quinta-feira, 24 de março de 2011

A revolução árabe e a política do imperialismo: um debate necessário.
Por Pedro Fuentes, Secretário de Relações Internacionais do PSOL
 
1. A intervenção das potências imperialistas para fazer a zona de exclusão e desta maneira intervir na guerra civil da Líbia suscitou um legítimo debate (sobretudo entre socialistas e anti-imperialistas da América Latina) a respeito de qual deve ser a posição da esquerda diante da revolução árabe a partir desta intervenção. Uma parte muito importante destes setores haviam apoiado as revoluções democráticas na Tunísia e Egito com certo receio, e agora passaram a dizer que a política deve ser essencialmente a luta contra a intervenção imperialista. Em algumas declarações surgiu até a idéia de que caso não se derrote o imperialismo na Líbia, este vai avançar sobre Cuba e Venezuela. Neste sentido, criticou-se a resolução votada por unanimidade na Executiva Nacional do PSOL, porque seguimos defendendo a centralidade da luta contra Khadaffi, sem ignorar o perigo da intervenção imperialista no processo revolucionário árabe como um todo. 
2. Na declaração do PSOL, não deixamos de denunciar a política do imperialismo na região, seus objetivos reacionários, sua função de deter a revolução em curso.  O ponto de partida da análise deve ser regional. Não se pode analisar a situação da Líbia isoladamente. A revolução agora chegou à Síria, e se confirma como uma onda de revoluções democráticas contra regimes autocráticos e, no geral, pró-imperialistas, que dominaram a região por três décadas. Estes regimes, especialmente o egípcio, foram a peça chave para que o imperialismo isole a Intifada Palestina, permitindo massacres do Estado Sionista. Foram também chaves para que o Hezbolah se enfraquecesse na Líbia e foram pontos estratégicos para as duas guerras do império contra Iraque.
A revolução democrática em curso já derrotou Ben Ali na Tunísia e Mubarak no Egito, e custou mais de 600 assassinatos nestes países, além de dezenas de mártires no Iêmen, Barhein, Argélia, Síria, Marrocos. A onda revolucionária assumiu um movimento quase irreversível de decadência destas regimes, e por isso, de grande derrota ao imperialismo. É a derrota ao imperialismo mais importante produzida pelas massas das últimas décadas.
3. Para frear a revolução árabe, a política do imperialismo tem várias caras, responde na defensiva e aparece como incongruente e inconcluso para a população norte-americana. No Egito e na Tunísia, onde já triunfou a revolução democrática, o imperialismo apoiou aos ditadores constrangido e até o último minuto possível. Agora, tentam se adaptar ao processo, criando condições de contra-revolução para impedir que a luta avance. Para isso, se apóiam em velhos dirigentes que agora assumem um papel democrático, e tentam cooptar os setores políticos surgidos da própria revolução. No Barhein, país onde está instalada a frota naval norte-americana, o imperialismo apoiou a invasão da Arábia Saudita, que já custou centenas de mortos. Um triunfo da revolução neste país, govrenado por uma minoria sunita, significaria o regime de uma maioria xiita, ou seja, um segundo Irã da região. Uma política de apoio às ditaduras é explícita também na própria Arábia Saudita, enquanto no Iêmen, onde ocorre um avanço intenso da revolução democrática e fortes elementos de decomposição do regime, o governo ditador segue se mantendo.
4. A primeira pergunta é para se compreender a Líbia é: qual a é a linha divisória que separa a revolução da contra-revolução na atual guerra civil? O povo que se insurreicionou, enfrentou o exército de Khadaffi, conquistou um setor do exército para a luta revolucionária, que quer derrubar o regime, é o lado correto para os socialistas. Este sujeito social amplo e muito aguerrido é a linha divisória entre revolução e contra-revolução. Ou seja, será uma conquista das classes trabalhadoras de todo o mundo se o regime de Khadaffi for derrubado. Não por acaso, os governos de Marrocos e Argélia onde também chegaram os protestos populares, apóiam o ditador líbio com armas e mercenários.
5.
1. A política do imperialismo na Lìbia segue os mesmo objetivos que no conjunto dos países árabes: deter a revolução. O imperialismo se manteve silencioso e estático durante as 3 primeiras semanas, quando a revolução chegou a Trípoli e o regime de Khadaffi ficou por um fio. Interviu com a zona de exclusão no último minuto, quando Khadaffi estava entrando em Benghazi. Ou seja, quando a revolução na Líbia estava me pleno retrocesso, debilitada pela contra-revolução de Khadaffi. A forma de atuar do imperialismo deixa claros seus verdadeiros objetivos: uma vez detida a revolução Líbia, buscar o controle da situação regional e cooptar os rebeldes. Toda invasão imperialista traz consigo uma grande ameaça. Pela Líbia, tentarão manter o controle econômico e ideológico desta parte do mundo árabe e sua riqueza petrolífera. Mas quem pode impedir que isso ocorra NÃO É KHADAFFI, pois este continua massacrando os rebeldes líbios. Quem pode fazê-lo é o próprio movimento revolucionário em curso. Quanto antes os revolucionários rebeldes derrubem o ditador, melhor será, e o principal agente desse processo são as massas árabes que carregam essa tarefa em toda a região.
Por isso, quem faz do centro da sua política a luta contra a invasão, deixa de lado a luta contra Khadaffi, objetivamente se coloca ao lado de Khadaffi e de seu exército que tem como objetivo massacrar a resistência dos rebeldes revolucionários e golpear a revolução em curso.

2. A única alternativa correta seria reconhecer o governo rebelde como uma força beligerante, apoiando-os de todas as formas possíveis, e respondendo positivamente ao que eles exigem. Por isso, defendemos essa posição aos socialistas e anti-imperialistas: sabemos do perigo regional que representa a intervenção imperialista e seguimos apoiando a derrota de Khadaffi, pois só assim o povo poderá organizar uma nova determinação e um novo regime.
Quanto antes cair Khadaffi, melhor! Melhor para a auto-determinação e soberania do povo líbio, melhor para revolução democrática árabe que se espalha na região.
6. O governo rebelde foi enfático ao manifestar ser contra qualquer intervenção terrestre das forças da OTAN. Os rebeldes necessitam de armas e ajuda humanitária, e foi isso que solicitou. A melhor forma de combater  os planos do imperialismo na Líbia é lutar contra Khadaffi. A suposta neutralidade do governo brasileiro é uma postura ambígua e hipócrita de deixar que Khadaffi e os imperialistas façam aquilo que bem entenderem com o povo líbio.   A única alternativa correta seria reconhecer o governo rebelde como uma força beligerante, apoiando-os de todas as formas possíveis, e respondendo positivamente ao que eles exigem. Por isso, defendemos essa posição aos socialistas e anti-imperialistas: sabemos do perigo regional que representa a intervenção imperialista e seguimos apoiando a derrota de Khadaffi, pois só assim o povo poderá organizar uma nova determinação e um novo regime.

Quanto antes cair Khadaffi, melhor! Melhor para a auto-determinação e soberania do povo líbio, melhor para revolução democrática árabe que se espalha na região.

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