Governo abandona de vez
a reforma agrária
Apenas 6 mil famílias
foram assentadas este ano no país, enquanto a concentração de terra aumenta e
os latifúndios improdutivos somam mais de 130 milhões de hectares
Por Lúcia Rodrigues
Gilmar Mauro fala da situação agrária no Brasil |
“A estrutura fundiária do Brasil continua a mesma
do período colonial”. A afirmação de Gilmar Mauro, dirigente nacional do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, não é mera retórica. Está
calcada em estudos que comprovam que pouco se avançou em termos de distribuição
da terra desde os tempos da Coroa Portuguesa.
O coeficiente de Gini, índice utilizado em
pesquisas científicas para medir o grau de desigualdade social, revela que a
concentração de terra no país até aumentou, se os dados analisados forem os do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 1950, os números do IBGE apontavam 0,840 de
concentração. Cinco décadas e meia depois, em 2006, esse índice subiu para
0,854. Quanto mais o índice se aproxima de um, maior o grau de concentração da
terra.
Dados do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) são levemente mais generosos. Por eles, se verifica que
houve uma ligeira queda na concentração fundiária, que passou de 0,836, em
1967, para 0,820, em 2010. Os indicadores nos dois casos demonstram que a
distribuição continua longe, de atender à demanda dos que pleiteiam acesso à
terra neste país.
Hoje, 1% dos grandes latifundiários domina mais de
40% das terras brasileiras. Não bastasse a altíssima concentração fundiária nas
mãos de poucos, ainda há outro agravante. A esmagadora maioria dessas
propriedades é improdutiva.
Dos 217,4 milhões de hectares registrados pelo
Incra como grandes propriedades, 136,8 milhões são identificados como
improdutivos. Não cumprem, portanto, a função social preconizada pela
Constituição Federal de 1988.
Mas o total de hectares de latifúndios improdutivos
no Brasil é muito superior à área reconhecida pelo órgão governamental. O
próprio Incra assume isso. A legislação existente dificulta que inúmeras
propriedades improdutivas sejam catalogadas como tal.
Os índices de produtividade da terra estabelecidos
em lei, com base no Censo Agropecuário de 1975, contribuem para isso.
Totalmente defasados, se ancoram em um modelo de agricultura que não faz mais
parte da realidade. O grau de mecanização adotado hoje, por exemplo, permite
que se produza uma maior quantidade de produtos em um menor espaço de terra.
“É uma defasagem absurda, são praticamente 40 anos
(de desatualização). Nesse período, a produtividade média do Brasil cresceu
demais. Por isso, muitas fazendas improdutivas acabam sendo classificadas como
produtivas. E não podemos desapropriá-las”, ressalta o presidente do Incra,
Celso Lacerda.
A crítica de Lacerda é procedente, muito embora
caiba ao Executivo alterar o índice de produtividade da terra. Para corrigir
esse indicador, o governo teria de publicar uma portaria que envolvesse os
ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. Uma canetada do
governo resolveria esse problema.
Elite não quer
“A reforma agrária sempre foi vista como uma
ameaça. A elite e os governos, inclusive o de Lula, não apoiaram a reforma
agrária. O que predominou foi uma política fundiária da elite”, alfineta Dom
Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás e presidente de honra da CPT, a Comissão
Pastoral da Terra, entidade ligada à igreja católica, que apoia os
trabalhadores sem terra.
O religioso também não poupa o Judiciário. “Além
das alianças políticas que foram prioritárias no governo Lula e no da
presidente Dilma, há a questão do Judiciário, que tomou partido pelo latifúndio
e pelo agronegócio. Isso é patente. Dizem que há juízes latifundiários”, afirma
indignado.
“O governo não tem interesse em mexer com os
grandes latifundiários. Não faz a reforma agrária, porque precisa desse modelo
agroexportador para garantir superávit. É um grande equívoco não democratizar a
terra. Nenhum governo, inclusive os do PT, teve a coragem de enfrentar os
latifundiários”, enfatiza o secretário de Políticas Sociais da CUT, Expedito
Solaney. O sindicalista, que também é filiado ao Partido dos Trabalhadores,
critica o corte no orçamento da União para a reforma agrária com o contingenciamento
promovido pela presidente Dilma Rousseff.
Para o geógrafo e professor da USP, Ariovaldo
Umbelino de Oliveira, o problema da reforma agrária é que ela saiu da pauta do
governo. “A facção do PT que está no poder e é hegemônica não quer a reforma
agrária. Não acredita nela. E, por isso, não vê nenhuma necessidade em
realizá-la.”
O docente contesta os números divulgados pelo
Executivo de famílias assentadas no país. “É infinitamente menor. O governo
infla os números. A maioria não é referente à reforma agrária, mas de
regularização fundiária.”
Dados oficiais apontam que durante os oito anos de
mandato, Lula assentou 624.993 famílias. Ariovaldo considera que na
contabilização da reforma agrária deve entrar apenas as desapropriações
realizadas em que novas famílias foram assentadas. Os números desmembrados pelo
docente revelam que, efetivamente, foram assentadas 151.968 famílias durante os
oito anos de governo do ex-presidente Lula.
“Não é que os números do Incra estejam errados, mas
o Instituto soma reforma agrária (assentamentos de novas famílias), com
regularização fundiária (titulação de terra), com reordenamento fundiário
(políticas públicas em assentamentos antigos). Se não bastasse, acrescenta
também as famílias atingidas por barragens que foram reassentadas. Por isso, os
números são elevados. Mas não correspondem a verdadeira reforma agrária”,
afirma Ariovaldo.
O assunto é polêmico mesmo entre acadêmicos.
Bernardo Mançano Fernandes, geógrafo e professor da Unesp (Universidade
Estadual de São Paulo Júlio de Mesquita Filho) de Presidente Prudente, contesta
a análise e considera que o governo realizou outro tipo de reforma agrária.
“Pode não ser a reforma agrária que o movimento queria, mas o governo fez a
reforma agrária. Só que foi a da regularização fundiária na Amazônia.” Ele
afirma que 70% da reforma agrária realizada pelo governo Lula foi baseada na
regularização fundiária.
Bernardo pondera, no entanto, que não houve nenhum
interesse dos governos Fernando Henrique e Lula e, atualmente, do governo Dilma
de promoverem grandes desapropriações. “O compromisso deles é com o modelo de
desenvolvimento capitalista, com o agronegócio. Não é para atender às
reivindicações dos movimentos”, destaca.
O presidente do Incra deixa claro que o governo não
pretende modificar a metodologia dos números da reforma agrária. “Não é uma
metodologia do governo Lula. O Incra usa há mais de 20 anos. Se soma os
assentamentos em terras públicas da União ou dos Estados, com assentamentos de
famílias em lotes vagos de antigos assentamentos, com assentamentos em terras
desapropriadas. Não existe fraude nos números. É uma questão de mera
contabilidade. Essa contabilidade é transparente. Os movimentos não aceitam
essa metodologia. Respeitamos, mas vamos continuar contabilizando dessa forma.”
Celso Lacerda ressalta que o grande mérito do
governo Lula foi o de ter investido na infraestrutura dos assentamentos. “O que
o Fernando Henrique fez em termos de distribuição de terra é muito similar ao
que o presidente Lula realizou. A grande diferença é que Lula investiu muito
mais em infraestrutura básica nos assentamentos. FHC distribuiu terra e parou
por aí.”
De acordo com o presidente do Incra, o governo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva investiu pesadamente no acesso à água
em assentamentos da região Nordeste e em energia elétrica e estradas, nos da
região Norte. Ele destaca que a regularização fundiária não pode ser
desconsiderada como uma política de reforma agrária, embora afirme que esses
números não entram no cálculo do Incra.
“As famílias assentadas em terras públicas da
Amazônia Legal são formadas por ribeirinhos e comunidades tradicionais que não
tinham segurança jurídica. Promover essa regularização não deixa de ser uma
política de assentamento.”
Latifundiários ganham
A regularização fundiária das terras públicas
promovida pelo governo na Amazônia Legal é duramente criticada pelo professor Ariovaldo.
Para o docente, essa regularização privilegiou basicamente os grileiros
latifundiários que atuam na região.
Ele destaca duas medidas provisórias editadas no
segundo mandato do presidente Lula: a 422, de 2008, e a 458, de 2009, como o
passaporte para a legalização da grilagem. “Essas duas medidas ferem a
Constituição. Tem ação no Supremo questionando a constitucionalidade”, adverte.
A Procuradoria Geral da República (PGR) entrou com uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal contra a medida
provisória 458.
Ao contrário do que considera o presidente do
Incra, o professor da USP afirma que 67,8 milhões de hectares que pertencem ao
Órgão na Amazônia Legal, região que compreende os Estados do Acre, Amapá,
Amazonas, Pará, de Rondônia e Roraima e parte dos Estados do Mato Grosso,
Tocantins e Maranhão, estão nas mãos de latifundiários grileiros.
A grilagem de terras é uma prática corriqueira no
país. Um dos exemplos mais emblemáticos é o da Cutrale, a maior empresa de suco
de laranja do mundo, que está instalada em uma fazenda que pertence à União, em
Iaras, na região de Bauru, interior do Estado de São Paulo.
“Antes de comprar a área, a Cutrale foi avisada de
que a terra pertencia à União. Mesmo assim fez a transação. O dono do cartório
de Lençóis Paulista pegou o título de uma área e registrou como se fosse da
Cutrale. A elite econômica acredita que as leis não serão cumpridas e aposta
nisso”, explica o professor da USP.
“A Cutrale sabe que está em uma terra pública”
frisa o presidente do Incra. O Órgão acionou a justiça para retirar a empresa
da área. “O juiz já reconheceu que as terras são da União. Mas o judiciário
acatou o argumento da Cutrale de que o Incra não era legítimo para mover a
ação. A interpretação é de que cabia a Advocacia Geral da União, a AGU, entrar
com a ação. E a AGU está entrando com a ação novamente.”
Celso Lacerda está confiante de que a Cutrale
perderá a ação movida pela União. “Pode levar mais alguns anos, mas vai perder.
No mérito, já perdeu. A Cutrale tem poderio econômico e vai se utilizar de
artifícios jurídicos para protelar a saída. Mas a empresa sabe que está
ocupando terras públicas federais.”
A grilagem de terras não acontece só de forma
direta. Há quem se beneficie dela indiretamente. É o caso da empreiteira
Norberto Odebrecht. “A Odebrecht compra cana de área grilada”, revela o
professor Bernardo Mançano. A construtora é dona da ETH, que atua na área de
produção de etanol no país.
O Incra move ações no país para a retomada de
terras públicas da União que ultrapassam 10 milhões de hectares. De acordo com
o presidente do Órgão, são todos grandes latifundiários. Celso não soube
informar, no entanto, quem são esses invasores e se tratam de pessoas jurídicas
ou físicas. “A maioria está no Centro- Oeste, no Mato Grosso, mas tem também no
Tocantins e no Pará. Conseguimos identificar 10 milhões de hectares, mas com
certeza tem muito mais terra.”
O processo de grilagem de terras é realizado de
várias formas. A de colocar um grilo na gaveta, com a documentação, para
envelhecer a papelada, está em desuso, embora ainda tenham grileiros que se
utilizam dessa técnica. “Não precisa mais colocar o grilo na gaveta. Agora é só
colocar no micro-ondas. Só não pode errar no tempo”, explica o docente da
Universidade de São Paulo.
Mas o cartório de registro de imóveis é peça
fundamental nessa engrenagem de desrespeito à lei. “Comprasse o título de um
posseiro com usucapião de 10 hectares, por exemplo, e no momento de lavrar a
escritura, se aumenta para 10 mil hectares. Isso está acontecendo bastante no
oeste da Bahia, mas ocorre no Brasil inteiro”, revela Ariovaldo.
Segundo o professor da USP, há no país mais de 300
milhões de hectares de terras devolutas, áreas que nunca foram tituladas. “O
latifundiário cercou, não tem documento, mas como ninguém pergunta se tem
documentação, ele vai ficando. Ninguém vai achar que é um grileiro. O Incra que
deveria perguntar. Não pergunta, porque o cadastro é declaratório.”
O professor Bernardo, da Unesp de Presidente
Prudente, ressalta que as terras públicas da região Sul e Sudeste estão nas
mãos do agronegócio. “O governo não quer enfrentar o agronegócio, porque o
agronegócio se apresenta como o modelo de desenvolvimento do país. E o governo
não quer ir contra esse desenvolvimento.”
Segundo ele, o governo não quer confrontar o
capital. “Se a Cutrale está em terras griladas, o governo vai fechar os olhos.”
Ainda de acordo com o professor da Unesp, cabe aos sem terra pressionar o
governo para a execução da reforma agrária. “Se o movimento pressiona e ocupa
terras, o governo negocia. O Lula e a Dilma têm essa característica.”
Ele acredita que a Cutrale deixará as terras da
União se o Movimento Sem Terra pressionar. “Se o movimento ocupar uma, duas,
três, quatro, cinco vezes. Ela sai. A Fazenda São Bento, no Pontal do
Paranapanema, foi ocupada 24 vezes. O fazendeiro dizia que não saía, mas saiu.
O Movimento não pode parar de ocupar”, enfatiza Bernardo.
A luta continua
As ocupações de terras pelos movimentos, em
particular pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, expoente da luta
no campo por reforma agrária, são analisadas de maneira antagônica pelos dois
professores.
Enquanto Bernardo acredita que houve um
esvaziamento das ações do MST em função da concessão do Bolsa Família, pelo
governo federal, para famílias carentes (base dos sem terra) e pelo crescimento
no nível de emprego, Ariovaldo Umbelino considera que o MST arriou a bandeira
das ocupações. “O número de ocupações de terra caiu brutalmente entre 2003 e
2010. Falo isso com base em estudos. Eles não lutam mais pela terra. O
Movimento deixou de fazer pressão política. A maioria das ações no Agosto
(Vermelho) foi de ocupações de órgãos públicos. Arriaram a bandeira. Isso não
significa abandono, pode reacender a luta novamente.”
Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, refuta a
afirmação de que o Movimento, que lidera, tenha arriado a bandeira da luta pela
reforma agrária. “Não é verdade que o MST arriou a bandeira. É simplismo
demais. Quem fala isso está longe da luta social. É fácil ser socialista
atuando em casa ou no escritório, com R$ 15 mil, R$ 20 mil. Difícil é ser um
lutador social. Não estou querendo justificar nada, mas as táticas não se
decidem em escritórios. Há momentos de maior e menor intensidade. Estamos
vivendo um período de menor intensidade. Mas isso não é para sempre. A luta
pela terra continua ativa e continuará até que se faça a reforma agrária”,
desabafa.
O dirigente sem terra considera que as mudanças na
economia brasileira contribuíram para uma redução no número de famílias que
buscam terra. “O acesso ao emprego aumentou. As políticas compensatórias (Bolsa
Família) também. Mas não é verdade que as ocupações diminuíram. Mantemos o
mesmo nível do governo Fernando Henrique, 60 mil famílias acampadas em todo o
país.”
“Eu analiso o número de ocupações de terra e o
número de novas famílias acampadas. O número de novas famílias demonstra se tem
ou não trabalho político para trazer gente nova para os acampamentos. E não
tem. Hoje são os posseiros que fazem a luta”, devolve Ariovaldo.
Mas as divergências entre líder sem terra e
professor param por aí. Ambos consideram que as ocupações são fundamentais para
pressionar a reforma agrária a sair do papel. Ariovaldo não concorda que seja
só falta de vontade política da presidente Dilma, para se fazer a reforma
agrária, mas uma opção política de governo. Segundo dados repassados pelo
Incra, o órgão assentou este ano até outubro, 6.072 famílias.
Gilmar Mauro critica o orçamento da União enviado
pela presidente Dilma ao Congresso. “Destina 47,8% para pagamento de juros e
serviços da dívida, 3,5% para educação, 3,9% para saúde e 0,22% para a reforma
agrária. O que prova que a reforma agrária não é uma prioridade em nosso país.”
“A reforma agrária não faz parte da pauta do governo
Dilma, não faz parte da política do PT”, critica o professor Bernardo, que
coordena há 13 anos na Unesp, o DataLuta, um banco de dados na sobre estrutura
fundiária e ocupações.
“Se fosse só o agronegócio barrando a reforma
agrária, estava bom. O problema é que eles (membros do governo) não acreditam
na reforma agrária. Foram formados em um tipo de concepção de desenvolvimento
do capitalismo de que quanto maior o tipo de atividade agrícola, melhor”,
cutuca Ariovaldo.
Mas não é só o governo federal que não prioriza a
reforma agrária. O Instituto de Terras do Estado de São Paulo, o Itesp, órgão
do governo estadual assentou, este ano, 27 famílias no Estado. Entre 2007 e
2010, os números também são pífios. Nos quatro anos foram assentadas 258
famílias. A assessoria de imprensa do Itesp informa que há aproximadamente
3.200 famílias sem terra acampadas no Estado. A maior parte delas distribuídas
nas regiões Oeste (1.198) e Noroeste (1.282).
Crise mobiliza
O Incra reconhece que há entre 180 mil e 190 mil
famílias acampadas em todo o país. De acordo com o presidente do órgão, Celso
Lacerda, esses números podem crescer rapidamente se alguma crise atingir o
país.
“Depende do cenário econômico. Se a crise
internacional chegar ao país, o nível de emprego cai e os primeiros
desempregados são os mais pobres. Essas pessoas certamente vão engrossar os
acampamentos sem terra.” O professor Bernardo reforça a tese. “Se tivermos uma
crise, aumenta o número de ocupações e de famílias acampadas.”
O volume de dinheiro necessário para se promover a
reforma agrária é levantado por Celso como um grande entrave. “Como o preceito
constitucional determina que tem de se pagar o justo valor de mercado, não tem
dinheiro que chegue. Vamos ter de conviver com a política de reforma agrária
como vem sendo feita.”
Entre os maiores latifundiários do país estão dois
bancos, o do Brasil e o Bradesco. Estudo do professor Ariovaldo Umbelino, com
base em dados do Incra de 2003, identifica na mão de quem estão os sete maiores
latifúndios do país.
Em primeiro lugar aparece o empreendimento de
Moacyr Eloy Crocetta Batista Cia Ltda, com 246.467 mil hectares, localizados na
Boca do Acre, no Amazonas. Na segunda colocação está a Panacre, com 195.309 mil
hectares, em Tarauacá, no Acre. Fechando o pódium, em terceiro lugar, aparece
Jonas Akila Morioka, com 175.142 mil, em Portel, no Pará. Na quarta posição
surge o Banco do Brasil, com 164.974 mil hectares espalhados por vários Estados
brasileiros. A Magesa ocupa a quinta posição com 132.878 hectares, localizados
em vários municípios do Pará. Na sexta colocação, outro banco. O Bradesco é
dono de 131.347 mil hectares de terras espalhadas em vários Estados da
federação. Fechando o ranking dos maiores latifúndios aparece a Cia
Melhoramentos do Oeste da Bahia com 121.411 mil hectares de terras localizadas
em Formosa do Rio Preto, na Bahia.
“A legislação brasileira permite que uma só pessoa
seja dona do país inteiro. Não há limite para a propriedade no Brasil. Os
ruralistas conseguiram derrubar, na Constituição de 1988, os limites fixados no
Estatuto da Terra, da ditadura militar, que já eram enormes”, ressalta o
professor Ariovaldo. Ele destaca que existem no país 196 imóveis com mais de
100 mil hectares. Uma propriedade é considerada grande, acima de dois mil
hectares. Esses 196 imóveis correspondem a 11,6% da área total cadastrada pelo
Incra.
Outro problema a ser enfrentado, de acordo com o
docente da USP, é a burocracia da legislação para se provar que a propriedade é
improdutiva. Para ter a terra considerada produtiva, o latifundiário precisa
demonstrar que produz, além de respeitar as legislações trabalhista e
ambiental. Isso em tese, porque na prática a história é outra.
Ariovaldo afirma que até hoje apenas uma única
fazenda foi desapropriada no país por manter trabalhadores em condições
análogas a de escravos. “Foi em Marabá (no Pará). Tive o prazer de orientar o
mestrado sobre essa fazenda, que hoje é um assentamento do MST.”
O respeito ao meio ambiente também é letra morta
entre latifundiários. “A alteração no Código Florestal é a clara demonstração
de que os ruralistas não respeitam a legislação ambiental e querem mudar a lei
para não serem punidos”, conclui o docente.
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