Direito Achado no Campus x Truculência da Reitoria
Por Diogo Ramalho
Após cerca de 3 anos de Reitorado, o professor José Geraldo de Sousa Junior demonstra o quanto no seu caso o campo teórico caminha léguas de distância da prática dos direitos, ao desrespeitar os direitos dos estudantes de baixa renda e agir de forma truculenta para desalojar os moradores da Casa do Estudante Universitário – CEU.
Sem ter conseguido dialogar com @s estudantes da CEU ao longo destes 3, o que levou a uma ocupação da Reitoria com apenas 9 meses de sua gestão pelos estudantes da CEU, o Reitor adota agora uma política de repressão aos estudantes e aos seus direitos de Morar. Justo ele que escreveu décadas atrás – “Um direito achado na Rua – Moradia”.
No dia 27 de Abril encerrou-se o prazo estabelecido pela Reitoria para que houvesse a saída dos moradores que lá resistem e os mesmos conseguiram liminar na justiça que garantem vossas permanências na Casa, o que não evitou o inicio de uma série de ações truculentas e de repressão por parte da Reitoria.
Citando algumas ações da Reitoria:
- Os computadores do laboratório de internet foram todos retirados e o laboratório lacrado.
- A saída de emergência foi lacrada e em seguida reaberta com a ameaça de que fosse denunciado aos bombeiros.
- Portas de apartamentos estão sendo abertas e mudados os segredos das fechaduras com moradores dentro. Uma estudante foi surpreendida na última sexta-feira (29) saindo do banho e um chaveiro abrindo sua porta. O chaveiro recebeu ordens da DDS de mudar os segredos das portas mesmo dos apartamentos que ainda tem moradores.
- A linha 110 do ônibus e a Van da UnB foram proibidas de chegar até a Casa do Estudante e a rua foi bloqueada pela segurança com cavaletes.
Aos estudantes que resistiam foi oferecido na última semana vagas em hotel 4 estrelas, ao custo de R$3.500,00 mensal temporariamente para minar ainda mais a resistência dos estudantes, diferentemente da bolsa de R$510,00 que será distribuída aos que já se mudaram.
Ameaças, conchavos, promessas, telefonemas e pressões que vão desde as notas oficiais publicadas no Portal da UnB ( que alías só publicada claro o lado da Moeda com a cara do Rei ) a tornar todos os estudantes que resistem a saída como ILEGAIS e IRREGULARES, até a suspensão de bolsas acadêmicas, dentre outros instrumentos de força e assédio moral estão sendo empregados com força pela DDS ( Diretoria de Desensolvimento Social ) do Decanato de Assuntos Comunitários – DAC da Reitoria.
Os estudantes que resistem a saída, cerca de 50, argumentam que não são contra a reforma da Casa do Estudante pois essa é uma bandeira história do movimento estudantil da moradia estudantil, que está a décadas abandonada e caindo aos pedaços literalmente. O que os estudantes reivindicam é simplesmente não perderem o direito a assistência estudantil que já é precária morando na UnB, imagine tendo que viver com R$510,00 por mês longe da Universidade.
E são muitos os direitos retirados destes cerca de 400 estudantes que são comprovadamente de baixa renda e dependem da moradia estudantil, num Universo de 40mil estudantes que a UnB possui.
Algumas das perdas ao serem retirados do Campus Darcy Ribeiro:
- Perdem o transporte interno gratuito
- Perdem a alimentação do Restaurante Universitário 3 vezes por dia ( café, almoço e janta ) porque morando longe não tem mais como viver integralmente a vida acadêmica por conta das longas distâncias.
- Perdem o laborátorio de informática com internet da CEU.
- Perdem horas dentro de ônibus superlotados para viajarem todo dia até a UnB.
- Perdem a segurança da Universidade, que é precária e mal iluminada, mas pelo menos sempre puderam estudar até 23:45h na Biblioteca Central e chegarem a CEU em 5 minutos.
- E principalmente perdem a convivência universitária que a CEU possibilita entre estudantes de toda a parte do Brasil e do Mundo.
Dentre tantas outras perdas que só quem vive na pele pode sentir.
Questão Política
Além das inúmeras perdas de direitos que implica a saída dos estudantes do CAMPUS há uma questão política por traz da questão. A CEU é historicamente na UnB o foco de resistência, de luta e de pressão a todas as Gestões da Reitoria. Foram @s estudantes da CEU os primeiros a se levantar indo a reitoria protestar quando surgiram os primeiros escândalos que envolveram o ex-Reitor Timoty Mulholand em Janeiro de 2008.
Foram os estudantes da CEU que fizeram a única ocupação da reitoria na atual gestão, exigindo o aumento da bolsa-miséria, chamada de bolsa-permanência de R$300,00 para R$400,00, transporte inter-campi, bolsa alimentação aos estudantes carentes dos novos campis, dentre várias outras vitórias que só foram conseguidos graças a vitóriosa ocupação de 18 dias no Salão de Atos da Reitoria. Decisões que precisaram da ocupação para serem tomadas por José Geraldo, o reitor da esperança vencida pela incompetência.
Com a reforma prevista de 1 ano da CEU ( que a experiência do Campi Ceilândia provou que demorará o dobro, triplo ou quadruplo de tempo ) não são só os novos estudantes de baixa renda que entram todo semestre na UnB e que não terão onde morar e que se virar com R$510,00 mas também um foco de pressão que será diluído.
Significa politicamente que se o Timotismo voltar ao poder da Universidade no ano que vêm, ano de eleição para a Reitoria, processo de retorno que está sendo extremamente facilitado pela péssima Gestão de José Geraldo, a próxima administração terá muita tranquilidade em saber que os “pobres” da Universidade, aqueles que estão sempre reivindicando e lutando por uma assistência estudantil digna e verdadeira, estarão espalhados pelas cidades satélites do DF e não conseguirão se mobilizar e incomodar a Reitoria. Levando-se em conta também que o DCE da UnB permaneça nas mãos do PT como nos últimos dois anos, num conluio extremo com o Reitor que também é do PT.
Retirar os estudantes do Campus Darcy Ribeiro implica em muitas outras questões que não são visíveis facilmente por quem não vive a questão, e são diversos. Na semana passada por exemplo um estudante que se mudou da CEU para o Paranoá foi ferido com um tiro na perna quando se encaminhava para a Universidade.
Tudo o que os estudantes da CEU reinvidicam é que deixem um dos dois blocos da CEU habitado, com os estudantes que não querem sair do Campus e gerando vagas aos novos estudantes que ingressam todo semestre na UnB, e reforme primeiro um bloco, depois o outro.
A Reitoria se nega a negociar qualquer hipótese que conserve os estudantes no Campus, como a opção de utilizar o recurso que está aprovado desde 2008 e que até hoje não foi executado para a construção de um prédio novo, e não a reforma, com capacidade para 600 estudantes. ( mas o Beijodromo, esse saíu em 5 meses e custou a bagatela de 5milhões )
Em tudo isso o que está claro é que a tática adotada pela Reitoria é tentar vencer @s estudantes resistentes pela truculência, pelo desgaste moral e psicológico, até conseguir sobrepor o direito a assistência estudantil a vontade de um reitor que não soube dialogar e prefere a força ao direito que ele quando era apenas um teórico, gostava tanto de proferir!
Toda força e resistência aos estudantes da CEU até a vitória.
Abraços de luta,
* estudante de Letras da UnB – não morador da CEU
domingo, 1 de maio de 2011
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