terça-feira, 22 de março de 2011

As razões para o protesto Palestino do dia 15 de março

Por  Rawan Abu Shahla, pertence ao Grupo “ Jovens de Gaza Estouram” e vive em Gaza.

Do site Rebelión.org



Somos um grupo de jovens palestinos que nos unimos com o único propósito de deixar para trás nossas identidades e filiações políticas e decidimos colocar nossos melhores interesses comuns acima de tudo, e através da nossa bandeira da Palestina. Fizemos um chamado para manifestações pacíficas na terça feira dia 15 de março por toda nação Palestina: na Faixa de Gaza e Cisjordânia, nos territórios de 1948 e na diáspora palestina, convocando todo o nosso povo sob o mesmo lema: “O povo quer acabar com a divisão!”.

Convocamos a ação pacífica em apoio a unidade política palestina sob o mesmo símbolo: a Organização pela Libertação da Palestina (OLP).A divisão da entidade política palestina afetou negativamente a todos e a cada um dos aspectos das nossas vidas: social, econômico, educacional, intelectual. São os palestinos comuns quem está pagando o preço de 4 largos anos de divisão, que só beneficie ao ocupante israelense.

Nossa campanha para pôr fim à divisão nasceu de um pensamento que promoveu o debate público. Alguns jovens decidiram fazer todo o possível para que esta iniciativa seja levada a cabo. Dia a dia a idéia cresceu, e se converteu num plano, e depois numa decisão pública que já não pode silenciar-se ante ao medo ou ante a opressão. Mais importante: já não se pode mais ignorar ou esquecer. Assim, chegamos à decisão de nos manifestarmos no dia 15 de março, para expressar rechaço do povo ante o status quo e as práticas das “lideranças” políticas.

É uma idéia tão bonita em sua simplicidade e pureza, que todas as tentativas dos partidos políticos por alterá-la, complicá-la ou acusá-la de servir a alguma agenda “subversiva” fracassaram. E ao perceber que esse é um movimento autêntico, que não é mais que o reflexo da consciência e do despertar do povo palestino, os partidos políticos ficaram consternados e confusos. ‘Reprimimos ou não reprimimos?’, se perguntaram os partidos.

Os vencedores da disputa Hamas X Fatah

 

Nas últimas semanas, trabalhamos com todo coração para estender a idéia entre as pessoas, animando-as a participar com suas famílias, a confiar que sua voz seria escutada uma vez que se levante, a crermos uns nos outros e compreendermos que estamos juntos e isto importa mais que as filiações ou crenças que professamos. Tentamos convencer o povo de que unindo-se ao nosso chamado, venceremos os medos que percorrem nossos interiores, e que se nos mantemos juntos como um só corpo, para proclamar e exigir nossos direitos, ninguém poderá nos oprimir.

As manifestações pacíficas do dia 15 de março serão o começo de uma série de atividades e o primeiro dia de duração indefinida. A idéia principal é que vamos manter as manifestações até que a “liderança” política se submeta às demandas do povo e empreenda ações sérias para cumpri-las. O que aconteça depois, está nas mãos do povo.

Esse movimento é do povo e para o povo. Quanto ao movimento Gaza Youth Breaks Out (GYBO) [Os Jovens de Gaza estouram] e outros grupos participantes que trabalham sobre o terreno da unidade, juntos temos honra de iniciar esta iniciativa. Tudo o mais depende de como responda as ruas palestinas e a força que será demonstrada.

As coisas não serão fáceis. Há ameaças de possível violência de alguma das partes ou temor de um possível caos. Mas temos nossa fé posta neste chamado, e em nosso povo. Apostamos na consciência patriótica palestina: porque todos saberão aceitar, respeitar e saudar nossas diferenças, perdoar o passado e começar de novo, mostrando ao mundo um verdadeiro exemplo de tolerância palestina. Nossos chamados são pacíficos e nossos único objetivo é restaurar a harmonia perdida na sociedade palestina.



A campanha para dar fim à divisão é uma decisão pública longamente esperada, para extirpar e eliminar os medos que nos rodeiam. Há uma lista de razões que explicam porque o povo está farto, e é por isso que vão escutar-nos.

Os palestinos compreenderam que com seu silêncio e submissão à vontade dos partidos políticos, aceitando ser manipulados e atemorizados, se converteram em cúmplices e por isso tão culpáveis como os próprios partidos.

As pessoas vão sair às ruas e fazer todo o possível para conquistar a mudança e quebrar o sentimento geral de indiferença que nos está agoniando nos últimos quatro anos.

Nós, palestinos, com todas as nossas diferentes origens, não permitiremos que nos sigam ignorando. Proclamaremos nossos direitos como cidadãos e seres humanos que merecem respeito, proteção e reconhecimento como a única fonte de poder legítimo; Nosso governo deve compreender que nós, o povo, somos uma força com a qual é necessário contar. Não vão poder enganar-nos com discursos e palavras, pois estes já tivemos o suficiente. Acreditam os que as ações falam mais alto que as palavras e nós, o povo palestino, estamos fazendo nossa parte para dar à “liderança” uma oportunidade para reconquistar nossa confiança.

 No dia 15 de março daremos fim à relação unidirecional entre governantes e povo.

 A divisão entre palestinos tem que acabar já! A divisão só serve para debilitar nossa causa! A Autoridade Palestina, ao invés de permanecer com símbolo internacionalmente reconhecido de uma luta justa e legítima, se deteriorou e se converteu em uma ilusão de autoridade, com posições que permitem que nosso verdadeiro opressor e ocupante, Israel, nos viole continuamente. Israel continua seqüestrando e encarcerando mais e mais palestinos inocentes sem julgamento, invadindo nossos territórios, destroçando nossos lares, arrancando nossas árvores, roubando nosso patrimônio, bombardeando nossas cidades, assediando a Faixa de Gaza durante 5 anos consecutivos. Israel continua violando as resoluções da ONU, sem que ninguém se responsabilize por isso! E se não há uma liderança política palestina adequada, não haverá capacidade de impedir que Israel siga fazendo o que bem entender.

 Por isso, nossa mensagem é clara e singela: acabar com a divisão, respeitar a opinião pública palestina, trabalhar pela prosperidade dos palestinos para aplanar o caminho de estabelecimento do Estado Palestino democrático e independente. A unidade é uma condição necessária.

 Nosso chamado vai a todos os palestinos. Sejam fiéis a vocês mesmos, sejam fiéis a sua causa, sejam fiéis aos sacrifícios que nossos grande povo realizou nos últimos 63 anos de sofrimento.  Saia à rua no dia 15 de março, denuncie a divisão e denuncie a tudo o que provoque a divisão.

 Juntos, em nome da nossa sagrada causa, de nossos mártires e prisioneiros, chamamos a unidade sob a bandeira palestina. Não há absolutamente nenhuma dúvida em nosspos corações de que nossas manifestações pacíficas constituirão o amanhecer de um novo dia na Palestina, ao qual cada palestino e cada palestina sentirá que pertence.

Rahwan Abu Shahla pertence ao Grupo “ Jovens de Gaza Estouram” e vive em Gaza.

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