PELA DEMOCRACIA NO
PSOL
O partido ameaçado
O partido ameaçado
Este texto se dirige
a todos os militantes do PSOL, para que se coloquem em defesa da democracia
interna no partido; em São Paulo, uma série de questões muito graves a atacam.
Está programada para março uma lícita disputa democrática para a eleição do
candidato a prefeito da cidade, que está sob constante ataque pelas tentativas
de gerar confusão e violar a autonomia municipal e desrespeitando a soberania da
maioria dos militantes e filiados.
Já se sabe no PSOL
que os militantes e filiados da cidade de SP elegeram por ampla maioria uma nova
direção, que não se alinha com a corrente do presidente do partido e
pré-candidato a prefeito Ivan Valente. Mas a direção estadual da APS (que
defende a candidatura de Ivan) convocou uma reunião do Diretório Estadual às
pressas no último dia 15, à noite, no meio da semana, sem a convocação devida e
desrespeitando propositalmente o apelo de parte expressiva de militantes
Diretório Estadual da capital e do interior que estariam impossibilitados da
participação e decisão naquele espaço. Nessa reunião, em que a corrente APS
tinha uma maioria simples e circunstancial, de apenas um voto, foram tomadas
decisões arbitrariamente, contrariando as deliberações do Diretório Municipal. É
válido de nota que nesta reunião as correntes CSOL, SR e TLS se opuseram a votar
este recurso na reunião enquanto os vários outros membros do diretório e de
correntes que se opunham à manobra não puderam comparecer.
O fato mais grave é que a Estadual pretende impor uma lista de filiados que
cresceu no último minuto, depois do Congresso Municipal onde a chapa da APS foi
minoria e mesmo contrariando a própria deliberação congressual que construíram.
O Diretório Municipal respondeu ponto a ponto às falsas acusações dos textos
assinados por cinco membros desse Diretório e às arbitrariedades da maioria
circunstancial do Diretório Estadual. (Ver as notas publicadas pelo Diretório
Municipal)
No presente texto
queremos nos dirigir a todos os militantes sobre o problema que essa situação
representa ao partido como um todo. Isso porque esses métodos, que por si só
seriam graves em qualquer situação, em São Paulo estão sendo dirigidos e
executados pelo presidente nacional do partido e pela direção estadual da APS.
Aqui não se trata somente de uma disputa para saber quem é o melhor candidato.
Nem tampouco uma luta interna entre APS de um lado e o mandato de Giannazzi e
MES do outro. Por trás disso está em discussão a democracia e a autonomia das
decisões dos Diretórios Municipais; está em discussão se a base partidária é
respeitada ou se, ao contrário, o presidente e sua corrente podem tomar decisões
por cima dela. Trata-se de um problema que fere o partido como um todo, a seus
organismos a todas suas correntes. É um problema muito mais global do partido
para rejeitar os métodos e a política da direção da APS São Paulo diretamente
orientada por Ivan. O presidente do partido deve ser um representante de todo o
partido e não legislar em seu próprio interesse. Sugerimos uma reflexão sobre o
assunto, para que não mais sejam utilizados métodos autoritários com o objetivo
de impor a sua candidatura a prefeito.
Apelamos ao partido, para que as decisões da base e de seus organismos sejam
respeitadas. Para que um organismo estadual não atropele o municipal, e este,
assim, possa organizar as prévias eleitorais que lhe competem enquanto
organismo. Seria um precedente grave para todo o partido se este método fosse
aceito, porque significaria a imposição de um método autocrático através do qual
um presidente e a direção estadual de uma corrente podem decidir tudo, mesmo
quando estiverem em minoria.
O autoritarismo começou em abril de
2011
*Uma luta para que as filiações do mandato de Giannazi
fossem aceitas. Dentro da data de
apresentação das filiações que seriam registradas no TER o mandato de Giannazi
apresentou aproximadamente 900 novos filiados. Como logo veríamos, eram
filiações que estavam intimamente vinculadas ao trabalho de base que o mandato
havia desenvolvido, fruto de mais de dez anos de sua atividade parlamentar
intimamente vinculada aos movimentos sociais. Não tinham, em nenhuma medida, o
caráter de filiações de massas de manobra; tratavam-se de filiados interessados
na construção do partido. Prova disso é que uma grande quantidade destes
filiados participou das plenárias e participam de núcleos organizados, como logo
veremos.
Quando as fichas foram apresentadas, Miguel Carvalho, então presidente do
Diretório de São Paulo, convocou uma reunião de urgência da Executiva Estadual
para rejeitar as fichas (tanto as do mandato do Giannazi como as do Pai
Guimarães, líder religioso filiado ao partido pelo próprio mandato do Ivan
Valente e que se afastou de sua influência política posteriormente) com o
simples argumento de que eram muitas, e que dessa maneira as correlações de
força do partido seriam alteradas. Todas as filiações foram interrompidas, para
que não se realizassem dentro do prazo legal de registro do TRE. A aceitação das
filiações do mandato de Giannazi teve de ser decidido em uma crítica reunião do
Diretório Nacional onde, até o último minuto, os membros da APS de São Paulo
continuaram se opondo.
*Durante meses as filiações não foram apresentadas ao
partido. Depois desse primeiro e grave
incidente a Executiva Estadual, dirigida pela APS, não apresentou sua listagem.
Durante meses não se sabia quais das filiações tinham sido aprovadas no TER e
quais estavam suspensas, o que objetivamente prejudicava as corrente que não
faziam parte do aparato da APS, em particular, à Giannazi. Durante meses foram
guardadas a sete chaves, violando o direito estatutário de que as filiações do
partido podem ser conhecidas por qualquer filiado. Ademais, estavam nas mãos da
Executiva Estadual, já que a cidade de São Paulo não tinha direção constituída,
por culpa da maioria da direção. Só se teve acesso às mesmas muito depois que a
Executiva Nacional do partido deu um prazo para sua apresentação.
*O autoritarismo continua no Congresso Municipal.
O triunfo, por maioria absoluta, da
chapa do mandato de Giannazi e do MES foi muito mais do que uma mera maioria
acidental. Foi um processo objetivo de participação nas plenárias de 470
filiados, dos quais falaremos em breve. Logicamente, esse debate pré-congressual
foi atravessado pelo debate sobre quem seria o candidato a prefeito pelo nosso
partido. Nossa chapa, além de apresentar uma política nacional, estadual e
municipal, pautou em todas as plenárias a importância de termos uma candidatura
municipal, impulsionando a de Giannazi.
A candidatura de Giannazi já era nesses espaços um fato objetivo. Como
conseqüência do trabalho realizado pelo mandato importantes setores de filiados,
inseridos em organizações sociais de professores, servidores públicos,
advogados, trabalhadores do Judiciário, da cultura, LGBT e outros apoiavam sua
candidatura. Nessa data já era sabido que Ivan seria candidato. Ele tinha dado
declarações à imprensa nesse sentido. Nas plenárias o tema apareceu por esses
fatores da realidade. Entretanto, Ivan fez a discussão de maneira negativa,
atacando a pré-candidatura de Giannazi e seu perfil, sem antes apresentar-se
como pré-candidato. Se, formalmente, esse era seu direito, seu silêncio quando o
tema foi colocado nas quatro plenárias municipais criou diversas suspeitas de
que se tratava de um cálculo pragmático para evitar sua exposição diante da base
do partido, ao perceber que naqueles espaços sua candidatura era vontade de uma
minoria.
Durante a realização
do Congresso Municipal havia três pré-candidatos que já eram objetivamente
reconhecidos pela base, de uma maneira ou de outra. Note-se também que o
problema da eleição de um candidato para as eleições municipais no PSOL já conta
com um amplo debate programático e político acumulado inclusive de outros
processos eleitorais. Não por acaso nesse mesmo congresso foi votado um texto
político comum. Tampouco estava em discussão a política de alianças, já que é
consenso que não havia – nem há – outra possibilidade de aliança para fora da
Frente de Esquerda. O que mais estava e ainda está em discussão para a eleição
do pré-candidato para a cidade é seu perfil e suas propostas mais específicas,
que logicamente se enquadrem na política nacional do partido.
Nossa chapa procurou
garantir que no congresso fosse feita a apresentação dos pré-candidatos e suas
propostas para poder aferir as candidaturas pelos delegados presentes. Em um
partido socialista e libertário, que usa métodos muito diferentes dos partidos
burgueses, era uma obrigação de quem pretende ser candidato expor a sua
candidatura diante dos delegados reunidos, sem que isso significasse a supressão
da conferencia eleitoral. Mas ao estilo da velha política, negaram-se a fazê-lo,
chegando até a fazer ameaças de ruptura com o Congresso. Diante dessa situação
nossa chapa procurou de todas as maneiras, uma saída consensual – abrindo mão de
exercer sua soberania no tema – para encaminhar a regulamentação das prévias do
partido. Foi assim que se construiu não só um consenso entre as chapas presentes
(CSOL, Enlace, SR, Mandato Giannazzi - MES), mas também um memorando de
regulamentação acordado entre todas as chapas e redigido pelos companheiros da
direção da APS. Mas surpreendentemente, antes da votação consensual, os
companheiros da APS criaram uma crise e se retiraram do congresso, rompendo com
o próprio acordo que haviam pactuado.
Revendo a situação,
essa atitude não foi uma atitude extemporânea, produto do clima do debate; ao
contrário, se tratava de uma mensagem política que já dizia que o organismo
municipal não era soberano, e que desde aquele momento seria cada vez mais
violado pela direção estadual da APS, como realmente ocorreu.
O congresso estadual
realizado duas semanas depois foi palco de uma nova crise, agora provocada pela
mesa do congresso, que estava composta majoritariamente por membros da APS e que
tentou encaminhar de maneira pouco clara uma resolução cujo único objetivo era a
regulamentação das prévias em São Paulo, por cima do Diretório Municipal. Essa
votação provocou uma enérgica oposição de Raul Marcelo, da nossa chapa, da Rosa
do Povo, do CSOL e da CST, mas mesmo assim foi imposta pelo peso do aparato em
meio a gritos e ameaças. Esta resolução abria as portas para que fosse feita uma
nova campanha de filiações em massa: pretendia-se fazer uma nova campanha de
filiação em massa sem data limite, com o objetivo de alterar a nova e legítima
maioria conquistada.
Finalmente o
Congresso Nacional, sem nenhum debate prévio nem na mesma plenária e sem nenhuma
discussão com as correntes e chapas presentes no Congresso, votou uma resolução
que também contou com uma importante quantidade de votos contra e abstenções.
Apesar deste método inadequado e das massivas filiações que a APS fez contando
com sua regulamentação, é dentro dos marcos desta resolução que o Diretório
Municipal de São Paulo está regulamentando as prévias.
A gravidade do problema – o que está em discussão em
nosso município
Nesta polêmica o que está em jogo no partido é muito mais do que a decisão de
quem será o candidato em SP. Está em discussão o regime do nosso partido e o seu
funcionamento. Está em discussão se uma fração pode violar os organismos
partidários de base com o objetivo de impor seu candidato; se quem dirige as
questões municipais – neste caso da candidatura – são os militantes organizados
e filiados deste município ou o aparato partidário; se uma maioria da direção
estadual – quando está em minoria na base do partido – pode intervir em uma
regional legitimamente constituída.
O partido em SP está legitimamente organizado pelo voto
de seus filiados e militantes
O debate democrático
do pré-congressual reuniu uma grande quantidade de representações sociais;
trabalhadores previdenciários, metroviários, trabalhadores da saúde,
professores, o movimento estudantil, representantes dos bairros populares. Um
congresso no qual todas as chapas apresentadas tiveram sua legítima
representação. De forma mais palpável no congresso, mas mesmo antes disso, se
notou uma mudança positiva da atividade municipal e da organização do partido
nessa instância.
Muitos núcleos estão
se reunindo, e eles agrupam dezenas de filiados. Para mencionar apenas alguns
deles podemos falar dos núcleos de Grajaú, Vargem Grande, Cocaia, Jardim
Primavera, Vila Santa Catarina, Guaianazes, Jardim Ângela, Butantã, Parada
Inglesa, lapa, Pinheiros/Vila Madalena, USP Humanas, USP Exatas e Biológicas,
Educação Popular, PUC, Previdência e outros. Tem que ser destacado também que
começou um positivo processo de crescimento e de aproximação nas forças
psolistas da juventude, com destaque para a atividade unitária na USP, (chapa
conjunta para o DCE contra as chapas da direita e do PT, processo que
infelizmente a juventude de APS não participa preferindo romper a unidade da
esquerda para concorrer dentro da chapa que defende o governo).
Nosso estatuto é
claro ao afirmar que nosso partido é composto por filiados e militantes e, ao
mesmo tempo, ao afirmar que as decisões de seus organismos de base, de seus
núcleos e seus Diretórios Municipais, e mais ainda quando se trata das questões
municipais. Mesmo que esta organização do partido exista há, lamentavelmente,
uma deformação, porque na prática em nosso partido existe uma prática que faz
com que um grande número de filiados e militantes só se reúna uma vez a cada
dois anos para votar seus candidatos. Como apontamos mais acima, São Paulo tenta
se organizar sobre bases mais genuínas, e este processo está sendo atropelado.
Por isso dizemos que o futuro do partido está em jogo. O que vem acontecendo é a
utilização do aparato para tentativas de modificação de uma correlação de forças
genuinamente construída e aí se atropelam os organismos de base. O partido já
está sofrendo, e por isso é necessário reverter essa situação, da melhor maneira
possível. Nem o PT fez intervenções dessa ordem quando era um partido
independente e progressista. Recordemos que a primeira intervenção aconteceu em
1998, no Rio de Janeiro, quando se anulou a candidatura de Vladimir Palmeira, e
nesse momento já havia sido iniciado o processo de degeneração do
partido.
Chamamos todos os
dirigentes e militantes a apoiar o município de São Paulo, para que também
avancemos até um regime de funcionamento mais saudável. O partido é um organismo
vivo, que se modifica e que não tem dono, não tem quem o distancie do socialismo
com liberdade que defendemos, especialmente agora que os ventos da democracia
real sopram forte em todo o mundo.
São Paulo 22/02/2012
Carlos Giannazi – Deputado Estadual PSOL São
Paulo
Maurício Costa – Presidente do Diretório Municipal do
PSOL São Paulo
Pedro Fuentes – Executiva Nacional PSOL
Antônio Ormundo – Executiva Municipal PSOL São
Paulo
Marcelo Sampaio – Executiva Municipal PSOL São
Paulo
Eliseu Rosendo Nuñez – Executiva Municipal PSOL São
Paulo
Mariana Riscali – Executiva Municipal PSOL São
Paulo
Bruno Magalhães – Executiva Municipal PSOL São
Paulo
Luiz Ferreira – Diretório Municipal PSOL São
Paulo
Alex da Mata – Secretário Geral do PSOL Estadual São
Paulo
Nathalie Drumond – Executiva Estadual PSOL São
Paulo
Rubens Carsoni – Executiva Estadual PSOL São
Paulo
Douglas Ratts – Executiva Estadual PSOL São
Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo comentário.