Estados Unidos, trabalhadores e a crise do capitalismo
Por Ramiro Diegues Alvares Junior
O Senado Americano aprovou para o estado de Michigan, a pedido do governador, lei em que o governador poderá demitir o prefeito, todos os empregados da prefeitura e colocar uma empresa para administrar o município.
Além de Wisconsin temos Michigan com problemas sérios de gestão da máquina pública.
As soluções tem sido muito anti democráticas.
Os EUA estão em crise, e estão adotando saídas que não respeitam a coletividade, antes, estão cada vez mais privilegiando o privado em detrimento do público.
Parte da população está se revoltado.
A matéria abaixo ilustra tudo o que está acontecendo, a grande mídia dos EUA está calada.
De Democracy Now, republicada por Sindicato dos Metalúrgicos do ABC:
Estudantes convocam mobilização nacional nos EUA
Amy Goodman e Michael Moore
Enquanto os republicanos de Wisconsin aprovavam o projeto de lei contra os sindicatos, do governador Scott Walker, no Senado estadual, um novo projeto de lei no Michigan ia muito mais longe. Ele prevê que gestores financeiros de emergência possam romper contratos coletivos, afastar funcionários eleitos e inclusive dissolver corpos municipais inteiros. Os republicanos do Senado de Michigan aprovaram esta semana esse projeto de lei e já foram convocados protestos em frente ao capitólio estadual de Lansing. Falamos com o cineasta Michael Moore. “É uma guerra de classes contra o povo”, diz Moore. “Creio que o mundo inteiro sentiu-se inspirado pelos acontecimentos na Tunísia, no Egito e por todo o Oriente Médio. E ainda que seus problemas sejam distintos dos nossos, o espírito é o mesmo. Necessitamos de um movimento em defesa da democracia neste país, com urgência, agora”.
Amy Goodman: Ontem à noite, o cineasta e ativista Michael Moore esteve com nós no estúdio de Democracy Now quase uma hora depois que os republicanos votaram a lei anti-sindical no Senado do Estado de Wisconsin. Perguntei a Michael Moore qual sua reação diante deste fato.
Michael Moore: Foi um choque para todos. Conversei com várias pessoas em Madison nas últimas horas. As pessoas seguem saindo para as ruas. Há pouco fui ao programa de Rachel, transmitido pela MSNBC e disse para quem estivesse perto de Madison para que pegasse seu carro e se dirigisse para o Capitólio. Isso é apenas uma grande paródia. Ocorre o mesmo em outros estados. Apenas duas horas antes, no Estado de Michigan, meu Estado, o Senado submeteu à votação – a Câmara já havia aprovado este projeto de lei – um projeto que dá ao governador o que chamam de “poderes emergenciais”, com os quais ele pode basicamente despedir o prefeito eleito, o conselho municipal ou a junta escolar de qualquer cidade de Michigan, entregando essas funções a uma corporação.
Não estou inventando isso: pode entregar a administração de uma cidade para uma empresa ou nomear um gerente corporativo para administrar a cidade. Não uma pessoa eleita, mais sim uma pessoa ou empresa que administre a cidade. Essas coisas ocorreram nas últimas horas.
Se as pessoas não entendem até agora o nível desta guerra – porque isso é uma guerra, uma guerra de classes contra o povo deste país levada pelos setores do poder e as ferramentas que compraram e pagaram, que agora estão nestas legislaturas – então digo algo mais: quando essa conversa estiver no ar em teu programa, as pessoas já estarão em Lansing. Elas vão lotar, na quinta-feira, a praça do Capitólio que está na cidade de Lansign. Hoje ao meio-dia também ia ocorrer uma grande manifestação em Indianápolis. Os democratas saíram da cidade para que não houvesse quórum. E as pessoas permanecem aqui nos jardins do edifício do Capitólio neste momento em que também estamos aqui. E creio que isso vai continuar. E vai ir mais além.
Acabo de receber notícias dos estudantes secundaristas. Estão convocando uma greve de estudantes para sexta-feira às duas da tarde. Eles estão convidando estudantes de todo o Wisconsin e de todo o país para que se unam a um protesto massivo de estudantes secundaristas às duas da tarde, na última hora de aula. Todos devem sair, escolher um ponto de encontro e realizar a sua manifestação. E que se escute a voz dos estudantes falar sobre o que estes adultos estão fazendo com a educação. A propósito, estão afetando a educação de uma tal maneira que vão prejudicar as pessoas pelo resto da vida.
Amy Goodman: Fala-se de uma greve geral?
Michael Moore: Se chegarmos a isso, é o que vai acontecer. Creia-me, se seguem pressionando assim é o que vai ocorrer. Eu vi isso em Madison. Escutei o que os bombeiros e caminhoneiros diziam ali: quem iriam parar o país. Os próprios sindicatos não poderão organizar a greve porque estariam violando a Lei Traft-Hartley, mas não importa, porque os sindicatos não organizaram essas manifestações, para começar. Elas foram organizadas pelos estudantes e por outras pessoas que simplesmente se encorajaram e disseram: “Não aguento mais”. Creio que é isso que vai acontecer. Espero que não chegue a isso (greve geral), mas se chegar é o que vai acontecer. E eu vou estar lá junto com todos. Se temos que fechar, vamos fechar.
Realmente estamos diante de um novo tempo. E creio que o mundo inteiro se inspirou no que aconteceu na Tunísia, no Egito e em todo o Oriente Médio. E ainda que seus problemas sejam diferentes dos nossos, o espírito é o mesmo. Necessitamos muito de um movimento a favor da democracia neste país neste momento. Não na semana que vem, mas agora.
Amy Goodman: Você vai voltar a Madison?
Michael Moore: Sim, irei. Mas creio que primeiro tenho que ir a Lansing em algum momento, porque estou aqui em Nova York trabalhando em meu próximo projeto. Mas fui a Madison no sábado passado. Estive em contato com todos em Michigan. Se analisamos este projeto de lei de Michigan, ele é quase pior que o de Wisconsin, se é que isso é possível. É literalmente um golpe de estado corporativo e uma anulação dos direitos democráticos dos habitantes do Estado de Michigan. É simplesmente algo horroroso, nunca pensei em ver isso em minha vida.
Quando os republicanos e a estrutura de poder corporativo se deram conta que podiam saquear o tesouro público impunemente e tirar os lares de milhões de pessoas, o fizeram e não houve nenhum protesto, não houve um levante, não aconteceu nada. Chega Obama e designa um deles como nosso Secretário do Tesouro. Silêncio. Não houve nada. Bem, se você for um peixe gordo de Wall Street, Amy, e vir isso, diria: “Meu Deus, acabamos de receber um resgate financeiro de bilhões de dólares. Agora estamos fazendo com que o governo federal imprima bilhões de dólares que, ao final, serão nossos. Deixamos um milhão de famílias na rua ao executar suas hipotecas. E não fazem nada. Não fazem nada”. É a mesma coisa que acontece com qualquer delinquente que não é detido nem castigado pelo delito que cometeu. Ele seguirá cometendo o delito.
O delito de hoje, das últimas 24 horas, é o que fizeram em Michigan, em Wisconsin e o que estão tentando fazer em todos os demais estados. Pensam que podem sair com o seu. Mas creio que estão equivocados. Creio que as pessoas vão sair massivamente às ruas nas próximas 24 e 48 horas. Creio que a manifestação deste sábado em Madison será a maior já vista. Não me surpreenderia se reunir um quarto de milhão de pessoas. Vá a Madison neste sábado. Isso vai acontecer em todo o país. Os estudantes secundaristas estão fazendo a sua parte.
Amy Goodman: Obrigado, Michael Moore.
Michael Moore: Bom, muito obrigado também por seguir tão de perto esses acontecimentos e por tudo o que já fizeste por esse tema. É um ponto de inflexão. Acredito nisso profundamente com todo meu coração. Os protestos são muito espontâneos e não estão organizados pela velha escola da estrutura de poder deste tipo de coisas. Creio que serão recompensados pelo que fizeram e pelo que seguem fazendo. Convido a todos que estão me escutando e vendo, este é o nosso momento. Realmente é o nosso momento. Levantem-se todos de seus sofás agora mesmo, por favor. Muito obrigado.
Amy Goodman: Michael Moore, cineasta ganhador de um Oscar. Havia dito que não ia fazer novos documentários até que as pessoas começassem a fazer algo neste país. Não sei, mas pode ser que este seja o momento.
Tradução: Katarina Peixoto
quinta-feira, 17 de março de 2011
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