quinta-feira, 28 de julho de 2011

No Norte, o improvável calote; aqui, também!
Há algo aparentemente inusitado acontecendo nestes últimos dias.
Nos EUA, segue a indefinição sobre a forma de elevar o teto da dívida pública. Creio que a não elevação é um tanto improvável, pois sem a possibilidade de o governo dos EUA continuar se endividando, creio que os banqueiros de lá e de todo o mundo não ficarão. Como serão eles a dar o tom do desfecho desse imbróglio, temo que os republicanos verão a sua tese de corte de gastos sociais colocada em prática. Torço para estar eu enganado.
Digno de comentário é que os republicanos falam em austeridade apenas quando é um democrata que está no governo (sugiro ver “How the deficit got this big”). 
Já aqui, ontem, o governo brasileiro divulgou ter atingido um superávit primário como nunca-antes-na-história-deste-país. O inusitado fica por conta da aparente ironia da história em que o devedor mais seguro ameaça não pagar ao mesmo tempo que um país de recente moratória (1987) “comemora” sua capacidade de pagamento.
Para secretário do Tesouro Nacional brasileiro, segundo reportagem de O Estado de S. Paulo de ontem, este “é o melhor junho da série. É o melhor 12 meses da série. Temos até aqui um resultado muito positivo”.
Positivo para quem? Para os credores da dívida certamente é. O que poderia ser mais positivo — para os credores, repito — do que um estado que concede as taxas de juros mais altas do planeta? Como não será “muito positivo” — para os credores, para que não paire dúvida sobre estas palavras — que um governo se esforce tanto para garantir que continuará pagando seus compromissos com uma pequena, ainda que poderosa, parcela da sociedade? Isso tudo num cenário internacional onde concedem-se as taxas de juros mais baixas — muitas delas negativas em termos reais — dos últimos anos e onde ameaças de não pagamento se multiplicam.
Por fim, a para completar a nossa tragédia, aqui nem mesmo se faz o debate que republicanos e democratas fazem nos EUA, ou que “socialistas” e conservadores fazem na Europa. Ainda que lá todos, no final, acabem convergindo para as velhas fórmulas de austeridade fiscal seletiva, ao menos os temas são discutidos e aponta-se para algum esclarecimento. E aqui?

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