Giddens e Kaddafi
Se o Estado é braço armado do capital (este não se sustenta um dia sem o apoio daquele), a universidade é seu braço ideológico.
Um dia Stanley Aronowitz ('The kowledge factory', 2000) disse que economistas, assim como sociólogos e cientistas políticos são, com poucas exceções, servos intelectuais do poder e técnicos de controle social na medida em que dão legitimidade científica a políticas.
Antes, Charles Wright Mills ('The sociological imagination', 1959) dissera que eles podem fazê-lo porque suas teorias servem de várias formas à justificação ideológica da autoridade; pesquisas com fins burocráticos tornam a autoridade mais efetiva e mais eficiente ao provê-la com informação.
Sir Anthony Giddens e seus 'fellows' parecem ter dado um passo a mais nessa direção já estabelecida.
Por Daniel Bin
Um dia Stanley Aronowitz ('The kowledge factory', 2000) disse que economistas, assim como sociólogos e cientistas políticos são, com poucas exceções, servos intelectuais do poder e técnicos de controle social na medida em que dão legitimidade científica a políticas.
Antes, Charles Wright Mills ('The sociological imagination', 1959) dissera que eles podem fazê-lo porque suas teorias servem de várias formas à justificação ideológica da autoridade; pesquisas com fins burocráticos tornam a autoridade mais efetiva e mais eficiente ao provê-la com informação.
Sir Anthony Giddens e seus 'fellows' parecem ter dado um passo a mais nessa direção já estabelecida.
Por Daniel Bin
Da terceira Via ao beco sem saída: Anthony Giddens e a London School of Economics se enrolam no apoio à família Kaddafi
De CartaCapital - Gianni Carta, 14 de março de 2011 às 10:34h
A London School of Economics (LSE) continua a investigar o suposto plágio da tese de doutorado, aprovada em 2008, de Saif al-Islam, filho do coronel Muammar Kaddafi. Um processo que deveria ser célere graças às novas tecnologias. Mas a LSE está – como o coronel das dunas – em busca de uma estratégia de saída. Ou de morte digna, visto que Saif, outrora tido pelos seus mentores londrinos como um “reformista”, fala em lutar “até a última bala”.
Enquanto isso, cada bombardeio daqueles que ousam se rebelar contra o regime dos Kaddafi parece ecoar na reputada universidade. Estudantes da LSE manifestam-se pela devolução à Fundação Kaddafi da generosa doação de 1,5 milhão de libras. Na sua carta de demissão, o reitor Howard Davies, ex-vice-governador do Banco da Inglaterra, concede o “embaraço” provocado pelos elos da LSE com a fundação.
Mas insiste nas “boas intenções” do projeto para apoiar a sociedade civil no Norte da África. Outro integrante do conselho da LSE neste programa de “democratização” do Norte africano responde por David Held. Ex-mentor acadêmico de Saif, Held acreditava no projeto porque seu aluno parecia um adepto dos “valores liberais”. Essa percepção foi estilhaçada pelo recente discurso de Saif para a mídia internacional. O filho do rei das dunas se disse
pronto a lutar até a última “bala”. Held ficou “chocado”. Longe dos arquivos de bibliotecas, e em sintonia com os humores em remotas ruas de vilarejos líbios, Mark Allen, outro a sentar no conselho da LSE no projeto com a Fundação Kaddafi, certamente não ficou surpreso com o discurso de Saif. Ex-espião do MI6 no Oriente Médio, Allen teria sido figura-chave pelas boas relações do ex-premier Tony Blair com o coronel. Em 2004, Allen encerrou a carreira de espião e foi trabalhar, com o aval de Blair, para a British Petroleum. A gigante do petróleo, é claro, tem interesses na Líbia.
Allen teria sido fundamental na libertação de Abdelbaset Ali al-Megrahi, o ex-agente secreto líbio condenado à
prisão perpétua pelo atentado terrorista do avião da Pan Am a sobrevoar Lockerbie, em 1988. Em 2009, o governo escocês liberou Al-Megrahi por “razões humanitárias”: ele estava com câncer terminal de próstata.
Mas o diário britânico The Times revelou recentemente que Al-Megrahi parece gozar de boa saúde. Vive numa suntuosa villa em Trípoli. Na garagem guarda uma Lamborghini vermelha e um Hummer. Allen também atua no Monitor Group, grupo de consultoria global. O MG, com sede em Boston, “limpa” a imagem de governos como o de Kaddafi. Em dois anos de trabalho para o coronel, cobrou 2 milhões de libras. Embora, em 2003, a ONU tenha posto fim às sanções contra a Líbia, quando Kaddafi assumiu responsabilidade pelo ataque terrorista contra o voo da Pan Am, e renunciou ao terrorismo, o líder líbio precisou de um reforço dos serviços do MG.
Como conselheiro do MG e da LSE, Allen convocou Anthony Giddens, ex-reitor da universidade londrina, para encontrar o coronel na sua tenda em Trípoli. O parecer do sociólogo Giddens sobre Kaddafi e a Líbia seria uma maneira de “limpar” a imagem do rei das dunas e seu país. O sociólogo, hoje Lorde Giddens, de 73 anos, escreveu 34 livros traduzidos em 30 línguas, e é o pai da Terceira Via, ideologia que serviu apenas para justificar a manobra do Partido Trabalhista de Blair rumo ao centro. Fez muito sucesso nos anos 1990, assim como as costeletas do argentino Carlos Menem.
Por fim, a Terceira Via acabou em um beco sem saída. Após duas viagens à Líbia, Giddens produziu artigos para os diários La Repubblica, El País e The Guardian. “A Líbia, apesar de ter apenas um partido, não é particularmente repressiva”, escreveu em 2007. Segundo o sociólogo, Kaddafi seria popular. Todos, a começar por crianças nas escolas, terão acesso a computadores e à internet. E previu: “Dentro de duas ou três décadas, a Líbia poderá ser a Noruega do Norte da África: próspera, igualitária e com um olhar para o futuro…” Giddens, neste artigo, parece ter trocado a Terceira Via por uma pinguela.
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