?”, protestam.
Em um vídeo gravado recentemente, o líder camponês falava sobre as ameaças que vinha recebendo. “A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes, querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a irmão Dorothy, querem fazer comigo. Eu posso estar hoje aqui conversando com vocês, daqui a um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci”, alertava Zé Castanha.
A presidenta Dilma Roussef determinou que o ministro Gilberto Carvalho, da secretaria-feral da Presidência da República, acompanhe as investigações dos assassinatos.
O Ministério Público Federal enviou ofício para a Polícia Federal pedindo que também acompanhe as investigações.
A Polícia Civil do Pará ainda não tem pistas dos assassinos e dos mandantes do crime. Zé Castanha teve uma de suas orelhas arrancada, podendo ter sido levada como prova do “serviço executado”, conforme informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
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