Quem é o dono da bola?
Mais de 100 mil tuites colocaram a hashtag #ForaRicardoTexeira nos Trending Topics mundiais do Twitter na última semana. Nesse mesmo período aconteceram dois atos, nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, prováveis palcos da abetura e final da Copa de 2014, nos quais diversos setores sociais reivindicaram a saída de Ricardo Teixeira da presidência da CBF e o respeito aos direitos humanos e às leis brasileiras na preparação do Brasil para a Copa 2014.
É provável que um dos principais desencadeadores deste processo seja uma entrevista dada por Teixeira à revista Piaui, na qual ele fala dos jogos de poder envolvendo o futebol e trata com desdém os diversos escândalos de corrupção com os quais já esteve envolvido. Mas, esta reportagem foi só a gota d’água da indgnação gerada pelo processo monárquico no qual a CBF é gerida, pelos escândalos de corrupção que marcaram sua presidência na entidade e pelos desmandos e desrespeitos que estão caracterizando a preparação do Brasil para a Copa do mundo 2014.
Ricardo Texeira está na presidência da CBF desde o dia 16 de janeiro de 1989, cadeira que já foi ocupada também pelo seu ex-sogro, João Havelange, entre 1958 até 1975, também presidente da FIFA na entre 1974 e 1998. Sua gestão à frente da principal entidade do futebol brasileiro é conhecida não só por denúncias de nepotismo no preenchimento dos cargos da CBF – atualmente sua filha ocupa o cargo de diretora executiva do COL (Comite Organizador Local da Copa do Mundo no Brasil) – como também por escândalos de corrupção e contratos lesivos ao futebol brasileiro, em especial com a Nike e a Traffic que geraram prejuízos para entidade durante 4 anos. Dois aspectos desta gestão que são importantes para entender a manutenção do Ricardo Texeira enquanto presidente da entidade, apesar dos problemas, são: a articulação de um esquema de poder envolvendo o legislativo brasileiro que ficou conhecido como a bancada da bola e sua íntima relação com a Rede Globo de Televisão.
A bancada da bola é um grupo de paralamentares que, a critério de Ricardo Texeira, recebem apoio, inclusive financeiro, da entidade para suas candidaturas. Esta bancada ficou conhecida por garantir que a CPI investigando o contrato da Nike e também a CPI do Futebol não resultassem em condenações e também para evitar a instalação da CPI Corinthans/ MSI.
Já a relação Ricardo Teixeira/Rede Globo é amplamente conhecida e polêmica no futebol brasileiro. Esta relação garante privilégios para a emissora na transmissão dos jogos do Brasil, coberturas jornalísticas e contratos e em troca garante a blidagem da figura de Ricardo Teixeira pois, segundo ele “Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional”. Este acordo foi desfeito uma única vez, quando foi transmitida uma edição do Globo Repórter, durante a CPI da Nike, que sustentava que o patrimônio dele era incompativel com seus rendimentos. Como resposta, a CBF anunciou o amistoso da seleção brasileira no horário nobre da Globo que amargou um prejuizo enorme e não fez mais reportagens de denúncia a Teixeira.
Outro exemplo de como esta relação funciona foi a recente problemática referente a transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro envolvendo o Clube dos 13, na qual a CBF apoiou a Globo em negociações individuais com os clubes após a Record oferecer 1 bilhão de reais para a transmissão os jogos do Campeonato. O último exemplo foi ao ar no último sábado: a cerimônia Global do sorteio das eliminatórias da Copa 2014 foi organizada pela Geo Eventos, empresa de eventos das Organizações Globo e do Grupo RBS, que recebeu para realizar este trabalho em torno de R$30 milhões dos cofres públicos do Rio de Janeiro.
Além de protagonista dos escândalos do futebol nacional, Ricardo Teixeira é acusado de participar de esquemas de corrupção também no futebol internacional. O último surgiu quando o presidente da Associação Inglesa de Futebol, David Triesman, o acusou de pedir propina em troca de voto na candidatura inglesa para sediar a Copa de 2018. O presidente da CBF também foi acusado de receber suborno da empresa International Sports and Leisure (ISL) para dar-lhe o controle da transmissão das Copas.
Todo este esquema comandado por ele tende a se intensificar com os preparativos para a Copa do Mundo. Esta já é a edição mais cara do evento, mesmo quando somadas as últimas três (enquanto a edição brasileira custará US$ 40 bi as três últimas edições somadas custaram US$30 bi). No entanto, a CBF anunciou lucro recorde em 2010 e em menos de dois anos teve um aumento de lucro de 159%. Tanto a Fifa quanto o COI já anunciaram lucros recordes em seus eventos em território brasileiro.
Como se não bastasse, a conta de uma das edições mais caras da Copa do Mundo está sendo paga pela população brasileira. As arenas que, segundo o Governo Federal, seriam construídas com dinheiro privado têm mais de 60% de seus investimentos oriundos dos cofres públicos; além disso, já foi anunciada a “privatização” de pelo menos três aeroportos. Mas os custos desta Copa ainda devem aumentar muito, uma vez que foi a aprovado o Regime Diferenciado de Contratação, que ficou conhecido como a lei das licitações que permite um aumento ilimitado no valor das obras já licitadas, entre outras coisas. Outra lei que está para ser aprovada é a Lei Geral da Copa, cuja minuta foi escrita pelo ex-presidente da UNE e atual Ministro dos Esportes, Orlando Silva e que pelo pouco que se sabe deve alterar o direito estudantil à meia entrada para o evento.
Os brasileiros não estão pagando a Copa só com seus impostos. A Copa 2014 já está caracterizada também pela violação do direito humano à moradia adequada. Estima-se que mais de 65 mil famílias serão removidas por conta das obras dos mega eventos esportivos no Brasil. Segundo a Relatora da ONU, Raquel Rolnik, estas remoções são marcadas por processos de pouco ou nenhum diálogo, pela falta de transparência e de negociação justa. Tanto a CBF, como o governo brasileiro foram procurados para debater a questão, mas nenhum dos dois respondeu.
Com referência à Copa 2014, Ricardo Teixeira deu a seguinte declaração à Revista Piaui “Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Porque eu saio em 2015. E aí, acabou”.
Acabou? Será que teremos que esperar até 2015 para ver Ricardo Teixeira fora do futebol brasileiro? Como foi dito, o povo brasileiro está cada vez mais cansado dessas falcatruas e começa a se mobilizar para que a farra dos grandes esquemas de corrupção do futebol brasileiro acabe antes de 2014. Temos que participar desse processo e lutar JUNTOS! com os movimentos sociais e sindicatos para que o futebol seja de fato um esporte do povo!
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