FELIZ DIA DAS MÃES!
Por Heloísa Helena
A minha mãe Helena foi como nós costumamos falar “pai-e-mãe”... meu pai Luiz morreu de câncer ósseo com apenas 35 anos quando eu era ainda uma bebezinha de 2 meses! E foi minha mãe, em nossa pobre casa no interior de Alagoas, quem me ensinou as mais belas lições de Coragem, Honestidade e Solidariedade!
A Coragem por ser uma desbravadora... cresceu no sertão, ficou órfã aos 14 anos, ajudou a criar os irmãos no “cabo-da-enxada” e só foi ser totalmente alfabetizada quando eu consegui entrar na escola com 8 anos e ela voltou a estudar! Virava as noites numa máquina de costura... nunca esquecerei o som do pedal da máquina enquanto eu muitas vezes sentava ao lado com minhas crises de asma ou problema renal ou pulmonar. Aliás, eu tinha tanto problema de saúde que todo ano diziam que eu ia morrer... era tanta promessa que faziam que com 7 anos eu tinha o cabelo no joelho e quando cortaram (pagando promessa) eu cai da cadeira de tanta leveza que deu desequilíbrio! Risosss... e pra azar do banditismo político eu vivi muito mais!
A Honestidade pelo exemplo... nunca esqueço de um dia em que ela me obrigou a devolver minúsculas continhas azuis que sobraram de um vestido que ela costurava e eu as achei e preguei num vestidinho de uma boneca! Na hora não consegui entender e briguei tanto que levei mais uma surra! Exceto a surra a lição foi maravilhosa... entrei no mundo podre da política e não fui contaminada em nenhum momento por esse submundo putrefato! Aprendi a Honestidade para as grandes coisas pelos ensinamentos nos pequenos exemplos... e certo dia mergulhando na linda Praia do Francês vi a enorme concha mais bela da minha vida... era tão linda que sentei nas pedras para visualizar seu esplendor à luz do sol... e depois humildemente a devolvi mesmo sabendo que talvez alguém acabasse levando-a pra enfeite e desabrigando seu antigo morador!
A Solidariedade aprendi na caridade sincera, que nada tem a ver com o assistencialismo demagógico... minha mãe doava a quem pedisse em nossa porta o alimento que já era tão pouco em nossa mesa! Ela conhecia como poucos a partilha do pão! E podia compartilhar em nossa pequena casa (onde eu dormia com ela numa cama na sala!) da tolerância religiosa aos pequenos gestos cotidianos de bondade humana.
Neste Dia das Mães minha homenagem é para Dona Helena e para tantas outras mulheres que foram presença inestimável ao longo da minha vida como se fossem também minhas mães e que me ajudaram a ser uma mãe, especialmente generosa e amiga para os meus filhos e filha, minha netinha e tantos mais dos nossos filhos da humanidade!
Minha homenagem é para todas as Mães... dos seus filhos do útero e dos seus filhos do mundo... esquecidas ou lembradas, presenteadas ou humilhadas, simples ou sofisticadas... Mães... e assim reproduzo (mesmo reconhecendo que alguns homens são como mães aos filhos) para todas as Mães, que são na verdade grandes mulheres, a simples mas emocionada homenagem que fiz no Dia da Mulher:
“Dia Internacional da Mulher... são muitas histórias para explicar o surgimento da data...das mulheres socialistas nas ruas do leste às lutadoras operárias americanas tecelãs de tecido lilás!
As histórias de agora também são muitas... parecem mesmo aquela que Galeano contava de uma antiga mulher de imensa saia cheia de bolsinhos, em cada um deles papeizinhos que ao serem retirados ressuscitavam esquecidos e mortos e todas as andanças do bicho humano.
Queiramos ou não em cada uma de nós recontamos as muitas histórias de outras mulheres espalhadas pelo mundo... no silêncio da neve ou da solidão, nas dunas do deserto ou do mar, nos sertões ou nas cidades, na imensidão das florestas ou das pedras cortadas pelos rios... Afinal, sorrisos e lágrimas são mesmo iguais em qualquer lugar do mundo!
A nossa Coragem vem lá das negras guerreiras que foram açoitadas, marcadas com ferro em brasa, penduradas em ganchos de ferro que lhes atravessavam as costelas, mas nada foi capaz de impedi-las de lutar a gloriosa – mesmo que nem sempre vitoriosa - luta da liberdade!
A nossa Intuição vem lá das índias – lobas, corujas, águias, ursas, beija-flores... – decifradoras dos mistérios das matas, florestas, caatingas... colhendo as folhas de todos os remédios e seguindo as estrelas com seus filhos pendurados dividindo leite com outros bichinhos!
A nossa Liberdade vem de muitas mulheres... brancas, negras, gordas, magras, novas, antigas, de todas as religiões ou sem nenhuma delas... livres e ousadas para usar o mais vermelho dos batons e sair mundo afora como mestras das artes do encantamento... ou livres e ousadas de cara lavada feito lírios dos campos e ostentando as rugas talhadas pelas dores do tempo!
De nada valerá a inveja entre nós... a vã tentativa de apagar na outra o brilho que gostaríamos de ter. De nada valerá a perseguição implacável às outras... reproduzindo as línguas cínicas, machistas e maldosas que condenam nas mulheres o que nos homens aplaudem.
Somos todas igualmente mulheres andarilhas e lutadoras do povo ou condenadas nas prisões domésticas olhando a vida pelas brechas das suas janelas... Somos todas donas do nosso amor e do nosso corpo ou vendidas com a alma dilacerada e a auto-estima destruída... Somos todas em cada uma de nós... em tristezas, alegrias, amores, segredos dolorosos, fraquezas inconfessáveis...apenas Mulheres... e Grandes Mulheres... untadas nos perfumados óleos de ternura e fúria... ostentando as cicatrizes que as lágrimas deixaram na alma como sinais sagrados das suas lutas... colhendo flores e frutos e semeando Vidas nesta maravilhosa experiência de ser Mulher!”
Beijos!
sábado, 7 de maio de 2011
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