terça-feira, 15 de março de 2011

O caos da saúde continua
Do Correio:

Usuários da primeira UPA do DF, em Samambaia, reclamam da falta de médicos. Ontem, uma mãe ficou quatro horas na fila e não conseguiu que a filha de 10 meses fosse avaliada por um pediatra








A primeira Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Distrito Federal, em Samambaia, completa hoje um mês de funcionamento. A novidade, que deveria desafogar o atendimento no Hospital Regional da cidade, amarga a insatisfação dos usuários. A falta de profissionais, por exemplo, prejudicou ontem o serviço de pediatria no local.

Diante da demora, várias mães que aguardavam atendimento dos filhos se desentenderam com os funcionários da UPA. O Correio presenciou o bate-boca. A dona de casa Amanda Lopes, 16 anos, esperava desde as 8h por uma avaliação médica para a pequena Yasmin Marques, de 10 meses, que passou a noite chorando e desde o fim de semana tem apresentado dificuldades para se alimentar. Ao meio-dia, foi informada de que não havia pediatras no local. “Os hospitais nos encaminham para a UPA. Quando chegamos, não conseguimos a consulta. Como um lugar tão novo não dá conta da demanda? A gente acaba perdendo a cabeça”, desabafou Amanda.

A empregada doméstica Ana Beatriz da Silva, 47 anos, também se descontrolou. Desde cedo, o filho dela, Gabriel Ferreira, 13, sentia dores de ouvido e não conseguia ser recebido por um clínico-geral. “É a primeira e última vez que espero atendimento aqui. Perdi uma manhã inteira de trabalho e não consegui resolver o problema”, reclamou Ana Beatriz.

O tumulto ocorreu por conta de imprevistos na escala de médicos. De acordo com a Secretaria de Saúde, das duas pediatras convocadas para os trabalhos da manhã, uma pediu exoneração e a outra só cuidava de casos graves. Durante a tarde, segundo o órgão, estavam previstas a mesma mulher que, por vontade própria, foi destituída do cargo e outra profissional, que entrou de licença médica. A confusão nas escalas provocou a irritação de pacientes no saguão.

Longa espera
O Governo do DF deve abrir novas unidades de pronto atendimento em outras regiões administrativas. A secretária de Comunicação, Samanta Sallum, afirmou que as UPAs do Recanto das Emas e de São Sebastião devem ficar prontas até 21 de abril. Além disso, o Executivo estuda a criação de outros quatro pontos de atendimento.

A insatisfação, no entanto, se repete nas demais instituições públicas de saúde. No Hospital Regional do Gama, no início da tarde de ontem, os bancos do pronto-socorro foram insuficientes para a quantidade de pacientes que aguardavam atendimento. “É sempre essa demora, dá a impressão de que nunca vai chegar a sua vez. É muita gente para poucos médicos”, avaliou a empregada doméstica Alaíde Cardoso, 37 anos.

O deficit de pessoal é um dos principais motivos da longa espera a que tem de se submeter quem precisa da saúde pública, segundo a Secretaria de Saúde. Além disso, de acordo com a pasta, muitos casos de média complexidade, que poderiam ser atendidos em UPAs, acabam procurando hospitais, piorando a questão da demora. A assessoria de imprensa da secretaria informou ainda que vai lançar um concurso para suprir a carência de profissionais da saúde. A previsão é de que, até 2013, 11.730 novos especialistas sejam contratados por meio de seleções públicas.

Enquanto a vez não chega, a falta de informações deixa os pacientes ainda mais chateados. Com dores no estômago e nos rins, a aposentada Avelina Maria de Jesus, 65 anos, esperou uma consulta por mais de seis horas no Hospital Regional de Santa Maria. “Não tem como saber se tem médico ou quantas pessoas estão na frente. Ninguém explica o que está acontecendo e a gente fica a mercê dos atendentes. Fico com medo de dar qualquer saidinha, ser chamada e perder a vez”, explicou.


Balanço
A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia foi inaugurada em 15 de fevereiro. O balanço do primeiro mês de funcionamento do local soma cerca de 12,2 mil atendimentos. A média, segundo a Secretaria de Saúde, foi de 428 atendimentos por dia. A UPA recebe atualmente casos de média complexidade nas especialidades de clínica médica, pediatria, odontologia e ortopedia.

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